quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ANTÓNIO MARIA LISBOA

 
 
           António Maria Lisboa nasceu em Lisboa, no dia 1 de Agosto de 1928, e viveu até 11 de Novembro de 1953.
          Foi, com Mário Cesariny, um dos fundadores do Surrealismo em Portugal.
          Colaborou nas publicações “República”, “Árvore” e “Afixação Proibida”.      
          Algumas das suas obras: “Ossóptico”; “A Verticalidade e a Chave”; “Exercício sobre o Sono e a Vigília de Alfred Jarry seguido de O Senhor Cágado e o Menino”.
          Em 1980 foi publicado um volume com a sua obra completa.
 
  
                         Rêve Oublié
 
Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim
nesta minha mania de te dar o que tu gostas
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti
Agora na superfície da luz a procurar a sombra
agora encostado ao vidro a sonhar a terra
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba
e depois matar-te e dar-te vida eterna
Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros
continuar a viver até cristalizar entre neve
continuar a contar a lenda duma princesa sueca
e depois fechar a porta para tremermos de medo
Contar a vida pelos dedos e perdê-los
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho
e depois contar um a um os teus dedos de fada
Abrir-se a janela para entrarem estrelas
abrir-se a luz para entrarem olhos
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala
e depois ruidosa uma dentadura velha
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro
E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata.
 
 António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas".
 
         
 

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