domingo, 31 de maio de 2020

LIMA DE FREITAS – Pablo Picasso (VI)



LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor

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Lima de Freitas é considerado um “Artista Total”, com um importante percurso criativo e humanista na cultura portuguesa contemporânea: pintor, ilustrador, ensaísta e brilhante investigador. Foi membro fundador da CIRET em Paris, a partir de 1992 da Comissão Consultiva junto da UNESCO para a transciplinaridade.
É autor de ensaios e livros sobre temas de semiótica visual, estética e simbologia, bem como de inúmeros escritos sobre arte.

Fonte: “Centro Português de Serigrafia” (excerto)

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PABLO PICASSO (VI)
(continuação)

O único acontecimento vindo de fora que iria ter uma importância crucial na obra de Pablo Picasso foi a guerra civil, que serviu como que de amplificador para o seu conflito perpétuo: forçar temas inadequados a exprimir uma enorme violência de instinto e de emoção. 

Com «Guernica» (e a grande série de quadros e desenhos da mesma época) a angustiante questão – que pintar? – não encontrou, talvez, a solução inédita que manifestaria um novo nível de consciência; mas atinge, pela violência inaudita da dor física, da agressão, uma intensidade dramática e fascinante. O cubismo permitiu a Picasso, simultaneamente, articular e desarticular o seu grito.

(continua) 

in ”Voz Visível” – Ensaios - 1971





sábado, 30 de maio de 2020

SOU VARINA, SOU VARINA




SOU VARINA, SOU VARINA

Sou varina, sou varina
Oh, ai!
Sou varina, sou de Ovar;
Se eu sou varina ou não
Oh, ai!
Reparem no meu trajar.

Reparem no meu trajar
Oh, ai!
Raparem pr’á canastrinha;
A andar de porta em porta:
Oh, ai!
Quem compra a bela sardinha?

Quem compra a bela sardinha?
Oh, ai!
Quem compra a bela pescada?
A vida de uma marina,
Oh, ai!
É ‘ma vida amargurada.



Quadras recolhidas por José Leite de Vasconcelos, filólogo, etnógrafo (Portugal, 1858 – 1941).
Imagem: pintura de Eduardo Malta, pintor (Covilhã, Portugal, 1900 – Óbidos, 1967)

sexta-feira, 29 de maio de 2020

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA - Soneto



CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
(Minas Gerais, Brasil, 1729 - 1789)
Poeta

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Em 1749, aos vinte anos de idade, seguiu para Lisboa e daí para Coimbra, em cuja Universidade se formou em Cânones, em 1753. Ali publicou, em opúsculos, pelo menos três poemas, Munúsculo métrico, Labirinto de amor e o Epicédio. Nesses livros, a marca poética do Barroco seiscentista é evidente, nos cultismos, conceptismos e formalismos característicos daquele estilo. Regressou ao Brasil em 1759.


Fonte: “Academia Brasileira de Letras” (excerto)

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SONETO

Estes os olhos são da minha amada,
Que belos, que gentis e que formosos!
Não são para os mortais tão preciosos
Os doces frutos da estação dourada.

Por eles a alegria derramada
Tornam-se os campos de, prazer gostosos.
Em zéfiros suaves e mimosos
Toda esta região se vê banhada.

Vinde olhos belos, vinde, e enfim trazendo
Do rosto do meu bem as prendas belas,
Dai alívio ao mal que estou gemendo.


Mas ah! delírio meu que me atropelas!
Os olhos que eu cuidei que estava vendo,
Eram (quem crera tal!) duas estrelas.






quinta-feira, 28 de maio de 2020

SANT'ANNA DIONÍSIO - Filósofo



SANT'ANNA DIONÍSIO
(Porto, Portugal, 1902 - 1991)
Escritor, professor, filósofo

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Em 1924, licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, dois anos mais tarde, licenciou-se também em Filosofia.

Ao lado de José Marinho (1904-1975), foi um dos maiores discípulos de Leonardo Coimbra (1883-1936).

Sant’Anna Dionísio é um autor que escreve sobre muitos assuntos, é um pensador que medita sobre muitos saberes. A sua obra maior reflecte acerca da filosofia, da política, da pedagogia e das culturas grega e portuguesa.

Poder-se-á verificar que, ao mesmo tempo que alude à relevância que a cultura helénica e grega tem para a cultura e a educação em Portugal, refere de igual modo que a Filosofia é uma propedêutica e uma maiêutica, ou seja, que é a base de toda a educação.

