domingo, 31 de maio de 2015

LEONARD COHEN - Missão

 
 
 
 
 
 
 
 Leonard Cohen (Montreal, Canadá, 1934).
 
Começou a dedicar-se à música depois dos 30 anos de idade.
 
Antes,já era um poeta e escritor reconhecido pelo público.
 
Na música, ganhou notoriedade como cantor e compositor folk.
 
No seu estilo peculiar de voz grave e quase falada, aborda temas como sexo, espiritualidade, angústia e paixão.
 
Algumas das suas obras literárias: Let Us Compare Mythologies, The Spice Box Of Earth, Flowers For Hitler, Beautiful Losers, The Favorite Game.
 
Cohen é um “Companheiro da Ordem do Canadá”, a maior honra da nação para um civil.
 
 
Palavras de Leonard Cohen: “O amor não tem cura, mas é o único remédio para todos os males.”
 
 
 
                      Missão
 
 
Trabalhei no meu trabalho
Dormi no meu sono
Morri na minha morte
E agora posso abandonar
Abandonar aquilo que faz falta
E abandonar aquilo que está cheio
Necessidade de espírito
E necessidade no Buraco
 
Amada, sou teu
Como sempre fui
Da medula aos poros
Do anseio à pele
 
Agora que a minha missão
Chegou ao fim:
Reza para que me seja perdoada A
 vida que levei
 
O Corpo que persegui P
erseguiu-me igualmente
O meu anseio é um lugar
O meu morrer, uma vela.
 
 
Leonard Cohen, in “Livro do Desejo”

sábado, 30 de maio de 2015

URBANO TAVARES RODRIGUES - Primavera

 
 
 
 
 

Urbano Tavares Rodrigues (Lisboa, Portugal, 1923 – 2013).

Formado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras de Lisboa, destacam-se as suas atividades como escritor, poeta, ensaísta, tradutor, crítico literário e professor.
Foi também jornalista em jornais como o “Diário de Lisboa” e “O Século” onde, durante muitos anos, se destacou como um influente e reputado crítico de teatro.
Como intelectual esteve sempre atento ao emergir de novos talentos literários.
Publicou cerca de cem livros. O último foi, A Imensa Boca dessa Angústia e Outras Histórias.
A sua obra literária valeu-lhe várias distinções.

 

 
Palavras de Urbano Tavares Rodrigues:

“Mereço amplamente o Prémio Camões.”
 
 
             Primavera
 
A Primavera vem dançando
com os seus dedos de mistério e turquesa
Vem vestida de meio-dia e vem valsando
entre os braços dum vento sem firmeza.
Nu como a água o teu corpo quieto e ausente
Só este inquieto esvoaçar do teu sorriso
Loiro o rosto o olhar não sei se mente
se de tão negro e parado é um aviso
do destino que me fixa finalmente.
Ai, a Primavera vai passando
com os seus dedos de mistério e de turquesa
Segue Primavera vai cantando
Que será do nosso amor nesta praia de incerteza.
 
Urbano Tavares Rodrigues
 

 

 

sexta-feira, 29 de maio de 2015

REVISTAS LITERÁRIAS - Presença

 
 
 
 
 
 

A Presença, lançada em Coimbra em 1927, foi, na sua essência, uma revista de crítica literária e de literatura, mas aberta às artes gráficas, à filosofia, à pintura, à música e à escultura de todo o mundo.

Dirigida por José Régio, Branquinho da Fonseca e João Gaspar Simões, é considerada um marco fundamental no Modernismo português.

Alguns dos seus colaboradores: Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário Sá-Carneiro, Miguel Torga, Vitorino Nemésio, Edmundo Bettencourt, Adolfo Casais Monteiro, Irene Lisboa, Luís Montalvor, António Botto, Afonso Duarte, Pedro Homem de Mello.

Foram divulgados nas suas páginas os nomes mais proeminentes da literatura estrangeira, tais como: Jorge Amado, Cecília Meireles, Ibsen, Proust, Goethe, Nietzsche, Shakespeare, Dickens, Joyce.

