quarta-feira, 29 de maio de 2019

HENRIQUE REGO – Os Velhinhos




HENRIQUE REGO
(Lisboa, Portugal, 1893 – 1963)
Poeta

***

Henrique Rego não cantava as touradas, os retiros, a estúrdia, o marialvismo, o ciúme, a traição, ou o crime. No entanto, o rigor formal, a capacidade descritiva, a arte de envolver o leitor/ouvinte na acção, a densidade dos enredos, o perfil bem vincado das personagens eram patentes.

Nos temas, trouxe para o Fado um bucolismo evocador da vida simples da província, num estilo igualmente simples, despretensioso e fluente; por isso mesmo, em perfeita sintonia com os conteúdos.

***
OS VELHINHOS

Sentados nos degraus musgosos duma ermida
Dois velhos aldeões mortinhos de saudade
Com palavras de amor cândidas como as rosas
Lembravam com ternura a morta mocidade

Nos olhos do velhinho e com doce lembrança
Transparecia o amor do tempo já passado
E da velhinha a voz imersa em confiança
Lembrava um par gentil em dia de noivado

Eu tenho uma ambição, um grande e vasto sonho
Diz o velhinho em voz de estática doçura
Já que Deus nos uniu neste mesmo lar risonho
Só peço que nos dê a mesma sepultura.



in “Poetas Populares do Fado Tradicional” – Daniel Gouveia e Francisco Mendes.




Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...