quarta-feira, 9 de outubro de 2013

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO


 

         Mário de Sá-Carneiro nasceu em Lisboa no dia 19 de Maio de 1890. Viveu até 26 de Abril de 1916.

Foi poeta e ficcionista, um dos nomes mais relevantes do modernismo e da literatura portugueses.

Em 1911, matriculou-se na Faculdade de Direito, em Coimbra, mas desistiu alguns meses depois. O mesmo sucedeu em Paris, para onde foi com a intenção de frequentar as aulas na Sorbonne.

Entre 1912 e 1916, escreveu a maior parte da sua obra poética. Durante esse período manteve correspondência assídua com o seu grande amigo e confidente Fernando Pessoa, que foi, em 1959, reunida em dois volumes.

 Com Pessoa, Almada Negreiros, Luís de Montalvor, Alfredo Guisado e Armando Cortes-Rodrigues, fundou a revista “Orfheu” que teve um papel essencial na renovação literária do século XX.

 
Além-tédio

 
Nada me expira já, nada me vive

Nem a tristeza nem as horas belas.

De as não ter e de nunca vir a tê-las,

Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,

Dormir em paz num leito de hospital...

Cansei dentro de mim, cansei a vida

De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus

À força de ambição e nostalgia,

E doente-de-Novo, fui-me Deus

No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,

Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:

A quimera, cingida, era real,

A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura

Baixou-me assim na queda sem remédio;

Eu próprio me traguei na profundura,

Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:

É que, de tão iguais e tão vazios,

Os instantes me esvoam dia a dia

Cada vez mais velozes, mais esguios...

 

Mário de Sá-Carneiro, in “Dispersão”.

 


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