Em Fevereiro de 1940, ao fim de treze anos de actividade, foi publicado o último dos 56 números.

A revista “Presença” foi um dos mais influentes e consistentes órgãos literários portugueses.

 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

ANTÓNIO SARDINHA - Deus na Planície

 
 
 
 
 
 
 

António Sardinha (Monforte, Alentejo, Portugal,1887- Elvas, Alentejo, Portugal, 1925).

Foi poeta, historiador, ensaísta e político.

Em 1914, fundou a revista “Nação Portuguesa”, que viria a dar origem ao integralismo lusitano, do qual foi precursor.

Dirigiu o jornal diário “A Monarquia”, que defendia o nacionalismo monárquico.

Devido à derrota do movimento da Monarquia do Norte, António Sardinha exilou-se em Espanha.

Algumas das suas obras poéticas: Tronco Reverdecido; Epopeia da Planície; Quando as Nascentes Despertam; Chuva da Tarde; Era uma vez um Menino; O Roubo da Europa.
 
 
Palavras de António Sardinha:
“Esta Elvas! “Esta Elvas!” – Oh, então! Uma lágrima – um silêncio – um suspiro risonho porão Elvas inteira e viva à nossa frente evocada em Amor como num sonho.”

 
 
 
          Deus na Planície
                         
O espírito de Deus flutua e erra
por todo este côncavo profundo.
Assim errava Ele sobre a terra
quando pensou na criação do Mundo.
 
É noite. Aqui não há mar nem serra.
Há o infinito, o vago. E cá no fundo
minh'alma que se excede e que se aterra,
ó Hálito-Supremo em que eu me inundo!
 
Ó Hálito-Supremo!... É noite escura.
E o Criador no enlevo em que eu me alago
domina e empolga a Sua criatura.
 
Sucumbe em mim o bicho vil da terra
E como no Princípio sobre o vago
O Espírito de Deus flutua e erra.
 
António Sardinha, in “Epopeia da Planície”
 
 

 

 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

WISLAWA SZYMBORSKA - Torturas

 
 
 
 
 
 
 
 
Wislawa Szymborska (Kórnik, Polónia, 1923 – Cracóvia, Polónia, 2012).
Foi poetisa e tradutora.
A censura política proibiu a publicação do seu primeiro livro de poesia.
Os seus poemas estão traduzidos para 36 idiomas.
Foi galardoada, em 1996, com o “Prémio Nobel da Literatura”.

Wislawa Szymborska é conhecida em todo o mundo como o “Mozart da Poesia”.

 

Palavras de Wislawa Szymborska:

“No início da minha vida criativa eu amava a Humanidade. Eu queria fazer algo de bom para a Humanidade. Cedo percebi que não é possível salvar a Humanidade.”
 
 
 
Torturas


Nada mudou.
O corpo sente dor,
necessita comer, respirar e dormir,
tem a pele tenra e logo abaixo sangue,
tem uma boa reserva de unhas e dentes,
ossos frágeis, juntas alongáveis.
Nas torturas leva-se tudo isso em conta.
Nada mudou.
Treme o corpo como tremia
antes de se fundar Roma e depois de fundada,
no século XX antes e depois de Cristo,
as torturas são como eram, só a terra encolheu
e o que quer que se passe parecer ser na porta ao lado.
Nada mudou. Só chegou mais gente,
e às velhas culpas se juntaram novas,
reais, impostas, momentâneas, inexistentes,
mas o grito com que o corpo responde por elas
foi, é e será o grito da inocência segundo a escala e registo sempiternos (…)



Wislawa Szymborska

terça-feira, 26 de maio de 2015

ALBERTO DE SERPA - Música

 
 
 
 
 
 
 

Alberto de Serpa (Porto, Portugal, 1906 – 1992).

