sábado, 30 de junho de 2018

EDITH SITWELL - Lágrimas



EDITH SITWELL
(Reino Unido, 1887 – 1964)
Poetisa, crítica literária

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A sua obra é caracterizada pela escolha de temas tétricos, pelo recurso ao simbolismo e abstrusidades místicas a par de grande complexidade, imaginação ardente, musicalidade e ritmo. Fez parte dos amigos de Virgínia Woolf e foi amiga de numerosos escritores, pintores e músicos. Devido ao desconhecimento do mundo, a sua obra é irrealista e, portanto, mais apreciada entre os intelectuais do que entre o público.

in “ Dicionário de Mulheres Célebres” (excerto)

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Palavras de Edith Sitwell
 "Muitas vezes desejei ter tempo para cultivar a modéstia. Mas estou ocupada demais pensando em mim mesma."

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 LÁGRIMAS

As minhas lágrimas eram o esplendor de Orionte com sêxtuplos sóis e o milhão
De flores nas campinas do céu, onde os sistemas solares se põem
- As rochas de imenso diamante a meio da clara vaga
Pelo orvalho de Maio e a matutina luz erguida, mais diamantes gerando,
Eu chorava pelas glórias do ar, pelos milhões de auroras
E os esplendores no coração do Homem com treva lutando,
Chorava pelas belas rainhas do mundo, como um canteiro de flores brilhando,
Agora colhidas, às seis, às sete, mas todas as manhãs da Eternidade.
Mas agora as lágrimas refluem e como horas tombam:
Choro por Vénus cujo corpo se mudou em cidade metafísica,
Cujo pulsar do coração é ora o som das revoluções - pelo amor mudado
Em caridade de hospital, em esperança dos sábios no futuro,
E pelo Homem ensombrado, essa complexa multiplicidade
De ar e de água, planta e animal,
Diamante duro, infinito sol.




sexta-feira, 29 de junho de 2018

ALEXANDRE PINHEIRO TORRES - O Poeta não sabe



ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
(Amarante, Portugal, 1923 – Cardiff, Reino Unido, 1999)
Escritor, historiador de literatura, poeta
                                 
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O Poeta não sabe

Talvez as palavras nada mais digam do que
as letras que as compõem  Uma jornada
através de um discurso familiar? Um poema
para ser cantado ou lido de pé? Como?

Noites e noites aguento o vosso olhar parado
lâmpadas das ruas  braille no escuro
Como lê-lo? No poema todas as portas
estão abertas e fechadas  Sento-me com ele

longamente  Melhor: sentemo-nos. Há um
tempo imenso agoniava-me essa montanha
Alimentar todas as bocas do mundo? Agora
ouço apenas uma palavra de lâmpadas

que me acena da rua  Dependuro-me das
árvores como um pássaro  É densa a
floresta de luz  Uma criança dorme ignorante
da noiteSou euApenas euE não sei braille



quinta-feira, 28 de junho de 2018

A SOMBRA DA MORTE




A Sombra da Morte

A morte
entra e sai
da taberna…
Passam cavalos pretos
e gente sinistra
pelos fundos caminhos
da guitarra.
E há um cheiro de sal
e de sangue de fêmea
nos nardos febris
da beira-mar.
A morte
entra e sai,
da taberna.

São os versos do segundo andamento, «Malaguenha», da Sinfonia nº 14, op. 135, de Dmitri Chostakovitch. Tomados de Federico García Lorca, como os do De profundis inicial, reflectem perfeitamente o tema que impregna toda esta partitura, desde a primeira até à última nota: a morte. 
O resto dos poemas, devidos a Appolinaire, Küchelbecker e Rilke, abunda neste mesmo tema, verdadeira obsessão de Dmitri Chostakovitch da sua última época, cada vez mais fechado sobre si mesmo. 
A estreia da obra tem lugar a 29 de Setembro de 1969, em Leninegrado. O acolhimento é favorável apesar de nem todo o público compreender a linguagem da música.


in”Crónica da Música”
Imagem: Federico García Lorca, por Emily Tarleton


quarta-feira, 27 de junho de 2018

CASIMIRO DE BRITO - A Paz



CASIMIRO DE BRITO
(Loulé, Portugal, 1938)
Poeta, escritor

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A Paz

Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno insecto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz limpa dos frutos, o que me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?


Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda
do meu exílio. Perdoa-me se não te peço
a paz. Apenas pergunto: o que me darias
em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?

 
Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo de mim,
entrego-te o meu destino. E a morte vivo
só de perguntar-te: o que me darias
se te pedisses a paz
e soubesses de como a quero construída
com as matérias vivas da liberdade?



terça-feira, 26 de junho de 2018

JEAN-CLAUDE CARRIÈRE - O sonho da borboleta



                       JEAN-CLAUDE CARRIÈRE
(França, 1931)
Escritor, dramaturgo, actor

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O sonho da borboleta


A ideia de que toda a existência é discutível, de que toda a percepção pode ser enganadora, de que todo o juízo pode ser rebatido, de que toda a afirmação que parece objectiva encerra uma parte secreta de arbitrário, esta ideia corre pelo mundo desde os primeiros vestígios de pensamento.