Um dos sonhos que acompanha Sant’Anna Dionísio por toda a sua vida e obra é a criação de uma universidade livre, isenta de quaisquer objectivos práticos. Tal escola superior seria aberta a todos quantos tivessem a ânsia de um saber desinteressado de diplomas, exames ou vaidades. No fundo, o escopo do autor portuense é fundar uma escola de humanidades ou, como ele próprio escreve, uma “humaníssima escola” onde aqueles que quisessem aprender e ensinar, independentemente de serem lojistas, guarda-livros, burocratas, auto-didactas ou burgueses, teriam um lugar privilegiado.

Tão-só porque os professores ou os mestres não seriam doutores mas simples almas acordadas, prontas e discretas ao serviço de interrogar e esclarecer os mais curiosos.

Sant’Anna não é, apenas, um professor e um pedagogo, um filósofo e um ensaísta, é também um metafísico, um homem atento às esferas extra-sensoriais.

Numa entrevista dada, poucos anos antes da sua morte, à revista Leonardo em Março de 1988, alertava para a importância a conceder ao sentido da Morte e para a atenção a ser dada aos anjos que, imperceptivelmente, habitam e contactam o nosso espaço.





in “Nova Águia” (excertos)





quarta-feira, 27 de maio de 2020

FILINTO ELÍSIO - Estende o manto, estende, ó noite escura



FILINTO ELÍSIO
(Lisboa, Portugal, 1734 – Paris, França, 1819)
Poeta, tradutor

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Fugido da Inquisição, aportou a França em 1778. Fez traduções e compôs odes, epístolas, epigramas, sátiras, etc. Poeta árcade pelo formalismo, é já pré-romântico pelo conteúdo das suas composições. O seu maior mérito é o da linguagem, pois segundo Almeida Garrett «nenhum poeta, desde Camões, havia feito tantos serviços à língua portuguesa». As suas Obras Completas, 1817-1819, abrangem 11 volumes.


in “Grande Livro dos Portugueses”

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   ESTENDE O MANTO, ESTENDE, Ó NOITE ESCURA

Estende o manto, estende, ó noite escura,
Enluta de horror feio o alegre prado;
Molda-o bem c’o pesar dum desgraçado
A quem nem feições lembram da ventura.

Nubla as estrelas, céu, que esta amargura
em que se agora ceva o meu cuidado,
gostará de ver tudo assim trajado
da negra cor da minha desventura.

Ronquem roucos trovões, rasguem-se os ares,
rebente o mar em vão n’ocos rochedos,
solte-se o céu em grossas lanças de água.

Consolar-me só podem já pesares;
quero nutrir-me de arriscados medos,
quero sacia de mágoa a minha mágoa!

terça-feira, 26 de maio de 2020

MIKHAIL BARYSHNIKOV - Dançarino



MIKHAIL BARYSHNIKOV
(Riga, Letónia, União Soviética, 1948)
Bailarino, coreógrafo

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É considerado um dos maiores dançarinos do nosso tempo. Depois de iniciar uma carreira espectacular no Kirov Ballet em Leningrado viajou, em 1974, até Nova York, onde vive actualmente. Ingressou como dançarino principal do American Ballet Theatre (ABT).  

Em 1978, entrou no New York City Ballet, onde trabalhou com George Balanchine e Jerome Robbins. 
Um ano depois, foi nomeado director artístico da ABT, onde, na década seguinte, introduziu uma nova geração de dançarinos e coreógrafos.  

Em 2005, lançou o Baryshnikov Arts Center (BAC) na cidade de Nova York, um espaço criativo projectado para apoiar artistas multidisciplinares de todo o mundo.  Sob sua liderança como fundador e director artístico, os programas do BAC atendem a mais de 700 artistas e 22.000 membros da audiência anualmente.  




Fonte: Baryshnikov Arts Center (excertos)




segunda-feira, 25 de maio de 2020

EDMUNDO BETTENCOURT - Ar Livre




EDMUNDO BETTENCOURT
(Funchal, Madeira, Portugal, 1899 - Lisboa, 1973)
Poeta, cantor

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Uma voz da modernidade na primeira década de oiro do fado/canção de Coimbra.

