quinta-feira, 15 de agosto de 2019

ISABEL WOLMAR – A Rádio




ISABEL WOLMAR
(Lisboa, Portugal, 21 de Março, 1933 – 21 de Julho, 2019)
Locutora, apresentadora, produtora, repórter, actriz, poetisa, declamadora.

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A RÁDIO


Os anos da rádio foram muito férteis na minha aprendizagem. Cantei, fiz teatro radiofónico, recitais de poesia, documentários, reportagens, misturas musicais, publicidade, escrevi e interpretei folhetins (novelas radiofónicas). Fiz tanta coisa nas várias estações, que me é difícil recordar de tudo. Tive grandes mestres que me deram uma sólida escola profissional e de amizade que jamais esquecerei.

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Tinha eu 7 anos quando, pela mão do meu pai, me estreei com os meus irmãos no antigo Rádio Clube Português, na Parede, nas emissões infantis dirigidas pelo Manuel Lereno. Foi com esse grande actor e mestre que realmente aprendemos todos a representar. Éramos conhecidos como os irmãos Marques Silva e começámos a ser assediados para ir cantar a festas desde cedo. 

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Aos 9 anos, comecei a fazer teatro radiofónico. Trabalhava com os maiores artistas época: António Silva e Josefina Silva, Carmen Dolores, Laura Alves, Álvaro Benamor, Rogélio Paulo, Paulo Renato, entre outros. 

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Quando eu tinha 12 anos, transitei com os meus irmãos para as emissões infantis da Madalena Patacho, na Emissora Nacional, onde íamos cantar música do meu pai, a duas e três vozes para as histórias infantis. Mas depois, perceberam que tínhamos jeito e começámos também a interpretar. Fazíamos todos os papéis das histórias: grilos, alfaces, formigas, abelhas… tudo! Eram histórias muito queridas e ainda hoje as pessoas se lembram delas e me dizem que já não há histórias assim.


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Quando tinha uns 16 anos – já estava em simultâneo na Emissora Nacional – a sorte bafejou-me, porque o Álvaro Benamor ia fazer par com a Carmen Dolores no folhetim radiofónico da E.N. Úrsula Mirouët, de Balzac, mas como a Carmen teve de deslocar-se ao Brasil, lembraram-se de mim para a substituir. Ao princípio, o Álvaro ficou indeciso porque era um papel muito intenso, muito difícil. Mas consegui fazê-lo e foi um êxito.

Lembro-me também de ter feito a peça A Menina da Fonte das Bicas, em que o Ruy de Carvalho era o meu par romântico. Ele estava muito nervoso, porque era a primeira vez que trabalhava em teatro radiofónico. E eu, a miúda, a dizer-lhe que não era difícil. Sim, porque era miúda, mas já já ´batida` em rádio.

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Líamos todos muito bem, eu e os meus irmãos. E tinha mesmo que ser, porque as emissões eram em directo e o Pedro Moutinho e o Artur Agostinho faziam-nos partidas: tiravam-nos os papéis quando estávamos a ler! Mas isso deu-nos um traquejo formidável, sobretudo a mim e à minha irmã Maria Helena, quando ela foi para os Parodiantes de Lisboa. Além disso, o Manuel Lereno, que foi um grande mestre, também nos fazia ler as coisas de caras, logo à primeira e com a entoação certa, o que me ajudou muito na minha vida profissional, a fazer teatro, rádio e televisão.

Quando o Tomás Alcaide foi dirigir operetas, transmitidas pela E.N., eu fiz parte do elenco da Viúva Alegre e de outras. Na Emissora fiz também o programa de Poesia, Música e Sonho, da autoria de Miguel Trigueiros, onde lia poesia com Manuel Lereno e fiz com ele vários recitais pelo país.

Mais tarde, fui convidada a fazer parte do programa Arco-Íris, de autoria de Francisco Mata, com Raul Solnado, Maria Leonor e Fernando Pessa, com sonorização de Jorge Alves. Foi uma grande lição para uma jovem como eu trabalhar com esta equipa num programa que viria a ganhar vários prémios de Melhor Programa de Entretenimento, atribuídos pela imprensa. Aprendi imenso e uma amizade muito intensa perdurou até à morte deles.


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Prefiro enfatizar o lado engraçado da vida. É esse lado que eu gostaria que recordassem sempre.


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in “A Vida com um Sorriso” – Patrícia Costa Dias






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