quinta-feira, 30 de abril de 2020

A ROUPA DO MEU AMOR




A ROUPA DO MEU AMOR

A roupa do meu amor
Não é lavada no rio:
É lavada no mar alto
à sombrinha do navio.
Não é lavada no rio
A roupa do meu amor:
É lavada no mar largo
à sombrinha do vapor.

Já corri o mar em roda
Co’ma vela branca acesa;
Em todo o mar achei fundura
Só em ti pouca firmeza.

Já corri o mar em volta
nas asas duma cegonha;
Não há que fiar nos homens,
Qu’eles não têm vergonha!

Já passei o mar a nado,
nas ondas do teu cabelo,
Agora já posso dizer:
-Já passei o mar sem medo!

Já passei o mar a nado,
Co’ma vela branca acesa;
Em todo o mar topei fundo
Só em ti pouca firmeza.


Quadras recolhidas por José Leite de Vasconcelos, filólogo, etnógrafo (Portugal, 1858 – 1941).

Imagem: pintura de Vincent van Gogh (Holanda, 1853 – França, 1890) 









quarta-feira, 29 de abril de 2020

MÁRIO BEIRÃO - Enlevo



MÁRIO BEIRÃO
(Beja, Portugal, 1890 - Lisboa, 1965)
Poeta

***

Pertenceu ao grupo saudosista aglutinado à volta da revista A Águia. Já então, a par das características saudosistas, manifesta um tom populista precursor quer do telurismo de Miguel Torga quer do regionalismo dos neo-realistas. 

A primeira fase da sua obra compõe-se dos poemas integrados no movimento da Renascença Portuguesa. 

Na segunda fase canta sobretudo a paisagem alentejana e a «ausência» A partir de 1940 tende para a exaltação do nacionalismo monárquico.


in “Portugueses Célebres”

***
ENLEVO
Porque esse olhar de sombra de temor
Se perde em mim, às horas do sol posto,
Quando é de âmbar translúcido o teu rosto,
E a tua alma desmaia como flor;

Porque essas mãos, ardidas de fervor,
Ampararam minha vida de desgosto,
Pobre que sou, Mulher, eu hei composto
Harmonias de prece em teu louvor!


Dei-te a minha alma para ti nascida,
Meus versos que são mais que a minha vida;
Por Deus, perdoa ao mísero mendigo!

Perdoa a quem, ansioso de outro mundo,
Implora à Morte o sono mais profundo,
Só pela graça de sonhar contigo!




terça-feira, 28 de abril de 2020

JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA - Os porquês do amor



JOSÉ ANASTÁCIO DA CUNHA
(Lisboa, Portugal, 1744 - 1787)
Cientista, poeta, tradutor, professor

***

Poeta de raiz arcádica, educado pelos Oratorianos, com quem estudou, foi elevado a catedrático de Geometria pelo Marquês de Pombal, quiçá em virtude do seu racionalismo que, embora tolerante, o levara, algumas vezes, a manifestar a sua dúvida em coisas da religião. 

Atitude que, mais tarde, no reinado de D. Maria I, dera origem á sua prisão, durante três anos, e à sua reconciliação com a Igreja, num acto de fé em que foi obrigado a apresentar-se descalço e em hábito de penitência.

É considerado um dos pré-românticos portugueses.


in “Literatura Portuguesa”

***

OS PORQUÊS DO AMOR

Céu, porque tão convulso  e consternado
Me bate, ao Vê-la, o coração no peito?
Porque pasma entre os beiços congelado,
Indo a falar-lhe, o tímido conceito?

Porque nas áureas ondas engolfado
Da caudalosa trança, inda que afeito,
Me naufraga o juízo embelezado,
E em ternura suavíssima desfeito?


Porque a luz dos seus olhos, tão activa,
Por lânguida inda mais encantadora,
Me cega, e por a ver, ansioso, clamo?

