quarta-feira, 30 de novembro de 2016

COMPARAR-TE A UM DIA DE VERÃO?





Comparar-te a um Dia de Verão?


Comparar-te a um dia de verão?
Há mais ternura em ti, ainda assim:
um maio em flor às mãos do furacão,
o foral do verão que chega ao fim.

Por vezes brilha ardendo o olhar do céu;
outras, desfaz-se a compleição doirada,
perde beleza a beleza; e o que perdeu
vai no acaso, na natureza, em nada.

Mas juro-te que o teu humano verão
será eterno; sempre crescerás
indiferente ao tempo na canção;

e, na canção sem morte, viverás:
Porque o mundo, que vê e que respira,
te verá respirar na minha lira.




William Shakespeare, in "Sonetos"
Tradução: Carlos de Oliveira
in “Citador”
Imagem: pintura de Michael Gorban (Rússia, 1956).


terça-feira, 29 de novembro de 2016

FRANCISCO JOAQUIM BINGRE - O Tempo Gastador de Mil Idades





Francisco Joaquim Bingre (S. Tomé de Canelas, Aveiro, Portugal, 1763 – 1856).


Foi um dos fundadores da Nova Arcádia de Lisboa (1790), juntamente com Domingos Caldas Barbosa, Belchior M. Curvo-Semedo e J.S. Ferraz de Campos. Nas suas poesias, predominam o lírico e o bucólico.


in “Dicionário de Literatura”



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Francisco Joaquim Bingre deixou-nos uma vastíssima obra, distribuída por cerca de 1120 sonetos, odes, sátiras, madrigais, elegias, farsas, fábulas, hinos, etc.
Morreu na miséria.



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O Tempo Gastador de Mil Idades


O Tempo gastador de mil idades,
Que na décima esfera vive e mora,
Não descansa co'a Fúria tragadora,
De exercitar, feroz, suas crueldades.

Ele destrói as ínclitas cidades,
As egípcias pirâmides devora:
Sua dentada fouce assoladora,
Rompe forças viris, destrói beldades.

O bronze, o ouro, o rígido diamante,
A sua mão pesada amolga e gasta
Levando tudo ao nada, em giro errante.

Como trovão feroz rugindo arrasta,
Quanto cobre na Terra o sol radiante,
Só da Virtude com temor se afasta.


in “Sonetos”


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

FRANCISCO RODRIGUES LOBO - Mil anos há que busco a minha estrela





Francisco Rodrigues Lobo (Leiria, Portugal, 1580- Lisboa, 1622).

Escritor, diplomou-se em Direito na Universidade de Coimbra, começando nessa altura a escrever as suas primeiras composições poéticas.

Nas suas obras nota-se a influência da lírica de Camões, várias delas em castelhano, talvez devido ao decurso da sua vida durante o domínio filipino.

Considerado o precursor do barroco português, entre as suas obras contam-se três novelas: O Pastor Peregrino, Primavera e O Desengano.

Morreu afogado quando fazia uma viagem de barco no Rio Tejo entre Santarém e Lisboa



in “Direcção Cultural do Centro”


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Palavras de Francisco Rodrigues Lobo:

“O egoísmo é o vício radical do Homem”



Mil anos há que busco a minha estrela



Mil anos há que busco a minha estrela 
E os Fados dizem que ma têm guardada; 
Levantei-me de noite e madrugada, 
Por mais que madruguei, não pude vê-la. 

Já não espero haver alcance dela 
Senão depois da vida rematada, 
Que deve estar nos céus tão remontada 
Que só lá poderei gozá-la e tê-la. 

Pensamentos, desejos, esperança, 
Não vos canseis em vão, não movais guerra, 
Façamos entre os mais uma mudança: 

Para me procurar vida segura 
Deixemos tudo aquilo que há na terra, 
Vamos para onde temos a ventura. 


in “Fénix Renascida”



domingo, 27 de novembro de 2016

WILLIAM BUTLER YEATS - Quando fores velha





William Butler Yeats (Dublin, Irlanda, 1865 – Menton, França, 1939).

Poeta e autor teatral, Prémio Nobel (1923) de Literatura. 
Foi o representante máximo do Renascimento literário irlandês e um dos escritores mais destacados do século XX.
Foi co-fundador do Abbey Theatre.

Algumas das suas obras: As peregrinações de Oisin, O vento entre os juncos, As águas sombrias, Descobertas, Quatro peças para dançarinos, Novos poemas.


in “O Poema”

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Palavras de William Butler Yeats:
“Pense como sábio, mas se expresse na língua do povo.”


          Quando fores velha

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.



