ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA
(Viana do Castelo, Portugal, 1923 -
Lisboa, 2010)
Poeta,
dramaturgo, encenador
***
SAUDADE DE UM CORPO
Os nossos corpos tinham não sei que
primavera,
Quando em noites de Maio, na influência da
lua,
Florescia entre nós um silêncio de espera,
Se a minha mão pousava na tua.
Tímidos e febris, só os sentidos falavam,
Até que a tua voz, expulsando o torpor,
Receosa, talvez, de uns passos que
passavam,
Se punha a divagar sobre a noite e o calor.
Nunca nos acalmou a frescura de um beijo
É feliz a amizade! E o amor é tão sério
Que cada um guardou, para si, o desejo,
Temendo ver voar a asa do mistério.
Arrependido? Sim: preferia recordar
Um corpo saciado, a um corpo reprimido;
O momento fremente de o despir e enlaçar
E de o sentir ranger, como range um
vestido.
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