Porque da mão nevada sai tão viva
Chama, que me electriza e me devora?
Os mesmos meus porquês me dizem: - Amo!











segunda-feira, 27 de abril de 2020

ATLÂNTIDA




ATLÂNTIDA


Continente perdido descrito pelo filósofo grego Platão, há mais de 2000 anos.

Diz-se que a Atlântida foi uma maravilha de prosperidade e engenharia avançada, desfrutadas por uma sociedade justa e pacífica até esta ser corrompida pelas suas riquezas.

Os deuses desencadearam então tremores de terra e inundações contra a Atlântida, até que ela foi engolida pelo mar.

Esta lenda pode ter sido apenas uma fábula moral inventada por Platão, mas os historiadores discutem ainda a possível existência desse continente e a sua presumível localização geográfica.

Alguns investigadores pensam que a Atlântida de Platão pode ter sido inspirada na civilização minóica de Creta destruída cerca de 1500 a.C. por uma série de desastres naturais.

Descobertas arqueológicas sugerem que a ilha de Santorino, 112 km ao norte de Creta, pode ter sido a própria Atântida.





in “Dicionário do Conhecimento Essencial”





domingo, 26 de abril de 2020

LIMA DE FREITAS – Pablo Picasso (I)



LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor

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Lima de Freitas é considerado um “Artista Total”, com um importante percurso criativo e humanista na cultura portuguesa contemporânea: pintor, ilustrador, ensaísta e brilhante investigador. Foi membro fundador da CIRET em Paris, a partir de 1992 da Comissão Consultiva junto da UNESCO para a transciplinaridade. 
É autor de ensaios e livros sobre temas de semiótica visual, estética e simbologia, bem como de inúmeros escritos sobre arte.

Fonte: “Centro Português de Serigrafia” (excerto)

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PABLO PICASSO (I)

O pintor mais célebre em todo o mundo é, por certo, Pablo Picasso. Célebre não apenas como pintor, no círculo daqueles que se interessam pela pintura, mas célebre também como homem; melhor, célebre como símbolo, como lenda, como mito. O seu nome é conhecido mesmo por pessoas incapazes de distinguir um quadro seu (corre entre nós o curioso substantivo «picassisse»); dir-se-ia que Picasso é qualquer coisa que transcende a sua obra e que a sua fama se dissociou, de algum modo, das obras que a explicariam.

Ao cabo de mais de meio século de crises, debates, escândalos e choques de correntes e tendências, em que Picasso, quase sempre, tomou parte preponderante e muitas vezes essencial, talvez tenha chegado o momento, enfim, de considerar a sua importância sem descambar numa das atitudes habituais: a atitude dos filisteus, que o condenam sem apelo, por charlatão ou «decadente», e a atitude dos que o incensam como a um semi-deus omnipotente, incapaz de fazer outra coisa além de milagres e obras-primas.


(continua)


in ”Voz Visível” – Ensaios - 1971







sábado, 25 de abril de 2020

AMÉLIA REY COLAÇO – Época angular



AMÉLIA REY COLAÇO
(Lisboa, Portugal, 1898 - 1990)
Encenadora, actriz, empresária teatral 

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Amélia Rey Colaço

Descendente de aristocratas e artistas (o pai era o compositor Alexandre Rey Colaço, professor dos príncipes, a avó, a célebre Madame Reinhardt, com salão literário e musical em Berlim), Amélia beneficiou, desde criança, de uma formação invulgarmente aprofundada e requintada.

A concepção que ela tinha do que devia ser uma companhia nacional resultou em pleno. Actuando em vários planos, estrutura, primeiro, uma equipa coesa e disciplinada, metódica e exigente; a seguir, joga na dignificação social do actor, conquistando para ele um estatuto inovador no nosso meio; ao mesmo tempo, organiza um reportório ambicioso, alternando contemporâneos com clássicos, estrangeiros com portugueses. Abre (e nisso foi única) as portas à dramaturgia interna, fomentando-a, recompensando-a como ninguém mais conseguiu depois dela.