Tradução: José Agostinho Baptista

sábado, 26 de novembro de 2016

BIOGRAFIA DE MÁRIO VIEGAS (por ele próprio)




António Mário Lopes Pereira Viegas


Nasceu em Santarém em 10 de Novembro de 1948, às 23.30h, meia hora antes do Dia de S. Martinho.
É do signo Escorpião no Hemisfério Ocidental e do Rato no Hemisfério Oriental.

Trineto, por via paterna, do grande Actor Cómico do século XIX Francisco Leoni, Bisneto de Francisco José Pereira, Republicano, Deputado e Senador por Santarém na Primeira Assembleia da Primeira República, sendo saneado de Director Geral do Congresso no 28 de Maio.

Neto e filho de Republicanos e Anti-Fascistas, duma família paterna toda ligada ao ramo Farmacêutico.

Neto por via materna, de um dos fundadores da Amadora, António Cardoso Lopes e sobrinho, do famoso hoquista Álvaro Lopes (8 vezes campeão do mundo), e Tiotónio (um dos pioneiros da Banda-Desenhada em Portugal e criador do semanário “O Mosquito”), e de Augusto Lopes (inventor e criador do sistema do Cinema foto-sonoro em Portugal), sendo a sua Mãe licenciada em Grego Clássico, Latim. 

Viveu a sua infância e adolescência em Santarém, onde estudou no Liceu Sá da Bandeira e onde se estreia como Actor e Recitador amador com o Coro de Amadores de Música, dirigido pelo Maestro Fernando Lopes-Graça, com 16 anos, em substituição da ex-Actriz e Declamadora Maria Barroso.

Fica logo com a sua primeira ficha na P.I.D.E.

Não tem pre-conceitos sexuais. Sendo scalabitano, gosta de touros, cavalos, mulheres, homens, vinho branco ou tinto, sabe dançar o fandango e já pegou uma vaca em 1967.

Frequentou a Fac. de Letras de Lisboa em 1966/67 e 1967/68 e a Fac. de Letras do Porto em 1968/69, onde termina o 3.º ano do Curso Superior de História. Faz parte da Crise Académica de 1969, como Recitador e Agitador no Porto e em Coimbra.

Nunca esteve filiado em nenhum Partido ou Clube Desportivo, nem nunca foi convidado para tal.

Não tem nenhuma ficha na P.S.P. ou na Polícia Judiciária por actividades ilícitas e/ou imorais.

É solteiro e não tenciona casar oficialmente.

É-lhe retirado o Adiamento Militar, por actividades políticas e é proibido de actuar como Actor e Recitador quer publicamente, na antiga Emissora Nacional e na R.T.P.

Os seus discos de Poesia são proibidos de passar na Rádio, até ao 25 de Abril de 1974.

Cumpre o Serviço Militar Obrigatório como Oficial entre Outubro de 1971 e Outubro de 1974, tendo a sua Caderneta Militar os mais altos louvores pela disciplina militar.

É-lhe dada a especialidade e o curso de Acção Psicológica e Propaganda do Exército (A.P.S.I.C.), sendo re-classificado quando estagiava na 2.ª Repartição do Estado-Maior do Exército em 1972. É-lhe dado um cargo de Instrutor de Combustíveis e Lubrificantes no Quartel do Campo Grande (E.P.A.N.), de onde é afastado no dia 22 de Abril de 1974.

Assiste e participa desde as 11H00 da manhã, ao golpe-militar do 25 de Abril, no Largo do Carmo. Às 19H00 na Rua António Maria Cardoso participa na primeira tentativa Popular de assalto à sede da P.I.D.E.-D.G.S.

Faz parte da Extinção da P.I.D.E.-D.G.S. e Legião Portuguesa desde o início de Maio de 1974 até Outubro de 1974, como Oficial-Miliciano do M.F.A., de onde é afastado.

Após proibição em Conselho de Ministros, da peça “EVA PERÓN”, de Copi, (de que era protagonista e que seria a primeira encenação de Filipe La Féria), em Janeiro de 1975, sai de Portugal entre inícios de Maio de 1975 até finais de Setembro de 1975, indo viver para Copenhaga, Dinamarca, desiludido com a situação política do País.

Como Independente, participou “de borla” em algumas campanhas e espectáculos ao vivo e na televisão do P.C.P. (1977), do P.S.R. e da U.D.P., até 1994. Está arrependidíssimo! Abre uma excepção à U.D.P.

Foi leitor durante 2 anos (1987, 1988), dos comunicados do dia 25 de Abril de Otelo Saraiva de Carvalho, quando este esteve preso em Caxias (caso FP25). Não ganhou nada com isso!