Integrou o grupo da revista “Presença”, em cujas edições publicou os livros de poesia: Vinte Poemas da Noite, Descrição e Varanda.
 
É autor de ensaios sobre diversos poetas, como António Nobre, José Régio e Domingos Álvares.
Correspondeu-se com poetas brasileiros, tendo publicado, em 1954, o Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro.
Organizou, com José Régio, em 1957, a Antologia da Poesia de Amor Portuguesa, Alma Minha Gentil.
 
 
                           Música
 
Esta música triste desprende-me do mundo.
Há quem possa explicá-la,
E nela apreenda frases
E descrições
E cores
E movimentos de alma.
Para mim, tem o encanto de tudo quanto é triste.
Ouço-a,
Os olhos fechados, a cabeça entre as mãos...
Ponho nela a minha vida,
E não há mais simples nem mais bela música...
 
Alberto de Serpa
 
 
 
 

 
 

 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

ANDRÉ BRETON - A Poesia

 
 
 



André Breton (Tinchebray, França, 1896 – Paris, França, 1966).

Foi poeta, ensaísta, crítico, editor e escritor.

Foi o mentor da revista “Littérature”.

No  Manifesto do Surrealismo , publicado em 1924, proclamou o não conformismo  e propôs a fórmula  de criação chamada automatismo psíquico , segundo a qual escreveu o romance   Nadja.

No Segundo Manifesto do Surrealismo , em 1930,  reafirmou a fidelidade  aos princípios do movimento.
 
 
 

Palavras de André Breton :
"Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios."
 

                  A Poesia


A poesia como o amor faz-se na cama
Os seus lençóis desfeitos são a aurora das coisas
A poesia faz-se nas matas
Tem todo o espaço de que precisa
Não este mas o outro condicionado por
O olho do milhafre
O orvalho sobre a cavalinha
A lembrança de Traminer embaciada em bandeja de prata
Uma alta vara de turmalina sobre o mar
E a estrada da aventura mental
Que sobe a prumo
Pára e fica logo coberta de mato
Isto não se apregoa aos quatro ventos
Não é conveniente deixar a porta aberta
Ou chamar testemunhas
Os cardumes de peixes os bandos de melharucos
Os carris à entrada duma grande estação
As luzes das duas margens
Os sulcos do pão
A espuma da ribeira
Os dias do calendário
O hipericão
Acto de amor e acto de poesia
São incompatíveis
Com a leitura do jornal em voz alta
O sentido do raio de sol
O clarão azul que liga as machadadas do lenhador
O fio do papagaio de papel em forma de coração ou de laço
O batimento ritmado da cauda dos castores
A diligência do relâmpago
O arremesso de confeitos do alto de velhas escadas
A avalanche
A câmara dos sortilégios
Não cavalheiros não é a oitava Câmara
Nem os vapores da camarata ao domingo à noite
Os passos de dança transparentes por cima dos mares
A demarcação na parede dum corpo de mulher ao lançar de punhais As claras volutas do fumo
Os anéis do teu cabelo
A curva da esponja das Filipinas
Os nós da serpente vermelha
A entrada da hera nas ruínas
Tem todo o tempo à sua frente
O abraço poético como o abraço carnal
Enquanto dura Impede toda a fugida sobre a miséria do mundo


André Breton

domingo, 24 de maio de 2015

JAROSLAV SEIFERT - Pequena Canção da Noite

 
 
 
 
 
 

Jaroslav Seifert (Praga, República Checa, 1901-1986).

Foi poeta, jornalista e autor de literatura infantil.

A partir dos anos sessenta produziu a parte mais brilhante da sua obra, com grandes publicações como Concerto na Ilha, Cometa Halley, A Fundição de Sinos e Ser Poeta.

Em 1966 foi nomeado “Poeta da Nação”, tendo sido um dos primeiros escritores que condenaram a invasão soviética da Checoslováquia.

Foi galardoado, em 1984, com o “Prémio Nobel de Literatura”.