É uma história chinesa, extremamente célebre, que está no centro destas hesitações do espírito. Foi Tchung-tsé que no-la contou.

Um homem sonha que é uma borboleta. Revoluteia com leveza de flor em flor, abrindo e fechando as suas asas, sem a mais ténue lembrança da sua natureza humana.

Quando acorda, percebe com espanto que é um homem. Mas será ele um homem que acaba de sonhar que era uma borboleta? Ou uma borboleta a sonhar que é homem?
Diz-se que nunca conseguiu responder a esta pergunta.


in “Tertúlia de Mentirosos”

segunda-feira, 25 de junho de 2018

EDUARDO GUERRA CARNEIRO - Auto-Retrato



EDUARDO GUERRA CARNEIRO
(Chaves, Portugal, 1942 — Lisboa, 2004)
Poeta, escritor, jornalista

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Trabalhou em jornais e agências de publicidade, além de redigir argumentos, diálogos e textos para cinema, rádio e televisão. A sua obra evoluiu do surrealismo para o lirismo romântico.

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Auto-Retrato

Quantas horas não choras a pensar
em ti — quando ando, desando,
neste viver sem mim.
Quantos anos sem tino. de mim
este cantar desencantado — assim.
Embora os dias me afastem já de ti
procuro saber do teu espaço,
nas casas brancas onde o azul desmaia. sinal
de outro tempo em que ainda rias,
espaço meu. afinal alteras, aterras, ó desenterrado.
Finges, desarmas, com teu gosto azedo. procuras,
já vives, nas verdes veredas. mas não sabes,
nem queres, do teu ao meu, essa coisa
chamada amor.

domingo, 24 de junho de 2018

PEDRO DA FONSECA – Filósofo



PEDRO DA FONSECA
(Proença-a-Nova,  Portugal, 1528 - Lisboa, 1599)
Filósofo, teólogo

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Ingressou em 1547 no noviciado da Companhia de Jesus em Coimbra, transitando posteriormente (1551) para a Universidade de Évora. Nesta mesma Universidade chega a lente em Artes, distinguindo-se desde logo pelo brilhantismo da sua inteligência ao ponto de merecer o cognome de Aristóteles Lusitano

É um dos renovadores do aristotelismo em Portugal e dos autores mais importantes que colaboram no que viria a ser conhecido por Curso Conimbricense. Em 1570 doutora-se em Teologia.

Pedro Fonseca permanece durante dez anos em Roma, onde tem acesso a vasta bibliografia que aproveitará para fundamentar as exposições que farão das suas obras uma referência obrigatória em toda a Europa culta durante cerca de cento e trinta anos – desde a segunda metade do século XVI até finais do século XVII -, sobretudo a Institutionum Dialecticarum Libri octo (1564), que teria cerca de meia centena de edições  distribuídas por Portugal e outros países da Europa.


in “Didacta-Filosofia”

sábado, 23 de junho de 2018

ELBERT HUBBARD – Uma carta para Garcia


ELBERT HUBBARD
(Bloomington, EUA, 1856 — ?,1915
Filósofo, escritor

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Uma carta para Garcia

Em toda esta história da guerra de Cuba há um homem que sobressai na minha memória, como Marte no periélio.

Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e Estados Unidos, era premente comunicar-se rapidamente com o líder dos rebeldes cubanos. O General Garcia encontrava-se algures na fortaleza que constituem as montanhas agrestes de Cuba; ninguém sabia exactamente onde. Nenhuma correspondência ou mensagem telegráfica podia alcançá-lo. O presidente dos Estados Unidos devia assegurar, com a maior urgência, a sua cooperação.

O que fazer?

Alguém disse ao presidente:

“Há um homem chamado Rowan que encontrará Garcia, se é que alguém o pode encontrar.”

Rowan foi chamado e recebeu uma carta para entregar a Garcia.

Como o “homem chamado Rowan” pegou na carta, a guardou numa bolsa impermeável que prendeu sobre o coração, quatro dias depois desembarcou à noite numa lancha, ao largo da costa de Cuba, desapareceu na selva e três semanas mais tarde saiu pelo outro lado da ilha, tendo atravessado a pé um território hostil e entregue a carta a Garcia, são coisas que tenho agora o desejo de relatar em detalhe. O ponto que quero ressaltar é o seguinte: McKinley deu uma carta a Rowan para entregar a Garcia; pegou na carta e não perguntou: “Onde está ele?”

