David Mourão Ferreira nasceu no dia 24 de Fevereiro de 1927. Viveu até
16 de Junho de 1996.
Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade
de Letras de Lisboa, onde foi professor.
Fundou a revista “Távola Redonda”. Colaborou na “Seara
Nova”, “Graal”, “Vértice” e no “Diário Popular”.
Dirigiu o jornal “A Capital” e a revista
“Coloquio/Letras” da Fundação Calouste Gulbenkian.
Como Secretário de Estado da Cultura, no período
1976-1978, criou a Companhia Nacional de Bailado.
Foi autor de alguns programas culturais na rádio e na
RTP.
A partir de 1981, dirigiu o Serviço de Bibliotecas
Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian.
A sua carreira
literária iniciou-se em 1945, com a publicação de alguns poemas na revista “Seara
Nova”.
David Mourão Ferreira foi poeta, romancista,
crítico e ensaísta.
A sua poesia
tem a mulher e o amor como temas privilegiados do seu talento.
É, justamente, um dos grandes poetas do século XX.
Amália Rodrigues cantou alguns dos seus poemas, que
ficaram na nossa memória: “Maria Lisboa”; “Fado Peniche”; “Nome de Rua”; “Sombra”,
e o celebérrimo “Barco Negro”.
Ao longo da sua vida de escritor, recebeu inúmeros
prémios e consagrações.
Ternura
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão Ferreira, in “Infinito
Pessoal”.
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