HENRIQUE REGO
(Lisboa, Portugal, 1893 – 1963)
Poeta
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Henrique Rego não cantava
as touradas, os retiros, a estúrdia, o marialvismo, o ciúme, a traição, ou o
crime. No entanto, o rigor formal, a capacidade descritiva, a arte de envolver
o leitor/ouvinte na acção, a densidade dos enredos, o perfil bem vincado das
personagens eram patentes.
Nos temas, trouxe para o
Fado um bucolismo evocador da vida simples da província, num estilo igualmente
simples, despretensioso e fluente; por isso mesmo, em perfeita sintonia com os
conteúdos.
***
OS VELHINHOS
Sentados
nos degraus musgosos duma ermida
Dois
velhos aldeões mortinhos de saudade
Com
palavras de amor cândidas como as rosas
Lembravam com ternura a morta mocidade
Nos
olhos do velhinho e com doce lembrança
Transparecia
o amor do tempo já passado
E
da velhinha a voz imersa em confiança
Lembrava um par gentil em dia de noivado
Eu
tenho uma ambição, um grande e vasto sonho
Diz
o velhinho em voz de estática doçura
Já
que Deus nos uniu neste mesmo lar risonho
Só peço que nos dê a mesma sepultura.
in “Poetas Populares do Fado
Tradicional” – Daniel Gouveia e Francisco Mendes.
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