sábado, 31 de outubro de 2015

AGOSTINHO DA SILVA - Pense por si próprio

 
 



Agostinho da Silva (Porto, Portugal,1906 – Lisboa, Portugal, 1994).

Foi professor, filósofo, pedagogo e filólogo.
Passou considerável tempo de sua vida no Brasil.

 

Palavras de Agostinho da Silva:

“Morre menos gente de cancro ou de coração do que de não saber para que vive;  e a velhice, no sentido de caducidade, de que tantos se vão, tem por origem exactamente isto: o cansaço de se não saber para que se está a viver.”

 

Pense por si Próprio

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus.
Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha.
É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence.
São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.

 

Agostinho da Silva, in “Cartas a um Jovem Filósofo”
Imagem: pintura de Wassily Kandinski (Moscovo, Rússia, 1866 – Nanterre, França, 1944).

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

DELMIRA AGUSTINI - O Intruso

 
 
 
 
 
 

Delmira Agustini (Montevidéu, Uruguai, 1886 – 1914).

Iniciou a sua carreira literária em 1902, apenas com 16 anos de idade.

Simultaneamente ingénua, melancólica e enigmática, foi uma das vozes de vanguarda da poesia feminina hispano-americana.       

Na sua obra, há um lirismo de tipo sensual e um profundo sentido dramático da vida.

 
 
Palavras de Delmira Agustini:
“Para morrer como a lei impõe, o mar não quer diques. Quer praias!”

 
 
                       O Intruso

 
Amor, naquela noite trágica e soluçante
Cantou tua chave de ouro em minha fechadura;
E logo, a porta aberta sobre a sombra arrepiante,
Te vi como uma mancha de luz e de brancura.

Tudo me iluminaram teus olhos de diamante;
Beberam-me na taça teus lábios de frescura,
Na almofada pousaste-me a cabeça fragrante;
Amei-te o atrevimento e adorei-te a loucura.

E hoje rio se ris e canto se tu cantas;
Se dormes, durmo como um cão a tuas plantas!
Na própria sombra levo a tua recendente

Primavera; e, se a mão tocas na fechadura,
Tremo e bendigo a noite que - soluçante e escura -
Floriu na minha vida tua boca amanhecente. 

 
Delmira Agustini
Tradução: Anderson Braga Horta

 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

WALLACE STEVENS - O Homem da Neve

 
 
 
 
 

Wallace Stevens (Pensilvânia, EUA, 1879 – Hartford, EUA, 1955

Foi dramaturgo e poeta modernista.
Criou uma das mais importantes obras poéticas de língua inglesa do século XX.

Publicou, em 1923, o seu primeiro livro de poemas, Harmonium.

Recebeu a Medalha de Ouro, em 1951, da “Sociedade de Poesia da América”.

 
 
Palavras de Wallace Stevens:
“Autores são actores. Livros são teatros.”

 
 
 
     O Homem da Neve

 
É preciso uma mente de inverno
Para olhar a geada e os ramos
Dos pinheiros cobertos pela nevada

E há muito tempo fazer frio
Para observar os zimbros arrepiados de gelo,
Os abetos ásperos no brilho distante

Do sol de janeiro; e não pensar
Em qualquer miséria no som do vento,
No som de umas poucas folhas

Que é o som da terra
Cheia do mesmo vento
Que sopra no mesmo lugar vazio

Para alguém que escuta, escuta na neve,
E, ausente, observa
Nada que não está lá e o nada que é.

 
Wallace Stevens
Tradução: Paulo Venâncio Filho
Imagem: pintura de Alfred Sisley (França, 1839 – 1899).

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ESCRITA HIEROGLÍFICA

 
 
 
 
 
 
 

A Escrita Hieroglífica foi utilizada no Egipto desde o séc. V a.C. ao séc. IV da nossa era.

Na origem, cada signo reproduzia directa ou indirectamnete o objecto evocado, mas cedo os signos adquiriram um valor fonético que se sobrepôs ao valor ideográfico, sem contudo o substituir.
Os hieróglifos serviam tanto as tradições profanas como sagradas tendo sido gravados em baixos ou altos relevos sobre uma matéria dura (pedra, madeira ou metal).