O incentivo dado aos autores nacionais fê-los conhecer, contra a Censura e o dirigismo cultural, uma época de oiro. José Régio, Luís Francisco Rebelo, Bernardo Santareno, Romeu Correia, Miguel Franco são alguns dos que, então, se afirmaram.

«Nesse período admirável de ressurgimento da nossa dramaturgia são levadas à cena 116 peças portuguesas, 63 em estreia absoluta», anota Vítor Pavão dos Santos, para quem a Companhia Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro «é a espinha dorsal do teatro português do século XX».

Com ousadia revela, por outro lado, o que de mais avançado surge no mundo: Jean Cocteau, Jean Anouih, Lorca, Valle Ínclan, Alejandro Casona, O´Neill, Tennessee Williams, Arthur Miller. Pirandelo, Eduardo De Filippo, Diego Fabri, Max Frisch, Ionesco, Durrenmatt, Albee, Pinter, Pirandelo.

Apaixonada por Brecht, pede ao ministro da Educação (entidade que tutelava o Teatro Nacional) uma audiência. Ao entrar no seu gabinete, o governante diz-lhe: «Se vem cá pedir para eu autorizar esses comunistas de que gosta, o Brecht, o Camus, o Sartre, pode ir-se embora.»

Amélia pára e diz: «Então boa tarde!»
Dá meia volta.




in “Os Mal-Amados” - FERNANDO DACOSTA (Caxito, Angola, 1945), romancista, dramaturgo, jornalista.



sexta-feira, 24 de abril de 2020

O SABOR DE PERDER




O SABOR DE PERDER


Nasrudin viu um homem sentado à beira de uma estrada, com ar de completa desolação.

- O que o preocupa? – quis saber.

- Meu irmão, não existe nada interessante na minha vida. Tenho dinheiro suficiente para não precisar trabalhar e estava viajando para ver se havia alguma coisa curiosa no mundo. Entretanto, todas as pessoas que encontrei nada têm de novo para me dizer e só conseguem aumentar meu tédio.

Na mesma hora, Nasrudin agarrou a mala do homem e saiu correndo pela estrada. Como conhecia a região, rapidamente conseguiu distanciar-se dele, pegando atalhos pelos campos e colinas.

Quando se distanciou bastante, colocou de novo a mala no meio da estrada por onde o viajante iria passar e escondeu-se atrás de uma rocha. 

Meia hora depois, o homem apareceu, sentindo-se mais miserável que nunca, por causa do ladrão que encontrara.
Assim que viu a mala, correu até ela e abriu-a, ofegante. Ao ver que o seu conteúdo estava intacto, olhou para o céu cheio de alegria e agradeceu ao Senhor pela vida.

“Certas pessoas só entendem o sabor da felicidade quando conseguem perdê-la”, pensou Nasrudin, olhando a cena.





in “Parábolas e Contos de Nasrudin” – organizado por Alexander Rangel. 





quinta-feira, 23 de abril de 2020

ABOMINÁVEL HOMEM DAS NEVES




ABOMINÁVEL HOMEM DAS NEVES


Homem-animal peludo, que se diz viver nos Himalaias e é localmente conhecido por iéti.

Segundo o folclore local, os iétis seriam descendentes de um rei macaco que casou com uma ogra.

Apesar das notícias sobre a descoberta de pegadas extraordinárias, não há ainda prova evidente da existência do abominável homem das neves nem do seu equivalente ocidental, Bigfoot (pé-grande), cuja presença foi assinalada em vários locais de toda a América.






in “Dicionário do Conhecimento Essencial”







quarta-feira, 22 de abril de 2020

ANTÓNIO SALVADO - É Noite, Mãe



ANTÓNIO SALVADO
(Castelo Branco, Portugal, 1936)
Poeta, escritor
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Além de museólogo e de poeta, tem-se dedicado a outras tarefas culturais, tais como a tradução, o ensaio, o ensino e a direcção de publicações.
***
É NOITE, MÃE

As folhas já começam a cobrir
o bosque, mãe, do teu outono puro...
São tantas as palavras deste amor
que presas os meus lábios retiveram
pra colocar na tua face, mãe!...