Foi alcoólico Público e Anónimo, encontrando-se completamente recuperado.

É Fumador activo e passivo, careca e práticamente cego do olho esquerdo.

Estreia-se como Actor profissional em 16 de Fevereiro de 1968 no Teatro Experimental de Cascais. Trabalhou diariamente durante 30 anos no Teatro, Cinema, Disco, Rádio e Televisão como Actor, Empresário, Encenador e Cenógrafo, com o nome artístico de Mário Viegas. 

Ao contracenar com Marcello Mastroianni em 1994 descobriu que não conseguiria ser o Maior Actor de Portugal, da Europa e do Mundo, de Teatro e Cinema; o mais popular Cómico do País e com maior unanimidade; ter um lugar em Hollywood; representar em francês, espanhol, inglês ou japonês. Desiludido e revoltado decide encetar a carreira mais fácil, menos efémera e com reforma assegurada: PRESIDENTE DA REPÚBLICA de Portugal, Açores, Madeira, Macau e Timor-Leste.

As Sondagens dão-lhe 93,4% de intenção de voto.

Não sabe o que quer para o País, mas o País sabe o que quer dele!
Não quer ser o Presidente de todos os Portugueses!
Tem como Lemas da campanha a frase de Eduardo de Filippo: “Os Actores vivem a sério no Palco, o que os outros na Vida representam mal”; e “Nesta Pátria onde a Terra acaba e o Mário começa!”.

Slogans da campanha:

“VIEGAS AMIGO! O MÁRIO ESTÁ CONTIGO!”
“MÁRIO SÓ HÁ UM! O VIEGAS E MAIS NENHUM!”
“O MÁRIO QUE SE LIXE! O VIEGAS É QUE É FIXE!”

Foi agraciado por sua Exª o actual Presidente da República, o Sr. Dr. Mário Soares com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique, sendo pois, Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.


Mário Viegas



in “PANCADA DE MOLIÈRE” - Blog oficial da Companhia Teatral do Chiado.


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Palavras de Mário Viegas:
“O Teatro foi sempre a minha vida e a minha morte"



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

PRESENTES DA MARÉ VAZANTE




PRESENTES DA MARÉ VAZANTE

No Japão, coleccionar conchas marinhas e decorá-las com poemas é um passatempo elegante que data de tempos antigos. 

Shiohi no tsuto (Presentes da maré vazante, popularmente conhecido em inglês como O livro da concha), é um livro ilustrado de xilogravuras multicoloridas de Kitagawa Utamaro (por volta de 1753-1806). 

Estes ehon (livros ilustrados) fazem parte de uma longa tradição com o belo trabalho de colaboração de artistas, calígrafos, escritores, papeleiros, cortadores de bloco e impressores. 

Esta gravura, publicada por volta de 1789 por Tsutaya Juzaburo, possui 36 kyōka (poemas japoneses satíricos e engraçados de 31 sílabas) de diversos poetas que ilustram as 36 conchas. 

O livro começa com uma cena deshiohigari, (cavar molusco), seguida por seis páginas de desenhos elaborados de conchas com o Kyoka e conclui com uma cena do jogo de correspondência de concha. Em algumas páginas foram aplicados pó de metal, pó de conchas e madrepérola para transmitir brilho ou reflexo de luz. A textura melhorada foi conseguida pressionando-se pedra esculpida contra o papel sem tinta (relevo cego).



Fonte: Biblioteca Digital Mundial
Imagem: Gravura, publicada por volta de 1789 por Tsutaya Juzaburo, possui 36 kyōka (poemas japoneses satíricos).

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

DOROTHEA LANGE - Fotógrafa





Dorothea Lange (Hoboken, Nova Jersey, EUA,1895 – São Francisco, Califórnia, 1965).

Foi uma influente fotógrafa documental e fotojornalista norte-americana conhecida pelos seus retratos da Grande Depressão para a “Farm Security Administration” (FSA). As suas imagens ajudaram a humanizar as consequências da Crise de 1929 e influenciaram o desenvolvimento da fotografia documental.

As imagens que fez dos desabrigados chamaram a atenção de outros fotógrafos, o que a levou a trabalhar na “Farm Security Administration” (FSA), uma instituição criada com o objetivo de combater a pobreza rural, uma das principais consequências da Grande Depressão. 

De 1935 a 1939, Lange retratou para a FSA o sofrimento dos pobres e esquecidos, especialmente das famílias rurais deslocadas e dos trabalhadores imigrantes. 