Os signos hieroglíficos foram desenhados em linhas verticais ou horizontais, podendo a leitura ser feita da esquerda para a direita ou vice-versa, sendo o sentido fixado pelos signos figurativos dos homens ou animais, tendo estes a cabeça voltada para o início da linha.

 

Fonte: Museu da Imprensa

 

 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

ALPHONSE DE LAMARTINE - A uma flor seca dum álbum

 
 
 
 
 
 
Alphonse de Lamartine (Mâcon, França, 1790 – Paris, França, 1869).
Poeta, romancista, dramaturgo e político, Lamartine é das maiores figuras do  romantismo  em França.
As Primeiras Meditações Poéticas, seu primeiro trabalho lírico, proporcionou-lhe notoriedade, sendo considerado, pela nova geração de poetas românticos, como seu mestre.
Os seus temas dominantes são a religião e o amor.
 
 
Palavras de Alphonse de Lamartine:
“Quantas vezes o coveiro encerra, sem o saber, dois corações num mesmo esquife!”
 
 
A uma flor seca dum álbum
 
Vem-me à lembrança. Eram praias
Nas quais um céu de Meio-Dia me atraía,
Céu sem mancha nem borrasca,
Onde, sob as folhagens, respirava
Do morno ar os perfumes.
 
Mar sem-fim,
Azul, no horizonte, perdia-se.
A laranjeira, esta festiva árvore,
Por instantes, por sobre minha cabeça nevava.
Odores pelas relvas exalando-se.
 
Rente a uma coluna atravessavas
Dum templo pelo tempo apagado
Nele uma coroa fazias
Seu tronco, monótono, lembrar fazes
Com teus flutuantes capitéis.
 
Flor que a ruína adorna
Sem um olhar que te admire.
Teu alvo estame colhi
Pro meu peito transportei
A fim de teu perfume sorver.
 
Hoje, céu, templo, praia
Pra sempre tudo se foi:
Na nuvem teu perfume encontra-se
Dum belo dia, morta, a imagem!
 
 
Alphonse de Lamartine
Tradução: Cunha e Silva Filho
Imagem: pintura de Eduardo Anahory (Lisboa, Portugal, 1917-1985).

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

AMELIA EARHART – Pioneira na aviação dos Estados Unidos

 
 
 
 
 
 

Amelia Earhart (Atchison, Kansas, EUA -1897 – 1937).

Desde muito nova manifestou interesse e paixão pela aeronáutica.

Foi pioneira na aviação dos Estados Unidos.

Realizou, em 1928, a travessia aérea do Atlântico, na companhia de Bill Schultz. Quatro anos depois, efectuou a mesma travessia, mas completamente só.

Em 1935, atravessou o Pacífico, e, em Julho de 1937, quando tentava dar a volta ao mundo, nunca mais se soube dela, nem as verdadeiras causas do seu desaparecimento.

Foi distinguida com numerosas honrarias, com destaque para a “The Distinguished Flying Cross”, por ter sido a primeira mulher a recebê-la.

Publicou dois livros baseados nas suas experiências: 20 h., 40 Min. e The Fun of It, nos quais descreveu as suas experiências e memórias vividas na aviação.

 

Palavras de Amelia Earhart:

“Coragem é o preço que a vida exige em troca da paz.”

 

 


domingo, 25 de outubro de 2015

FILIPPO BRUNELLESCHI – Arquitecto Renascentista

 
 
 
 
 
 

Filippo Brunelleschi (Florença, Itália,1377-1446) foi um dos grandes arquitectos do Renascimento italiano.
Estudou arquitectura clássica, visitando Roma para aí estudar as ruínas.
Em 1418, foi-lhe encomendada a construção - a que viria a ser a sua obra-prima - da cúpula para a “Catedral Santa Maria del Fiore”, em Florença.
Inspirado por temas clássicos, construiu a cúpula enorme, um octógono de mármore, usando técnicas romanas. Levou 42 anos a construí-la, demonstrando o seu talento para a inovação técnica, engenharia e geometria.
O “Palácio Pitti” e o “Hospital dos Inocentes” foram, entre outros, dois dos seus principais trabalhos.
 
 
Imagem: cúpula da “Catedral de Santa Maria del Fiori”, em Florença.
 

 

sábado, 24 de outubro de 2015

DAMIÃO DE GÓIS – A matança de Judeus em Lisboa

 
 
 
 
 

Damião de Góis (Alenquer, Portugal, 1502 – Lisboa, Portugal,1574).