Continuamente o bosque se define
em lividez de pântanos agora,
e aviva sempre mais as desprendidas
folhas que tornam minha dor maior.
No chão do sangue que me deste, humilde
e triste, as beijo. Um dia pra contigo
terei sido cruel: a minha boca,
em cada latejar do vento pelos ramos,
procura, seca, o teu perdão imenso...

É noite, mãe: aguardo, olhos fechados,
que uma qualquer manhã me ressuscite!...







terça-feira, 21 de abril de 2020

CAOS EM LUGAR DE MÚSICA





CAOS EM LUGAR DE MÚSICA


Com a estreia da sua ópera Lady Macbeth de Mzensk, a 22 de Janeiro de 1934, no Pequeno Teatro de Leninegrado, e a sua apresentação dois dias mais tarde no Teatro Stanislavsky de Moscovo, Dmitri Chostakovitch vive um dos seus maiores triunfos como compositor.

«Desde a A dama de espadas, de Tchaikovsky – assinala a crítica -, nunca a música russa tinha produzido uma obra de tal profundidade e efeito.»

O público compartilha este entusiasmo e enche as salas durante praticamente dois anos, até que, em 1936, Estaline decide assistir a uma representação em Moscovo. A reacção que a obra provoca no ditador é expressa num editorial anónimo do jornal Pravda, intitulado «Caos em lugar de música», no qual se denuncia o carácter «antipopular», burguês e formalista da partitura. Esta desaparece imediatamente do cartaz.

É o início de uma etapa caracterizada pelos contínuos conflitos do compositor com o regime soviético.





in “Auditorium”



segunda-feira, 20 de abril de 2020

AFONSO DUARTE - Grito



AFONSO DUARTE
(Ereira, Portugal, 1884 - Coimbra, 1958)
Poeta

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A sua inspiração, embora entranhadamente tradicionalista, desenvolve-se em função de uma permanente preocupação de novidade, traduzida sobretudo numa simplificação de riqueza imagística, numa busca de interioridade e num aprofundamento do estar perante o mundo envolvente.

in “Livro dos Portugueses”

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GRITO

Não posso já com ervas nem com árvores:
Prefiro os lisos, frios mármores
     Onde nada está escrito.

Meu gosto da paisagem fez-se escuro;
Nenhures é o lugar que mais procuro
     Como homem proscrito.

Eu bem sei: A verdura! A flor! Os frutos!
Mas não posso passar de olhos enxutos,
     Meu campo verde aflito.


Porventura cegaram os meus olhos
Porque há nos silveirais flores aos molhos
      - Tanta flor me tem dito.

Mas eu bem sei que movediços lodos
Que são o chão, as lágrimas de todos,
     Meu coração contrito.

Eu não sei se amanhã será meu dia;
Recolho-me furtivo na poesia,
     Incerto o chão que habito.

Ai de mim! Ai de mim, nuvem medonha!
Os homens conheci, bebi peçonha,
     E é por isso que grito.







domingo, 19 de abril de 2020

“O MASSACRE DE LISBOA” (domingo de PASCOELA – 19 de Abril de 1506)



DAMIÃO DE GÓIS 
(Alenquer, Portugal, 1502 – Lisboa, 1574)
Historiador, humanista, historiógrafo

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Foi a mais notável figura da cultura renascentista em Portugal. Foi perseguido e preso pela Inquisição por suspeitas de heresia e por simpatizar com ideias protestantes.

