quarta-feira, 22 de maio de 2019

ISABEL WOLMAR - "A Vida com um Sorriso"

 

ISABEL WOLMAR

(Lisboa, 21 de Março, 1933 – 21 de Julho, 2019)
Locutora, apresentadora, produtora de Rádio e Televisão

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REFLEXÕES DE ISABEL WOLMAR


“Posso dizer que tive uma infância feliz, mas era uma criança estranha, solitária, mais amiga dos livros e da natureza do que de outras crianças. Esses eram os meus dois mundos. Ao passar férias no campo, saía com uma merenda, deliciava-me sob uma árvore e chegava mesmo a falar com ela, enquanto escutava o ruído do vento por entre as folhas.”

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“Eu despertei interiormente para a vida ainda muito nova. Quando tinha 12 anos, a professora de Literatura deu-nos Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco para ler. Foi nessa altura que acordei para as Letras. Comecei a ter percepção do que estava à minha volta, até porque era observadora, via, ouvia e ficava com a informação cá dentro; pouco falava.”

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“A aviação não foi a única modalidade que me entusiasmou. Tirei a carta com 27 anos e comprei um Fiat 600. Fiz milhares de quilómetros ao volante. Quando a televisão começou a organizar corridas, eu participava. Houve um ano em que ganhei todas as provas. Acho que fui uma das primeiras mulheres a poder andar no autódromo do Estoril num Fórmula 5. Uma sensação única!”

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“Fiz muito desporto e também ballet, que é uma grande paixão minha. Fiz também karting e equitação. Cheguei a ter aulas de motonáutica, que ainda não era praticada por mulheres. Quando tive o primeiro acidente de viação, com 31 anos, tive que deixar os desportos. Custou-me sobretudo deixar a equitação, que me dava uma sensação de liberdade única, e ficou-me atravessado o pára-quedismo, que acabei por nunca poder experimentar.”

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“A minha vida profissional foi boa, se bem que eu não tivesse querido ir para a televisão. No início, eu não acreditava em mim, achava que não fazia nada de especial, que tinha um trabalho como outro qualquer, e não percebia o reconhecimento que as pessoas me davam. Esse reconhecimento marcou-me. Os amigos que fiz e a camaradagem também. Acho que podia ter tomado algumas decisões profissionais de forma diferente, podia ter sido mais ambiciosa, mas nunca fui. A vida é mesmo assim e eu não me queixo. Nada do que fiz foram sacrifícios, foram escolhas. Às vezes, más escolhas, mas não sacrifícios.”

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“Um dia, estava eu a fazer o telejornal e, no final, o presidente da televisão telefonou-me: «a senhora no ar disse isto assim, assim e assim…» Desculpe, senhor presidente, mas não disse. «Ai isso é que disse, que eu ouvi!» Desculpe, mas tenho absoluta certeza que não disse. O senhor tem a prova. Oiça a gravação e vai ver. No dia seguinte, ele mandou chamar-me ao gabinete: «eu peço-lhe imensa desculpa, minha senhora.» Senhor presidente, eu quando tenho a certeza de uma coisa, nem que venha Deus à terra, caso contrário, nunca afirmaria.

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“É um bocado difícil de dizer se gosto da vida. Nunca fui muito amante dela. Fui sempre uma criança muito solitária e em adulta sempre gostei de passar tempo sozinha. Gosto de ler, ouvir música, ouvir as ondas do mar, ouvir cavalos selvagens à solta, gosto de gaivotas, das árvores, das dunas no deserto, do riso de crianças, do teatro, do ballet. Gosto de tantas coisas… muitas posso, e gosto, de fazer sozinha.

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“Tive bons amigos, poucos mas bons, alguns deles já falecidos. Mas às vezes, apanhamos desilusões… eu apanhei grandes marteladas de pessoas a quem estimava do coração. Não se compreende. Como é que as pessoas conseguem mostrar uma coisa e depois ser o reverso?”

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“O Carlos Pinto Coelho chamou-me para directora do departamento internacional, mas eu recusei, em benefício de outra pessoa. Não vou fazer isso, disse eu. Vi-me tão aflita, que não dormia. Eu não posso fazer isto à outra pessoa, que tem problemas tão graves de família e precisa do trabalho mais do que eu. Não vou, não vou. Não aceitei, pensando que ajudava, mas tramei-me. Um ano depois de eu ter saído, essa pessoa a quem eu dei o meu lugar, disse-me: «eu sei que se reformou por minha causa, mas eu não lhe agradeço.» Não diga mais nada. Ficámos assim. O mal está feito, a pessoa já morreu e eu já lhe perdoei.”

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“Quando o Hotel Alvor, no Algarve, foi inaugurado, eu fazia lá três espectáculos diários ao vivo. Quase não dormia e trabalhava até às cinco da manhã todos os dias. Lembro-me que a Beatriz Costa estava no público num dos dias e ouviu-me cantar o Fado Hilário. As pessoas adoraram. “

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“Alguns temas da actualidade preocupam-me, sobretudo ao nível da educação de crianças e jovens.”

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“Às vezes, começo a pensar em que altura gostei mais da minha vida. Não sei… é que sempre que eu estava a ter uma altura boa, havia sempre qualquer coisa má que me acontecia. Portanto, eu estou cá porque naturalmente fiz coisas muito más, tenho um karma muito pesado e tenho obrigação de o pagar. Não acredito, sinceramente, que morremos e que tudo acaba!

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“Eu li muito sobre o assunto da morte. E digo que há pessoas que têm muito medo da morte. O momento mais feliz da minha vida foi quando estive do outro lado…Tenho muita pena de não ter ficado lá. A morte da minha mãe e da minha irmã são as maiores infelicidades que tive na vida.”


in “A Vida com um Sorriso”

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DEIXAI OS POETAS GRITAR O SEU SONHO


Que vento é este que sopra no coração dos homens,
que leva a matar, prendendo nas mãos convulsas pedras de sangue?

Que vento é este que sopra no coração dos homens
quando o sol grita nos metais das armas,
confundindo os gritos de dor com o sibilar das balas?

E o ritmo perturbador de solitários gemidos nocturnos?
E a fome das crianças de ventres inchados?
Que vento é este que sopra no coração dos homens?!!!

Oh! Jerusalém! Jerusalém!
Poderão meus rios de lágrimas
lavar o sangue derramado, em vão, por ELE?
Escutai poetas de todas as Terras, Raças e Credos.
Convocai Haduhd, o Pássaro maravilhoso,
e turbilhões de pombas batendo asas de neve
para levarem de Zenith até Nadir a vossa mensagedilatando o tempo num pulsar onírico.
E com a alvorada debruçada sobre um mundo novo,
os olhos húmidos das nuvens
cobrirão a Terra de Bênçãos de AMOR e PAZ.
Deixai os Poetas gritar o seu sonho…


Isabel Wolmar
20 Novembro 2009

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