Historiador, humanista, historiógrafo e diplomata foi a mais notável figura da cultura renascentista em Portugal.

Foi perseguido e preso pela Inquisição por suspeitas de heresia e por simpatizar com ideias protestantes.

 
Palavras de Damião de Góis:

"Não há na vida quem esteja se­guro dos reveses da fortuna."
 
 
A matança de Judeus em Lisboa (19 de abril de 1506)

 
No mosteiro de São Domingos existe uma capela, chamada de Jesus, e nela há um Crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que deram foros de milagre, embora os que se encontravam na igreja julgassem o contrário. Destes, um Cristão-novo (julgou ver, somente), uma candeia acesa ao lado da imagem de Jesus. Ouvindo isto, alguns homens de baixa condição arrastaram-no pelos cabelos, para fora da igreja, e mataram-no e queimaram logo o corpo no Rossio.

Ao alvoroço acudiu muito povo a quem um frade dirigiu uma pregação incitando contra os Cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro com um crucifixo nas mãos e gritando: “Heresia! Heresia!” Isto impressionou grande multidão de gente estrangeira, marinheiros de naus vindos da Holanda, Zelândia, Alemanha e outras paragens.
Juntos mais de quinhentos, começaram a matar os Cristãos-novos que encontravam pelas ruas, e os corpos, mortos ou meio-vivos, queimavam-nos em fogueiras que acendiam na ribeira (do Tejo) e no Rossio. Na tarefa ajudavam-nos escravos e moços portugueses que, com grande diligência, acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo. E, nesse Domingo de Pascoela, mataram mais de quinhentas pessoas. (…)

 
Damião de Góis, in “Crónica de D. Manuel I”


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

CRISTOVAM PAVIA - Ao meu cão

 
 
 
 

Cristovam Pavia (Lisboa, Portugal, 1933 – 1968).

Publicou, aos vinte anos, os seus primeiros poemas nas duas mais importantes revistas literárias desse período, a “Távola Redonda” e a “Árvore”.

Fez parte do núcleo central da revista “O Tempo e o Modo”, constituído pelos escritores : Nuno de Bragança, Alberto Vaz da Silva, Pedro Tamen, João Bernard da Costa e António Alçada Baptista.

Publicou, em 1959, 35 Poemas, a única obra poética editada em vida, na qual se reconhece a originalidade da sua poesia.

 
 O poeta José Bento escreveu sobre Cristovam Pavia:

"A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz.”

 

 Ao meu cão

Deixei-te só, à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação
De tudo... e apesar disso, sem o pedir, tentando
Insinuar que eu ficasse perto,
Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.

Não percebi a evidência de que ias morrer
E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.
Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,
Que já tinhas perdoado tudo à vida
E começavas a debater-te na maior angústia, a debater-te com a morte.
E deixei-te só, à beira da agonia, tão aflito, tão só e sossegado.

 

Cristovam Pavia
Imagem: pintura de Syd Barret (Reino Unido, 1946 – 2006)

 

 

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ERNEST HEMINGWAY - O Bom Escritor

 
 
 
 
 
 

Ernest Hemingway (Oak Park, EUA, 1899 – Ketchum, EUA, 1961).

Autor de romances que associam realismo e simbolismo foi um dos mais importantes escritores americanos do século XX.
Escreveu, em 1926, o primeiro livro intitulado: O Sol também se Levanta.

Foi correspondente de guerra em Madrid durante a Guerra Civil Espanhola.
Ganhou, em 1954, o “Prémio Nobel de Literatura”.

 

 Palavras de Ernest Hemingway:

“Um homem inteligente é por vezes forçado a embebedar-se ou a isolar-se, para conseguir aguentar os idiotas com que se vai cruzando todos os dias.”

 

 O Bom Escritor

 
Todos os bons livros assemelham-se no facto de serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente, e que, terminada a leitura de um deles, sentimos que tudo aquilo nos aconteceu mesmo, que agora nos pertencem o bem e o mal, o êxtase, o remorso e a mágoa, as pessoas e os lugares e o tempo que fez. Se conseguires dar essa sensação às pessoas, então és um bom escritor.

 
Ernest Hemingway, in "Escrito de um Velho Jornalista”
Imagem: pintura de Esref-Armagan (Turquia, 1953)

 

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...