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AR LIVRE

Enquanto os elefantes pela floresta galopavam
no fumo do seu peso,
perto, lá andava ela nua a cavalgar o antílope,
com uma asa direita outra caída.
E a amazona seguia...
e deixava a boca no sumo das laranjas.
Os olhos verdes no mar.
O corpo em a nuvem das alturas
- a guardadora
da sempre nova faísca incendiária!




domingo, 24 de maio de 2020

LIMA DE FREITAS – Pablo Picasso (V)



LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor

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Lima de Freitas é considerado um “Artista Total”, com um importante percurso criativo e humanista na cultura portuguesa contemporânea: pintor, ilustrador, ensaísta e brilhante investigador. Foi membro fundador da CIRET em Paris, a partir de 1992 da Comissão Consultiva junto da UNESCO para a transciplinaridade.
É autor de ensaios e livros sobre temas de semiótica visual, estética e simbologia, bem como de inúmeros escritos sobre arte.

Fonte: “Centro Português de Serigrafia” (excerto)

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PABLO PICASSO (V)
(continuação)

Durante o período cubista, entre 1907 e 1914, ao integrar-se num grupo de artistas, escritores e poetas, animados de um fervoroso espírito de investigação, Picasso iria desmentir as ideias anteriormente expressas. 

Apollinaire, figura importante do grupo, anunciava uma arte verdadeiramente moderna, uma arte do novo século, a arte dos que «conscientemente lutam na fronteira do infinito e do futuro». Um tal ideal partilhado e a disciplina do cubismo quebraram, durante esses breves anos, o altivo isolamento do grande espanhol. 

Pela primeira e última vez Picasso deixou de ser um «invasor vertical»; a sua crítica transformou-se, temporariamente, numa proposta de cultura. Mas a primeira guerra mundial dispersou o grupo, desarticulou o movimento e a sua visão do futuro. Braque, Dérain, Léger, Apollinaire, partiram para a frente de batalha. Picasso regressou à sua qualidade de espanhol, de exilado, de «bárbaro» (embora impregnado de todos os requintes de uma civilização que lhe era exterior).

(continua)


in ”Voz Visível” – Ensaios - 1971





sábado, 23 de maio de 2020

DECAMERON




DECAMERON


Colectânea de histórias reunidas cerca de 1350 pelo escritor italiano BOCCACCIO. 

Os contos são apresentados como sendo narrados por dez pessoas jovens que deixam Florença em 1348 para escapar à epidemia de peste. Confinados juntos nas colinas sobranceiras à cidade, cada um conta uma história por dia para se divertirem. 

Estão dez dias a contar histórias, perfazendo um total de 100 contos, incluindo tanto comédias como tragédias. 

O Decameron, ou «Obra de Dez Dias», inspirou a literatura italiana durante os séculos seguintes.

Geoffrey Chaucer utilizou algumas das histórias de Boccaccio na obra OS CONTOS DE CANTUÁRIA.




in “Dicionário do Conhecimento Essencial”


sexta-feira, 22 de maio de 2020

DANTE ALIGHIERI – A toda a alma cativa e ao valor



DANTE ALIGHIERI
(Itália, 1265 – 1321)
Poeta

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A TODA A ALMA CATIVA E AO VALOR

A toda a alma cativa e ao valor

dos corações gentis digo o presente;
que seu parecer escrito fique assente
e em seu senhor saúdo-vos, pois é Amor.

Passavam já três horas sem rumor

do tempo que de estrelas é luzente
e eis me apareceu Amor subitamente
a quem recordo o aspecto com temor.

E alegre me parecia e segurava

Meu coração e ao colo lhe dormia
senhora que num véu se resguardava.

Do coração a arder, se despertava,

Receosa e dócil ela se nutria:
e vi depois que ao ir-se Amor chorava.



Tradução: Vasco Graça Moura


quinta-feira, 21 de maio de 2020

JAIME CORTESÃO – Canção Violeta



JAIME CORTESÃO
(Ançã, Cantanhede, Portugal, 1884 - Lisboa, 1960)
Escritor, historiador

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É uma das mais insignes figuras da cultura portuguesa de meados do século XX, a par de Raul Proença e de António Sérgio. Revelou-se um proeminente intelectual, político e homem de intervenção cívica, e um grande historiador, um personagem ímpar que deixou uma extensa obra, repartida entre a literatura, a poesia, o conto e o drama, e a história, portuguesa e brasileira.


in “Universidade do Porto"

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CANÇÃO VIOLETA

Amo o roxo. E vai que fazes?
A luz tamisas de malva
E roxa desponta a alva
Sobre a colcha de lilases.

Roxos alastram os razes.
E tu das-te nua e alva
Lírio roxo numa salva
Sobre a colcha de lilases.