As suas imagens eram distribuídas gratuitamente a jornais de todo o país, tornando-se fortemente representativas da época. A fotografia mais conhecida deste período é “Migrant Mother”, um dos mais icônicos registos da história da fotografia, que retrata uma imigrante chamada Florence Owens Thompson com três de seus sete filhos. 

Registou a evacuação forçada de japoneses americanos para campos de realojamento após o ataque a Pearl Harbor. Para muitos, as imagens das crianças nipo-americanas jurando lealdade à bandeira antes de serem enviadas para esses campos são uma assustadora lembrança de uma antiga política: deter pessoas que não cometeram crimes, e sem lhes oferecer qualquer apoio. 

As fotografias desse episódio, em especial do campo de Manzanar, foram tão obviamente críticas que o exército as confiscou. Hoje elas estão disponíveis na divisão de fotografias do site do arquivo nacional do país e na “Biblioteca Bancroft” da Universidade da Califórnia.

Nas últimas décadas de sua vida, Lange sofreu de diversos problemas de saúde. Em 2006, foi baptizada uma escola em sua honra em Nipomo, na Califórnia, perto do local onde foi feita a fotografia “Migrant Mother”.



in “Centro de Fotografia ESPM”   (excertos)                           




"Migrant Mother", 1936 





quarta-feira, 23 de novembro de 2016

JOSÉ MALHOA – Pintor, desenhista e professor





José Malhoa (Caldas da Rainha, Portugal, 1855 – Figueiró dos Vinhos, 1933).

Foi estudar para Lisboa aos 8 anos e aos 12 entrou na Real Academia de Belas Artes de Lisboa, onde foi discípulo de Miguel Ângelo Lupi e Tomás da Anunciação. 

Em 1875 começou a pintar A Seara Invadida, que apresentou numa exposição em Madrid, obtendo grande sucesso. 

Foi um dos fundadores do Grupo de Leão, criado em 1880. 

Os quadros de ar livre dos anos 80, mais luminosos e de colorido mais intenso, demonstram que se abria à estética de Barbizon – introduzida em Portugal por Silva Porto – apesar de nunca lá ter estado. 

Dentro desse espírito naturalista começava o longo percurso de exaltação da cor e da luz de Portugal, que iria marcar a sua obra no resto da sua vida. 

Malhoa foi pintor de paisagens, cenas de género ou de costumes, retratos e nus. Raramente pintou a paisagem pela paisagem. 

Além dos retratos das gentes do povo que figuram nos quadros de género, pintou inúmeros retratos da aristocracia. O Retrato de Laura Sauvinet (Museu de José Malhoa), uma sua aluna, realizado em 1888, foi por ele considerado a sua obra-prima. 

Expôs em Portugal desde 1880 e participou regularmente em exposições no estrangeiro. 

Realizou-se uma exposição retrospectiva da sua obra em Lisboa, em 1928, tendo-lhe então sido erigido um busto numa homenagem prestada nas Caldas da Rainha. 

Viu em vida avançar o projecto de um museu com o seu nome, que seria inaugurado seis meses após a sua morte.



in “A Arte em Portugal” (excertos)



terça-feira, 22 de novembro de 2016

OCTAVIO PAZ - Água Nocturna




Octavio Paz (Cidade do México, México, 1914 - 1998).

Em 1933 publicou o seu primeiro livro de poemas, Luna Silvestre. 

Viveu nos Estados Unidos e em Espanha, onde foi influenciado pelos movimentos modernistas e surrealistas.
O seu trabalho revela uma inteligência cada vez mais profunda e complexa à medida que investiga a intersecção de filosofia, religião, arte, política, bem como o papel do indivíduo.

Algumas das suas obras: Piedra de Sol, El laberinto de la soledad, Vislumbres de la India, Árbol Adentro, Salamandra.

Recebeu o "Prémio Nobel de Literatura" em 1990.



in “Academy of American Poets” (excertos)


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Palavras de Octavio Paz:
“Não seria melhor transformar a vida em poesia, em vez de fazer a poesia da vida?”

             Água Nocturna

A noite de olhos de cavalo que tremem na noite
a noite de olhos de água no campo adormecido,
está nos teus olhos de cavalo que treme,
está nos teus olhos de água secreta.

Olhos de água de sombra,
olhos de água de fonte,
olhos de água de sonho.

O silêncio e a solidão,
como dois animais pequenos que a lua guia,
bebem nesses olhos,
bebem nessas águas.

Se abres os olhos,
abre-se a noite de portas de musgo,
abre-se o reino secreto da água
que emana do centro da noite.

E se os fechas,
um rio, uma corrente doce e silenciosa,
inunda-te por dentro, avança, torna-te obscuro:
a noite molha margens na tua alma.


