quinta-feira, 5 de setembro de 2013

RAUL DE CARVALHO

 
        Raul de Carvalho nasceu no Alvito, Baixo Alentejo, no dia 4 de Setembro de 1920, e viveu até 3 de Setembro de 1984.
        Poeta com ligação ao neo-realismo, foi colaborador das revistas “Cadernos de Poesia” e “Távola Redonda”.
        Publicou diversos livros de poesia: “As Sombras e as Vozes”; “Poesia”; “Mesa de Solidão”; “Parágrafos”; “Tautologias”; “Poema Inactuais”.
        Em 1993, foi editado, postumamente, o livro: “Obras de Raúl de Carvalho”.
        Em 1956, recebeu o “Prémio Simón Bolívar”, em Itália.
 
 Coração sem Imagens
 
Deito fora as imagens.
Sem ti, para que me servem
as imagens?
 
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em qualquer parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
 
 
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
Numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
 
 
Serei feliz sem as imagens
As imagens não dão
Felicidade a ninguém.
 
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
 
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
 
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
 
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
 
Raúl de Carvalho, in “Obras de Raul de Carvalho”
 
 
 

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