quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

IRENE LISBOA - Solidão



IRENE LISBOA
(Arruda dos Vinhos, Portugal, 1892 – Lisboa, 1958)
Escritora, professora, poetisa

***
Solidão

Cai chuva, chora.
Chora, chora.
Solidão, solidão!

Já não canta o pássaro.
Calou-se a voz, a alegre, a rara.
A que se ouvia solitária.
Cai chuva.

Não sou freira e estou num convento.
A paz, o silêncio, a chuva, os claustros...
Ser freira!

O sequestro, cantar, rezar.
Cai chuva, rude e sem dor.
Tu não choras.
Sou eu que choro.

Que é do pássaro, como cantava?
Voltou, voltou. Pia!
Bendito pássaro, onde estás?
Acompanha-me, já não chove.
Solidão, melancolia.


in “Outono Havias de Vir”

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

SAÚL DIAS – Duas poesias




SAÚL DIAS
(Vila do Conde, Portugal, 1902 – 1983)
Poeta e artista plástico

***
Duas poesias

                    I

Teus jovens anos floriram nos meus braços
e eu tive uma braçada de flores
numa manhã de Maio.

O sol caiu então num ligeiro desmaio,
escurecendo a terra
e ocultando
as lágrimas de orvalho das ervinhas rasteiras.

E o teu corpo foi também o mês de Maio
com cheiro a madre-silva e rosas trepadeiras.

                                      
                    II


No teu chapéu de palha
há um pequenino ramo de flores artificiais,
mas tão verdadeiras,
tão reais ...

Abençoadas as roseiras
que dão rosas artificiais  ...



segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

CLAUDIO MONTEVERDI - Compositor



CLAUDIO MONTEVERDI
(Cremona, Itália, 1567 — Veneza, 1643)
Compositor, maestro, cantor

Nascido quatro anos após o encerramento dos trabalhos do Concílio de Trento, Claudio Monteverdi viria a ser aclamado como um dos mais proeminentes músicos da sua época, debruçando‑se, com níveis artísticos de excepção, sobre a generalidade dos géneros musicais então em voga.

Discípulo do maestro di cappella da Catedral de Cremona, Marc’Antonio Ingegneri (1547‑1592), publicou o seu primeiro volume, Sacrae Cantiunculae, com apenas 15 anos de idade.

Em 1590, foi contratado pelo duque Vincenzo Gonzaga como músico da corte de Mântua. Aqui, começou por trabalhar sob a orientação de Giaches de Wert (1535‑1596) – então maestro di cappella ao serviço dos Gonzaga – e, na sequência de um crescente reconhecimento, impulsionado pela popularidade dos seus livros de madrigais em vários pontos da Europa, foi nomeado maestro della musica de Mântua no ano de 1601. 

Em 1609, viu publicada a sua ópera Orfeo, estreada dois anos antes.




in “Casa da Música”


domingo, 28 de janeiro de 2018

JORGE DE LIMA - Soneto



JORGE DE LIMA
(União dos Palmares, Brasil, 1893 — Rio de Janeiro, 1953)
Poeta, romancista, tradutor, pintor

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Soneto

Divina Voz, divino Sopro santo,
respiro-me em teu Voo, veloz Amor.
E sinto-me pequeno de poesia.
Vezes uns uivos, longe de ser canto

vestem-me os pelos como manto novo,
cordas revoando. Louvo-te Senhor.
Tenho em roda ao pescoço uma coleira
de cão, de pobre cão entre o meu povo.