Tradução:Luís Costa

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

TITO LÍVIO – Historiador romano




Tito Lívio (Pádua, Itália, 59 a.C. – 17 d.C.)

A sua obra principal é História de Roma (Ab Urbe condita libri) que conta a história de Roma desde a sua fundação (por volta de 753 a. C.) até a morte do imperador romano Nero Cláudio Druso (9 a. C.).

Esta obra, composta de 142 livros, dos quais restam apenas 35, é uma das principais fontes históricas para o estudo da Roma Antiga (Monarquia, República e fase inicial do Império).

Tito Lívio celebra o passado de Roma e transforma a história num monumento patriótico.



In”Dicionário Larousse”


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Palavras de Tito Lívio:
“Quanto maior é o sucesso menos se pode confiar nele.”




domingo, 20 de novembro de 2016

FADO DA PARÓDIA À CASA DA MARIQUINHAS





FADO DA PARÓDIA À CASA DA MARIQUINHAS



É numa rua bizarra
a casa da Mariquinhas…
Tem na sala uma guitarra,
Janelas com tabuinhas.


Vive com muitas amigas
Aquela de quem vos falo,
e caso é que são de estalo
todas essas raparigas!
É doida pelas cantigas,
faz vida como a cigarra,
se geme o fado à guitarra
até parece que chora,
e a casa onde ela mora
é numa rua bizarra

Para se tornar notada
Usa coisas esquisitas.
Muitas rendas, muitas fitas,
E todas de cor variada.
Pretendida e desejada,
Não pensa em coisas mesquinhas
Nem se rala co´as vizinhas
Que bramam, constantemente,
Por verem cheia de gente
A casa da Mariquinhas.

A casa é simples, singela,
Não muito bem mobilada,
Mas vou falar-vos do nada
Que conheço em casa dela:
No vão de cada janela
Uma coluna e uma jarra,
móveis de forma bizarra,
quadros de gosto magano,
e, em vez de ter um piano,
tem na sala uma guitarra.

Para guardar seu espólio,
Um cofre-forte comprou
E, como a gás acabou,
O candeeiro é de petróleo.
Limpa seus móveis com óleo
de amêndoa doce, e as vizinhas
da casa da Mariquinhas
tentam ver que lá se passa,
mas ela tem, por pirraça,
janelas com tabuinhas.




in “A Paródia” – Caim - 12 de Janeiro de 1923
Imagem: pintura de Albino Moura (Lisboa, Portugal, 1940).





sábado, 19 de novembro de 2016

HELENA SÁ E COSTA - Pianista





Helena Sá e Costa (Porto, Portugal, 1913 – 2006).

Formou-se no Conservatório e estagiou em Paris e Berlim. 
Obteve os Prémios Beethoven e Moreira de Sá. 
Deu concertos por todo o mundo, tendo actuado com regentes de orquestra de nomeada. 
Como concertista participou em festivais famosos. 

Ensinou no Conservatório de Lisboa e do Porto e foi professora de Análise nos Cursos Musicais da Costa do Sol.    
Em 1978 participou como professora num curso internacional de música em Salzburgo (Áustria).  

Fez parte de júris dos concursos e provas internacionais. Com a sua irmã, a violoncelista Madalena Costa, formou um duo camarístico de grande projecção.



in “Portugal Século XX”



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Foi inaugurado, no Porto, a 19 de Maio de 2009, o Teatro Helena Sá e Costa, propriedade do Instituto Politécnico do Porto.







sexta-feira, 18 de novembro de 2016

ARIANO SUASSUNA - Aqui morava um rei




Ariano Suassuna (João Pessoa, Paraíba, Brasil, 1927 – Recife, Pernanbuco, 2014).

Foi dramaturgo, poeta e romancista.

Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol.

Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte (PE), onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.

Algumas das suas obras: Torturas de um Coração, O Castigo da Soberba, O Rico Avarento e o Auto da Compadecida, Romance d’A Pedra do Reino, Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana.



In “Academia Brasileira de Letras” (excertos e adaptação)

                                  
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Palavras de Ariano Suassuna:
"Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver."


           Aqui morava um rei

"Aqui morava um rei quando eu menino
Vestia ouro e castanho no gibão,
Pedra da Sorte sobre meu Destino,
Pulsava junto ao meu, seu coração.

Para mim, o seu cantar era Divino,
Quando ao som da viola e do bordão,
Cantava com voz rouca, o Desatino,
O Sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu pai. Desde esse dia
Eu me vi, como cego sem meu guia
Que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua efígie me queima. Eu sou a presa.
Ele, a brasa que impele ao Fogo acesa
Espada de Ouro em pasto ensanguentado."