O Comité decidiu a atribuição do prémio “pela poesia plena de frescura, sensualidade e criatividade, que transmite um espírito indomável e um sentimento profundo de estima pelo seu país e pelo seu povo”.
 
 
Palavras de Jaroslav Seifert:
 
“Toda a minha vida fui fiel ao amor.”
 
O comitê do Prêmio Nobel descreveu-o como um poeta "amado como caro pela clareza surpreendente, musicalidade e sensualidade de seus poemas como para sua identificação unembellished mas profundamente sentida com o seu país e seu povo." O comitê do Prêmio Nobel descreveu-o como um poeta "amado como caro pela clareza surpreendente, musicalidade e sensualidade de seus poemas como para sua identificação unembellished mas profundamente sentida com o seu país e seu povo." O comitê do Prêmio Nobel descreveu-o como um poeta "amado como caro pela clareza surpreendente, musicalidade e sensualidade de seus poemas como para sua identificação unembellished mas profundamente sentida com o seu país e seu pPequena Canção da Noite
 

As gatas irrompem das águas-furtadas
e tornam-se verdes na noite.
Eu procurava em vão uma  palavra nova
para isso a que os outros chamam sonho.

Para esta quimera, coisa ou instante,
que ultrapassa os limites da tua realidade
e depois - para te submeter ao seu próprio império -
não chega quase a ter corpo.
Para isso que é um simples murmúrio
e se dilacera a cada choque,
assim como um pão de gaze ligeiro
que, rente à tua fronte, flutua no ar.

Isso que, com o sangue, chega ao rosto
e faz sonhar as jovens raparigas
logo que, confessando-se à almofada,
se escondem sob os cobertores.

Para isso que surge assim que as tuas mãos
cobrem os teus olhos; isso que quase
a tua orelha não ouve, quando há um suspiro -
muito baixo - num recolhimento solitário.

Para esses olhos e esse olhar, enfim,
com os quais uma senhora me deslumbrou.
E com os quais, desde então, eu sonho ainda,
balbuciando versos comovidos.
Velar sem prazo, pela dor;
Nada me impedirá de dormir mal.
A cidade? Dorme. Lá em baixo, o dique
Purifica o ouro pálido das estrelas.


Jaroslav Seifert
 

 

 

 
 

sábado, 23 de maio de 2015

LI BAI - O Templo da Montanha

 
 
 
 
 
 

Li Bai (Suyab, Ásia Central, 701 Dc – Rio Yangtzé, República Popular da China, 762 Dc).

Poeta romântico da dinastia Tang, na China Antiga, é, ainda hoje, venerado como o “Poeta Imortal”.

Com 25 anos de idade saiu de casa e partiu em viagem pelas montanhas mágicas da China, buscando inspiração para os seus poemas.

 
 
Palavras de Li Bai:


 

 
O Templo na Montanha

Passo a noite
no Templo da Montanha.
Se estender a mão,
toco as estrelas.
Nem ouso falar,
para não incomodar
os que moram no céu.

 
Li Bai


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Um Livro para ler, cozinhar e comer

 
 
 
 
 
 
 
Todos os anos são publicados, em todo o mundo, mais de vinte mil livros cujo tema é a gastronomia.

 Em 2011, a editora alemã “Gerstenberg Publishing House”, especializada em livros de culinária, lançou o primeiro livro de receitas comestível do mundo, denominado “The Real Cookbook”.

Durante várias semanas foram testados vários métodos de impressão e consistências da massa, para obter o resultado pretendido.

Este é o primeiro livro de receitas que os leitores podem, realmente, ler, cozinhar e comer.

É feito 100% de massa fresca, com apresentação da clássica lasanha.

Em cada uma das quatro páginas do livro está impresso o modo de preparação.

É sugerido que entre as páginas se use um pouco de molho e salpicos de queijo em cima.

Após a leitura, basta colocar a massa no forno à temperatura de 200º C.

Alguns minutos depois pode-se deliciar esta saborosa lasanha literária.

Bom apetite!