EDUARDO GALEANO
(Montevideu, Uruguai,
1940 – 2015)
Escritor
***
CELEBRAÇÃO DO RISO
José Luís Castro, o
carpinteiro do bairro, tem muito boas mãos. A madeira, que se sabe amada por
ele, deixa-se moldar.
O pai de José Luís chegara ao rio da Prata vindo de uma aldeia de Pontevedra. O
filho recorda o pai, o rosto inflamado sob o chapéu panamá, a gravata de seda
no colarinho do pijama azul-celeste, e sempre, sempre a contar histórias
divertidas. Onde ele estava, recorda o filho, o riso acontecia.
Vinham de toda
a parte para se rirem, quando ele contava contos, e o gentio amontoava-se. Nos
velórios, era necessário levantar o caixão, para que todos coubessem - e assim
o morto ficava de pé, para ouvir com o devido respeito aquelas coisas ditas com
tanta graça.
E de tudo o que José Luís aprendeu com o pai, isto foi o principal:
- Importante é rirmo-nos — ensinou-lhe o velho. - E rirmo-nos juntos.
- Importante é rirmo-nos — ensinou-lhe o velho. - E rirmo-nos juntos.
in “O Livro dos Abraços” (Citador)
Sem comentários:
Enviar um comentário