ISABEL WOLMAR
(Lisboa, Portugal, 21 de Março, 1933 – 21 de Julho,
2019)
Locutora,
apresentadora, produtora, repórter, actriz, poetisa, declamadora
***
A TELEVISÃO (I)
«O Rui Ferrão já colaborava com a minha família nas emissões infantis da Emissora Nacional e foi ele que me levou para a televisão para participar numa peça que ele ia realizar, A Carochinha e o João Ratão. Foi a primeira emissão de Teatro televisivo infantil que houve em Portugal, adaptada por Noel de Arriaga, com música do meu pai. Eu fazia de Carochinha e o Rui Luiz era o João Ratão.
A partir daí interpretei várias peças na TV: A Sapateira Prodigiosa, com Amália Rodrigues e Barreto Poeira; em O Ídolo de Ouro protagonizei um par romântico com Carlos José Teixeira; e participei em muitos programas infantis.
*
Devo
muito na televisão ao Fernando Pessa, ao Luís Andrade e ao seu irmão, Vítor
Manuel.
Fernando
Pessa foi um mestre e um grande amigo. Aprendi com ele a fazer ´cabine`. Eu
estava habituada ao teatro radiofónico, a saber dizer, a falar, a respirar,
porque tinha tido essa educação, sobretudo do Manuel Lereno, mas o Fernando
Pessa ensinou-me a fazer reportagem, por exemplo.
Depois, quando passei para a produção
e nada sabia daquele mundo, o Vítor Manuel, que já tinha feito filmes, veio ter
comigo: «eu já percebi que você gosta e quer aprender, mas não sabe como. Eu
mostro-lhe.» Ele e o Luís Andrade foram pessoas que viram que eu gostava de
aprender e ensinaram-me. E eu, na televisão, fiz tudo.
Até
varri o chão!
*
E só posso dizer que estava escrito
que a minha sina era mesmo a TV, porque no dia em que assinei o contrato,
cheguei a casa e tinha um recado: o Raul de Carvalho tinha telefonado para me
dizer que a Dona Amélia Rey Colaço tinha um papel para mim. Só para interpretar a protagonista de Miss Julie, de Strindberg!
Estava fora
de questão eu aceitar, porque o contrato com a televisão obrigava-nos à
exclusividade. Ora, bastava aquele telefonema ter sido meia hora mais cedo e hoje
podia ser actriz. Por isso costumo dizer que houve uma mão divina que me levou
para a televisão. E por muito que eu quisesse o teatro, quando faço uma coisa,
tenho que a fazer bem feita.
E
fiz boa televisão.»
in “A Vida com um Sorriso” – Patrícia Costa Dias (excertos)
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