Nem sei dizer se esse mudado verbo,
nem sei dizer se essa gaguez furiosa,
essa rosa de vento que é meu berro

se tornou na asfixia de Teu perro,
- canto com que louvar- Te, canto-chão,
nessa Tua divina ventania.

sábado, 27 de janeiro de 2018

PETER PAUL RUBENS - Pintor




PETER PAUL RUBENS
(Siegen, Alemanha, 1577 – Antuérpia, 1640)
Pintor 

Em 1598 foi admitido na Guilda dos Pintores de Antuérpia. Entretanto em 1600 partiu para Itália. Tornou-se pintor da corte do duque de Mântua. Em Madrid, onde foi enviado em missão diplomática em 1603, pintou alguns retratos. Em Roma viria a executar um retábulo para a Igreja de Santa Maria in Vallicella, A Virgem com Anjos. Voltou a Antuérpia em 1608, sendo prontamente nomeado pintor da corte.

Em 1620 recebia uma encomenda grandiosa de cerca de quarenta quadros para a Igreja dos Jesuítas de Antuérpia.
Em contacto com a obra dos grandes mestres do Renascimento em Itália, tinha adquirido uma sólida formação clássica, mas deu igualmente continuidade às técnicas da escola flamenga. Os dois mais importantes retábulos do início de carreira em Antuérpia, O Levantamento da Cruz e A Descida da Cruz são em forma de tríptico, o que na Itália caíra em desuso; preferia ainda pintar sobre madeira, prática corrente nos países do Norte.

Algumas das suas obras: Massacre dos Inocentes; Visitação; Histórias da fundação de Roma; Alegoria sobre a Paz e Guerra.



in “Infopédia” (excertos)


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

FERNANDO DACOSTA - Violência silenciosa



FERNANDO DACOSTA
(Caxito, Angola, 1945)
Romancista, dramaturgo, jornalista

Violência silenciosa

Ciclicamente a violência vem-nos à superfície. Com a passagem dos equinócios, sobretudo o do Outono, ela evidencia-se em deflagrações circulares. Ferimos, matamos os que se encontram mais próximos, os que nos amam e nos são amados – forma de nos ferirmos, matarmos a nós próprios.

Tanatos e Eros têm a mesma respiração, o estertor da morte é o outro lado do estertor do sexo. Conciliamos com toda a naturalidade a grande violência, a da paixão (a mais explosiva de todas) e a pequena violência, a do cinzentismo, a mais normalizadora, asfixiante de todas.

A nossa é «uma terra trágica», exclamava Manuel Laranjeira pouco antes de se suicidar: «Chego a ter a impressão de que todos trazemos os olhos vestidos de luto por nós mesmos. A única crença digna de respeito que temos é a crença na morte como uma libertação!»

Portugal nasceu de um acto agreste – a rebelião de um filho contra a mãe, derrotada (mais o seu notável projecto de independência galaico-portuguesa) pelas armas.

A República nasceu de um acto brutal - o assassínio de um Rei e do seu primogénito, numa emboscada, por revolucionários radicais.

Os dois maiores mitos lusitanos, Pedro e Inês e o Sebastianismo, brotaram de actos–limite.

Alguns dos vultos cimeiros das letras, do pensamento, das artes deixaram destruir-se, suicidando-se. O esclavagismo, a Inquisição, a História Trágico-Marítima, as guerras coloniais, os totalitarismos são-nos elos de uma violência - mais subterrânea do que ostentada, mais difusa do que definida – continua ao longo dos séculos.



in “Nascido no Estado Novo”


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

UGO FOSCOLO – Os Sepulcros



UGO FOSCOLO
(Zaquintos, Itália, 1778, Londres, 1827)
Poeta e escritor

Um dos principais literatos do Neoclassicismo e do Pré-Romantismo

***
Palavras de Ugo Foscolo
“Em todos os países vi sempre homens de três espécies: os poucos que comandam, a universalidade que serve e os muitos que armam intrigas.”

***
Os sepulcros

À sombra dos ciprestes, numa urna
banhada pelo pranto, é talvez menos
duro o sono da morte? Quando eu não
mais contemplar a luz do sol e vê-la
cobrir a terra de animais e plantas,

e as horas futuras não mais passarem
diante de mim cheias de ilusões,
e não mais ouvir, caro amigo, a triste
harmonia que o teu verso desvela,
e não mais sentir em meu coração

a poesia do amor e das sacras Musas,
que confortam a minha vida errante,
qual paz terei eu senão uma lousa
que distingua meus ossos entre outros
que na terra e no mar semeia a morte?


