ARY DOS SANTOS
(Lisboa, Portugal, 1937 – 1984)
Poeta,
declamador, publicitário
***
RETRATO DE GUERRA
JUNQUEIRO
As palavras são cascos. A pátria é uma égua
quem na sabe montar leva à arreata
este país de espera este luar de prata
esta secreta mula que desata
mondegos de erva e arraiais de nata.
És a guerra dos versos. O rafeiro
o estrumado poeta és o primeiro
filho da pata que se pôs em todos.
Tens de juncar de cardos o canteiro
parir os simples primeiros
e depois torná-los godos.
Assim malandro. Assim maldito. Assim canção
levantas o poema até ao gume
e cortas a cabeça da nação
enquanto a pões ao lume.
Neste lugar se morre a fogo lento.
Neste poema as rimas se entreodeiam.
É preciso cobrir o desalento;
Ah macho das
palavras que escouceiam!
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