JUDITE TEIXEIRA
(Viseu, Portugal, 1880 -
Lisboa, 1959)
Escritora, poetisa
***
Judite Teixeira representa um caso singular na história literária em Portugal não só pelo escândalo suscitado aquando a condenação e apreensão da sua colectânea poética de 1923, Decadência, mas também pelo injusto esquecimento da sua contribuição literária, especialmente no discurso modernista das letras portuguesas.
No entanto, como observou um dos poucos críticos que soube avaliar objectivamente a sua escrita - o poeta António Manuel Couto Viana - Judite Teixeira poderia ser considerada. dentre as escritoras portuguesas, a "única poetisa modernista".
René P. Garay
***
A BAILARINA VERMELHA
Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir…
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca – romã luzente,
a refulgir!…
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida…
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!…
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis…
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris…
Um jeito mais quebrado no andar…
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás…
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!…
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas… desgrenhadas!…
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor…
E nos seus braços endoidecem
as anilhas d’oiro refulgindo
num feérico clamor!…
E ela passa…
Fulva, esguia, incoerente…
Flor de vício
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!…
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
… a bailar…
a bailar!…
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir…
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca – romã luzente,
a refulgir!…
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida…
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!…
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis…
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris…
Um jeito mais quebrado no andar…
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás…
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!…
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas… desgrenhadas!…
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor…
E nos seus braços endoidecem
as anilhas d’oiro refulgindo
num feérico clamor!…
E ela passa…
Fulva, esguia, incoerente…
Flor de vício
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!…
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
… a bailar…
a bailar!…
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