É certo, Pindemonte! Até a Esperança,
última Deusa, foge dos sepulcros:
e o Olvido envolve tudo na sua noite;
e alguma força operosa atormenta
a natureza sem cessar. E o tempo
transforma o homem, suas tumbas, seus vultos
e vestígios, quer na terra ou no céu.


(excerto)



Tradução: Gleiton Lentz

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

SULLY PRUDHOMME – Um sonho



SULLY PRUDHOMME
(Paris, França, 1839 — Châtenay-Malabry, 1907)
Poeta

Foi o primeiro autor a receber o Prémio Nobel de Literatura (1901) em especial reconhecimento de sua composição poética, na qual dá mostras de suave idealismo, perfeição artística e uma rara combinação das qualidades de coração e intelecto.

Pertence ao grupo de poetas parnasianos, movimento literário de origem francesa, que representou na poesia o espírito positivista e científico da época, surgindo no século XIX em oposição ao romantismo, responsáveis pela publicação da revista Parnasse contemporain.


in “Revista Prosa Verso e Arte”

***

Um sonho

Em sonho me disse o lavrador; “Faze teu pão.
Não contes mais comigo: cava a terra e semeia”.
Disse-me o tecelão: “Tua roupa, faze tu mesmo”.
E me disse o pedreiro: “Pega a colher de mão”.

Sozinho, abandonado por todo o género humano,
Cujo implacável anátema por toda a parte arrastava,
Ao suplicar aos céus pela piedade humana,
Diante do meu caminho leões, atentos, encontrei.

Os olhos abri, não crendo que fosse real a aurora.
Valentes operários de construção, em suas escadas, assobiavam.

A felicidade conheci, e mais, no mundo onde vivemos
Ninguém se gabar pode de ser melhor do que outrem.
Daquele dia em diante, a todos passei a amar.




Tradução: Cunha e Silva Filho

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

RAUL DE CARVALHO - Invocação



RAUL DE CARVALHO
(Alvito, Portugal, 1920 - Porto, 1984)
Poeta

As memórias da infância passadas no Alentejo manifestam-se em todos os seus livros de cunho autobiográfico. Chegou a Lisboa na década de 40 e tornou-se frequentador do café Martinho da Arcada, contactando com personalidades do meio literário.

Preocupado com a condição dos mais desfavorecidos, assumiu algumas afinidades com os neo-realistas. Conjugou esta preocupação com a aprendizagem de uma liberdade surrealista. 


in” Instituto Camões” (excerto)


***
Invocação

Ao murmúrio dos leitos vegetais,
À esbelta finura das espigas,
Á frouxidão dos seios despegados,
Ao sorriso de carne e de tabaco,
À rosa negra que os velhos aproveitam
Imóvel, pendurada à cabeceira,
E ao linho, ao linho, à brancura do linho,
Ao teu cabelo crespo e de veludo,
Ao vento, amigo vento, que o enfeita
De medronhos, de gosto a serra e vale,
A amoras maduras, riso fresco,
Um púcaro de leite ao rés da aurora,
Um banho seminu no rio límpido.


Contigo eu posso abandonar o mundo.
Damos as mãos - ou nem isso - e sabemos
Que de um ao outro vai correndo um rio
De natural e puro entendimento.

Se calha que adormeças, sou eu quem
Vela por ti bebendo-te nos olhos.
E o anjo que ficou desde criança
Brinca através do sono e da folhagem.

Contigo, juntos, vamos descobrir
Os medos, os mistérios, o invisível.
Vamos voltar a ser heróis e castos
E a ter dezoito anos - é possível!

