João
de Deus nasceu em S. Bartolomeu de Messines, no dia 8 de Março
de 1830. Viveu até 11 de Janeiro de 1896.
Estudou
no Seminário em Coimbra, donde saiu para ingressar na Universidade da mesma
cidade.
Foi
poeta, advogado, jornalista e um distinto pedagogo.
A
sua obra poética está incluída na Colectânea “Campos de Flores”.
Em
1876, publicou a “Cartilha Maternal”, que se destinava a servir de base para o
ensino da leitura às crianças. Durante mais de cinquenta anos foi usada nas
escolas portuguesas.
Um
grupo de amigos de João de Deus lançou a “Associação das Escolas Móveis pelo
Método de João de Deus”. Tempos depois, estas escolas evoluíram para Jardins
Escolas e Escolas fixas.
João
de Deus foi alvo de várias homenagens.
Mas, a homenagem mais sentida, foi organizada
por iniciativa dos estudantes de Coimbra. O “Poeta do Amor”, como era
conhecido, agradeceu essa manifestação de apreço, declamando de improviso:
Estas honras e este culto
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
Mas a mim, poeta inculto,
Espontâneo, popular...
É deveras singular!
Bem se podiam prestar
A homens de grande vulto.
Mas a mim, poeta inculto,
Espontâneo, popular...
É deveras singular!
João de Deus,
impulsionado por amigos, teve uma breve passagem pela política. Apresentou-se
às eleições gerais de 22 de Março de 1868, como candidato independente pelo
círculo de Silves. Saiu vitorioso e iniciou a sua actividade parlamentar.
O seu desapreço pelo
Parlamento ficou registado pelas seguintes declarações publicadas no jornal
“Correio da Noite”:
- "Que diacho querem
vocês que eu faça no Parlamento? Cantar? Recitar versos? Deve ser (…) gaiola
que talvez sirva para dormir lá dentro a ouvir música dos outros pássaros.
Dormirei com certeza!"
Primeiro
Amor
Ó Mãe... de minha mãe!
Explica-me o segredo
que eu mesmo a Deus sem medo
não ia confessar:
Aquele seu olhar
persegue-me, e receio,
pressinto no meu seio
ergue-se-me outro altar!
Eu em o vendo aspiro
um ar mais puro, e tremo...
Não sei que abismo temo
ou que inefável bem...
Oh! E como eu suspiro
em êxtase o seu nome!...
Que enigma me consome,
ó Mãe de minha mãe!
Explica-me o segredo
que eu mesmo a Deus sem medo
não ia confessar:
Aquele seu olhar
persegue-me, e receio,
pressinto no meu seio
ergue-se-me outro altar!
Eu em o vendo aspiro
um ar mais puro, e tremo...
Não sei que abismo temo
ou que inefável bem...
Oh! E como eu suspiro
em êxtase o seu nome!...
Que enigma me consome,
ó Mãe de minha mãe!
João
de Deus, in “Campo de Flores”