domingo, 5 de maio de 2019

BEATRIZ COSTA - 'A Brasileira do Chiado dos Anos 30' - (VIII)


 BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907 - Lisboa, 1996)
Actriz de teatro e cinema

***
Perto do Teatro da Trindade, em Lisboa, fica o célebre café ‘A Brasileira’ do Chiado.
Nessa altura, uma senhora não frequentava lugares em que os homens permanecessem…

***
(continuação)

         A BRASILEIRA DO CHIADO DOS ANOS 30!


Augusto Pinto, jornalista, um dos homens mais elegantes e bem educados que «dormem de pantufas no meu coração». Nunca compreendi a razão que levou esse ilustre jornalista, que tanto dignificou a sua classe, a exilar-se em Berna. Tudo quanto ele escrevia era um primor de linguagem, estilo e sabedoria. Não fazia crítica de teatro, mas não perdia a oportunidade de me dirigir palavras de estímulo. Os casamentos de Santo António foram ideia sua!

Matos Sequeira. Conhecia Lisboa como eu conhecia as minhas preferências. Crítico teatral dos melhores. Grande poeta, teatrólogo. Uma das brilhantes culturas que ajudaram a gastar as pedras das mesas d´A Brasileira do Chiado. Mestre em vários assuntos da minha paixão. Foi o meu orientador em arqueologia. Era arqueólogo e ganhei muitas horas a seu lado falando do Vale dos Reis e duma civilização por onde andei mais tarde. Durante quase um ano carreguei pedras, frascos com areia do deserto e fragmentos de terracota colorida encontrados na antiga Babilónia. Só lamento não me ter sido possível carregar comigo uma daquelas pedras do Museu de Beirute, no Líbano, em que os Fenícios gravaram as letras do alfabeto, há milénios.

Carlos Queirós, jovem poeta de muitos quilates. Talento maiúsculo. Viveu pouco, mas «gostou muito» …Paris foi a sua última paisagem. Morreu lá. Gostei dele como de um irmão bom.

Álvaro de Andrade, um dos mais brilhantes jornalistas do meu país, entrava n´A Brasileira, tomava café e «capinava».

(continua)


in “Sem Papas na Língua” – Memórias - 1974
 







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