Com suas pestanas pretas
As tuas pálpebras roxas
São duas grandes violetas.

E, por mais gosto da vida,
Depois que a lâmpada afrouxa,
Fez-se a alcova de ametista.





quarta-feira, 20 de maio de 2020

MARQUÊS DE SADE - Escritor



MARQUÊS DE SADE
(Paris, França, 1740 - Saint-Maurice, 1814)
Escritor

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A sua vida escandalosa e libertina levou-o a longos anos de cativeiro. Alheio a valores morais, descreveu nos seus romances um mundo patológico de anormalidades e perversões que originariam o termo sadismo.

Da sua obra, ignorada por muito tempo devido à censura, destacam-se: Justine; Aline et Valcour; La Philosophie du Boudoir, 120 dias de Sodoma e outros.

Há críticos que consideram o que escreveu como uma atitude revolucionária e anárquica contra a ordem estabelecida, mas no entanto Sade foi acusado de moderação durante o período e terror jacobino.





in ”Nova Enciclopédia”

terça-feira, 19 de maio de 2020

PHILIP LARKIN – Deixemo-nos agora, meu amor: mas não



PHILIP LARKIN
(Reino Unido, 1922 – 1985)
Poeta, romancista

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Em 1964, confirmou a reputação como um grande poeta com a publicação de The Whitsun Weddings, e novamente em 1974 com High Windows : colectâneas cuja sagacidade abrasadora, não esconde a visão sombria do poeta e a obsessão subjacente a temas universais de mortalidade, amor e solidão humana.


Fonte: “Academy of American Poets”


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DEIXEMO-NOS AGORA, MEU AMOR: MAS NÃO


Deixemo-nos agora, meu amor: mas não
seja amargo desastre. Houve no passado,
muito luar a mais e autocompaixão:
acabemos com isso: já como nunca é dado
agora ao sol audaz atravessar o céu
e nunca aos corações deram mais ganas
de serem livres contra mundos, florestas; eu
e tu não os detemos, nós somos as praganas
a ver o grão partir e é para outro uso.


E tem-se pena. Sempre se tem alguma.
Mas não demos às vidas laço escuso,
como barcos ao vento, de luz molhada a crista,
desferram do estuário e cada um lá ruma:
separam-se acenando e perdem-se de vista.




Tradução: Vasco Graça Moura






segunda-feira, 18 de maio de 2020

CRISTOVAM PAVIA - Ao meu cão



CRISTOVAM PAVIA
(Lisboa, Portugal, 1933 – 1968)
Poeta

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"A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz."


José Bento, poeta, em "Sobre a Poesia de Cristovam Pavia", in “Poesia de Cristovam Pavia”

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AO MEU CÃO

Deixei-te só, à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação
De tudo... e apesar disso, sem o pedir, tentando
Insinuar que eu ficasse perto,
Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.


Não percebi a evidência de que ias morrer
E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.
Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,
Que já tinhas perdoado tudo à vida
E começavas a debater-te na maior angústia, a debater-te com a morte.
E deixei-te só, à beira da agonia, tão aflito, tão só e sossegado.





domingo, 17 de maio de 2020

LIMA DE FREITAS – Pablo Picasso (IV)



LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor

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Lima de Freitas é considerado um “Artista Total”, com um importante percurso criativo e humanista na cultura portuguesa contemporânea: pintor, ilustrador, ensaísta e brilhante investigador. Foi membro fundador da CIRET em Paris, a partir de 1992 da Comissão Consultiva junto da UNESCO para a transciplinaridade.
É autor de ensaios e livros sobre temas de semiótica visual, estética e simbologia, bem como de inúmeros escritos sobre arte.

Fonte: “Centro Português de Serigrafia” (excerto)

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PABLO PICASSO (IV)
(continuação)

A crítica que Picasso fará da sociedade civilizada onde se integrou será, em grande medida, anarquista: um quadro, diz ele, é uma acumulação de sucessivas destruições. E ainda «As diversas maneiras que utilizei na minha arte não devem ser consideradas como uma evolução ou como passos em direcção a um ideal desconhecido de pintura. Tudo o que fiz foi sempre feito para o presente e na esperança de que ficará sempre no presente. Nunca tomei em consideração o espírito da investigação. (…) 

Motivos diferentes exigem inevitavelmente métodos diferentes de expressão. Isto não implica nem evolução nem progresso, mas sim a adaptação da ideia que se quer exprimir aos meios de exprimir essa ideia.»  

(continua) 

in ”Voz Visível” – Ensaios - 1971