Quero que venhas, pela noite, à hora
Em que as estrelas se debruçam, alto,
Em que os peixes, curiosos, se aproximam
Da linha de água, para ver a lua.

Quero que venhas num caudal de espuma,
No meio das algas, lentidão submersa,
E que tragas nos lábios a canção
Dos ciganos azuis de Andaluzia.

Quero que subas os degraus da noite,
Quero que ponhas devagar os pés
Neste leito de aroma e maresia
Que sabe aos quatro ventos do convés.

Que tragas uma âncora suspensa
Como medalha de santa ou de madrinha,
E que a primeira boca que te beije
Em terra, seja a minha, seja a minha!

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

ANTÓNIO TARANTINO - Dramaturgo



ANTÓNIO TARANTINO
(Bolzano, Itália, 1938)
Dramaturgo e pintor

***

«Nasci em 1938. Não completei estudos académicos, pode portanto dizer-se que sou autodidacta. Fui desenhador e pintor. Comecei a escrever peças de teatro depois dos cinquenta anos. 

Em 1993, recebi o Prémio Riccione (um importante prémio de dramaturgia) por dois textos: Stabat Mater e Passione secondo Giovanni

A seguir, escrevi mais peças: Vespro della Beata Vergine e Lustrini. Por esta “tetralogia” foi-me atribuído o prémio Ubu, o mais prestigiado prémio do teatro italiano. 

Entre 1995 e 1997, escrevi uma obra de grande fôlego, Materiale per una Tragedia Tedesca, pela qual ganhei outra vez o prémio Ubu e o prémio Riccione. 

Em 2000, escrevi uma peça que me foi encomendada pelo Centro Teatral de Udine: Stranieri que foi lida naquela cidade. 

Entre 2002 e 2004 escrevi A Casa de Ramalah e A Paz

Os meus textos foram traduzidos e encenados em França e na Alemanha».



in “Livros Cotovia”


domingo, 21 de janeiro de 2018

MARGARET SANGER – Activista do controlo de natalidade



MARGARET SANGER
(Nova Iorque, EUA, 1879 – Arizona, 1966)
Enfermeira, sexóloga, escritora


Vivia no seio de uma família humilde, tinha dez irmãos, e viu a mãe morrer. Atribui a morte da mãe às suas 18 gravidezes.

Foi enfermeira num hospital nova-iorquino e o trabalho com os pobres despertou-a para a necessidade de haver mais informação sobre contracepção. Assim, resolveu abandonar a enfermagem para se dedicar em exclusivo a promover a divulgação de informação sobre métodos contraceptivos.

Em 1914 foi acusada judicialmente de incitar a violência e promover a obscenidade por distribuir por correio uma revista chamada "The Woman Rebel" (A Revolta da Mulher) onde atacava as restrições legais nos Estados Unidos da América relativas à distribuição de informação sobre contracepção.

Esta lei, de 1873, dizia que era crime informar, aconselhar ou medicar algo para evitar a concepção ou induzir ao aborto, para além de proibir a menção por escrito dos nomes de doenças sexualmente transmissíveis. Os médicos e enfermeiras eram impedidos por lei de dar todo este tipo de informações aos seus pacientes.

O seu caso acabou por ser arquivado dois anos mais tarde, graças ao apoio de algumas personalidades influentes na sociedade de então.
Entretanto, Margaret tinha-se refugiado na Europa onde aproveitou para aprender mais sobre controlo da natalidade.

Em 1916 Sanger montou em Brooklyn, Nova Iorque, a primeira clínica de controlo de natalidade dos Estados Unidos da América, mas por causa disso veio a ser condenada a trinta dias de prisão. Durante esse período de clausura fez uma escola para os colegas de prisão.

Depois de ser libertada ganhou um recurso em tribunal que passou a permitir aos médicos nova-iorquinos darem conselhos sobre controlo da natalidade.