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“O MASSACRE DE LISBOA” (DOMINGO DE PASCOELA – 19 DE ABRIL DE 1506)

No mosteiro de São Domingos existe uma capela, chamada de Jesus, e nela há um Crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que deram foros de milagre, embora os que se encontravam na igreja julgassem o contrário. Destes, um Cristão-novo (julgou ver, somente), uma candeia acesa ao lado da imagem de Jesus. Ouvindo isto, alguns homens de baixa condição arrastaram-no pelos cabelos, para fora da igreja, e mataram-no e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao alvoroço acudiu muito povo a quem um frade dirigiu uma pregação incitando contra os Cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro com um crucifixo nas mãos e gritando: “Heresia! Heresia!”

Isto impressionou grande multidão de gente estrangeira, marinheiros de naus vindos da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens. 

Juntos mais de quinhentos, começaram a matar os Cristãos-novos que encontravam pelas ruas, e os corpos, mortos ou meio-vivos, queimavam-nos em fogueiras que acendiam na ribeira (do Tejo) e no Rossio. Na tarefa ajudavam-nos escravos e moços portugueses que, com grande diligência, acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo. E, nesse Domingo de Pascoela, mataram mais de quinhentas pessoas.



in “Crónica de D. Manuel I”




sábado, 18 de abril de 2020

MANUEL LARANJEIRA – A tristeza de viver


MANUEL LARANJEIRA
(Mozelos, Portugal, 1877 - Espinho, 1912)
Poeta, dramaturgo

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A TRISTEZA DE VIVER


Ânsia de amar! Oh ânsia de viver!
um’hora só que seja, mas vivida
e satisfeita… e pode-se morrer,
- porque se morre abençoando a vida!

Mas ess’hora suprema em que se vive
quanto possa sonhar-se de ventura,
oh vida mentirosa, oh vida impura,
esperei-a, esperei-a, e nunca a tive!

E quantos como eu a desejaram!
e quantos como eu nunca a tiveram
uma hora de amor como a sonharam!

Em quantos olhos tristes tenho eu lido
o desespero dos que não viveram
esse sonho de amor incompreendido!





sexta-feira, 17 de abril de 2020

MONIZ BARRETO – Crítico literário



MONIZ BARRETO
(Goa, Índia Portuguesa, 1863 - Paris, França, 1896)
Ensaísta, crítico literário

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Concluídos os estudos secundários na sua cidade natal, veio para Lisboa em 1880, tendo frequentado o Curso Superior de Letras. 

Em 1890 desloca-se a Paris. Orgulhoso e retraído mas dotado de uma inteligência vigorosa atentíssima, dedicou-se à análise social e política e sobretudo à crítica literária. 

Vivendo em Paris, o distanciamento permitiu-lhe julgar com isenção a produção literária portuguesa do século XIX. 

Aliando à clarividência um dom de justa compreensão, e escrevendo num estilo expressivo fortemente visualizado, criou a moderna crítica literária em Portugal. 

Vitorino Nemésio reuniu os seus estudos esparsos no volume Ensaios de Crítica, 1944.




in  “Livro dos Portugueses”




quinta-feira, 16 de abril de 2020

CARLOS PELLICER - Recinto



CARLOS PELLICER
(México, 1897 – 1977)
Poeta
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Fez parte da primeira onda de poetas mexicanos modernistas e participou activamente da promoção da arte, pintura e literatura mexicanas.
***
RECINTO

Onde porei o ouvido que não escute
minha voz a chamar-te?
E onde não escutar este silêncio
que te afasta lentamente triste?

Eu caminho as horas presenciadas
em nós por nós os dois.
Sei desse fruto maduro das vozes
em campos de Setembro.

Sei da noite esbelta e já tão nua
em que nossos corpos eram um.
Sei do silêncio perante a gente obscura,
de calar este amor que é de outro modo.

Enquanto chove a ausência liberto
a escravidão de carne e a alma só
no ar suspende sua águia amorosa
que as nuvens pacíficas igualam.



Tradução: José Bento

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...