O passo seguinte de Margaret Sanger foi começar a publicar a revista mensal "Birth Control Advice" (Conselhos de Controlo de Natalidade).

Em 1921 fundou a Liga Americana de Controlo de Natalidade, à qual presidiu até 1928. Esta liga viria a dar origem, em 1941, à Federação Americana de Planeamento Familiar, onde Margaret era presidente honorária.

Em 1938 lançou uma autobiografia, um dos muitos livros que escreveu ao longo da sua vida, a maior parte dos quais sobre controlo de natalidade.



in “Infopédia”


sábado, 20 de janeiro de 2018

TRATADO DE TORDESILHAS




TRATADO DE TORDESILHAS

No dia 5 de Setembro de 1494 Portugal ratificou o Tratado de Tordesilhas, que fora anteriormente assinado na povoação castelhana de Tordesilhas, em 7 de Junho de 1494. 

O tratado entre o Reino de Portugal e o recém-formado Reino da Espanha servia para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por ambas as coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa espanhola após a viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica. 

O tratado praticamente dividia o globo terrestre entre Portugal e Espanha. Ele definia como linha de demarcação as meridianas 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Os territórios a leste desta linha pertenceriam a Portugal e os territórios a oeste, à Espanha.



in “History”
Imagem: Folha de rosto do Tratado de Tordesilhas (1494)




sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

JOSÉ TERRA- A um jovem poeta morto



JOSÉ TERRA
(Prozelo, Portugal, 1828 – Paris, França, 2014)
Poeta, filólogo, historiador, tradutor e professor catedrático

***
Radicou-se em França, onde adquiriu a cidadania francesa. Foi leitor na Universidade de Aix-Marseille e seguidamente na Sorbonne, em Paris. Dirigiu o departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros na Universidade de Paris-Vincennes.
Como ensaísta e investigador estudou sobretudo a época do Renascimento.
Algumas das suas obras: Canto da Árvore Prisioneira, Para o Poema da Criação, Canto Submerso.


in” Portugal Século XX”

***

A um jovem poeta morto (Sebastião da Gama)

No remo imaginário
das sombras resvalantes,
na noite mais profunda
cintila a tua alma.
Nasceu-nos do flanco
a tua jovem morte.
No misterioso barco
partiste sem dizer.
E agora o pensamento
trespassa a neblina
a ver se reinventa
o teu retrato d'água.





quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

ANTÓNIO SÉRGIO – Pensador e político




ANTÓNIO SÉRGIO
(Damão, Índia, 1883 - Lisboa, Portugal, 1969)

Pensador, pedagogo e político

Foi dos pensadores mais marcantes do Portugal contemporâneo, com uma vasta obra que se estende da teoria do conhecimento, à filosofia política e à filosofia da educação, passando pela filosofia da história.

Em coerência com o seu sistema de pensamento, defendeu que a democracia, ao invés de ser uma coisa é uma actividade que se identifica com o processo da cultura, um dinamismo de essência espiritual, um fim que radica na autoridade crescente de cada um sobre si próprio, acabando por tornar o estado desnecessário, pois substituído pelo império de cada alma livre. Assim, a vontade geral que a democracia invoca é «a vontade de qualquer indivíduo, sempre que este, para proceder, toma uma atitude de pensar objectiva, racional, geral», subindo do indivíduo à pessoa, do plano biológico ao plano do espírito, fazendo o homem coincidir com o cidadão.


in “Filosofia Portuguesa”

***

"António Sérgio foi preso em 1910, 1933, 1935, 1948 e 1958. E a propósito das últimas quatro vezes pensou (e depois escreveu) que foi na prisão que encontrou a verdadeira «união nacional» - de oposição à ditadura militar, primeiramente, e, depois, a Salazar, ao Estado Novo, ao fascismo." O essencial da actividade política de Sérgio é sempre enquadrável com o seu aspecto teórico - a ligação à Democracia, à Liberdade, como via para a Educação e Cultura.