Nenhum homem que já se tenha empenhado em realizar um empreendimento para o qual muitos outros tinham que colaborar deixou de ficar consternado, por vezes, com a imbecilidade do homem comum – a incapacidade ou indisposição de se concentrar numa coisa e fazê-la. A ajuda desleixada, a desatenção tola, a indiferença desmazelada e o trabalho feito com medíocre entusiasmo parecem ser a regra; nenhum homem tem sucesso se não recorrer a todos os meios, se não ameaçar, forçar ou convencer os outros a ajudá-lo, a não ser que Deus, na Sua bondade, realize um milagre e envie um Anjo de Luz como seu assistente.



in “Uma carta para Garcia”

Nota: Elbert Hubbard e a sua segunda esposa, Alice Hubbard, morreram a bordo do navio de passageiros britânico RMS Lusitania, quando foi torpedeado por um submarino alemão na costa da Irlanda e afundado no oceano Atlântico, em 7 de Maio de 1915.



sexta-feira, 22 de junho de 2018

LUIZA NETO JORGE - Acordar na Rua do Mundo


LUIZA NETO JORGE
(Lisboa, Portugal, 1939 - 1989)
Poetisa, tradutora

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Ainda hoje é considerada a personalidade de maior destaque do grupo de poetas que se reuniu em torno de “Poesia 61”, no âmbito do qual publicou Quarta Dimensão.
Como tradutora deixou uma obra inigualável, nos domínios da poesia, da ficção e do teatro.


in “Dicionário de Autores Portugueses” (excerto)


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Acordar na Rua do Mundo

madrugada, passos soltos de gente que saiu
com destino certo e sem destino aos tombos
no meu quarto cai o som depois
a luz. ninguém sabe o que vai
por esse mundo. que dia é hoje?
soa o sino sólido as horas. os pombos
alisam as penas, no meu quarto cai o pó.

um cano rebentou junto ao passeio.
um pombo morto foi na enxurrada
junto com as folhas dum jornal já lido.
impera o declive
um carro foi-se abaixo
portas duplas fecham
no ovo do sono a nossa gema.

sirenes e buzinas, ainda ninguém via satélite
sabe ao certo o que aconteceu, estragou-se o alarme
da joalharia, os lençóis na corda
abanam os prédios, pombos debicam

o azul dos azulejos, assoma à janela
quem acordou. o alarme não pára o sangue
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo
não gravou

e duma varanda um pingo cai
de um vaso salpicando o fato do bancário



quinta-feira, 21 de junho de 2018

MÁRIO BEIRÃO - Ausência



MÁRIO BEIRÃO
(Beja, Portugal, 1890 - Lisboa, 1965)
Poeta

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Pertenceu ao grupo saudosista aglutinado à volta da revista A Águia, tendo-se estreado com o livro O Último Lusíada, 1913. Já então, a par das características saudosistas, manifesta um tom populista precursor quer do telurismo de Miguel Torga quer do regionalismo dos neo-realistas. 

A primeira fase da sua obra compõe-se dos poemas integrados no movimento Renascença Portuguesa. Na segunda fase canta sobretudo a paisagem alentejana e a «ausência». A parti de 1940 tende para a exaltação do nacionalismo monárquico.   


in “Portugal Século XX”

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Ausência

Nas horas do poente,
Os bronzes sonolentos,
— Pastores das ascéticas planuras —
Lançam este pregão ao soluçar dos ventos,
À nuvem erradia,
Às penhas duras:
— Que é dele, o eterno Ausente,
Cantor da nossa vã melancolia?

Nas tardes duma luz de íntimo fogo,
Rescendentes de tudo o que passou,
Eu próprio me interrogo:
— Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas
Os fumos do meu sonho derradeiro!

— Ventos, que novas me trazeis das rosas,
 Que acendiam clarões no meu jardim?
— Pastores, que é do vosso companheiro?
— Saudades minhas, que sabeis de mim?



quarta-feira, 20 de junho de 2018

STEPHEN SPENDER – Sobre a Arte e a Vida



STEPHEN SPENDER
(Reino Unido, 1909- 1995)
Poeta, romancista e ensaísta

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Sobre a Arte e a Vida

O artista criador sabe muito bem que a arte não constitui a vida inteira, sem o que se bastaria a si próprio, se isolaria do mundo dos vulgares mortais, e veríamos os artistas, felizes e irreais, criar uma arte verdadeiramente pura.

Certas pessoas que não são artistas, ou que são maus artistas, pensam de facto que a arte é um mundo isolado do mundo, e no qual a experiência estética é tudo. Esses são os virtuosos da arte e da crítica, espíritos inteiramente revestidos de matéria estética, dispensados da necessidade de viver a sua vida. (...)

O triunfo da arte não consiste apenas em triunfar das dificuldades técnicas, mas em resolver os conflitos da vida para fazer deles uma forma mais duradoura da aceitação e da contemplação. Considerar as obras-primas da arte, esses grandes actos de aceitação, como se fossem actos de recusa e de evasão, é apenas uma forma de perder contacto, de deixar a máquina em movimento sem as rodas girarem. (...)

A vida tal como a experimentamos na obra de arte, só é intensa e por vezes dolorosa, porque atinge, na realidade, a vida de uma profunda e terrível experiência. Sem essa experiência, a arte exprimiria apenas uma tendência para uma perfeição vazia. Mas a arte verdadeira assimila o verdadeiro conflito da vida; a matéria-prima de sentimentos e de sensações que parecem insusceptíveis de terem expressão, e na arte quebrada, fundida e transformada de tal forma que deixamos de a reconhecer. A obra de arte não diz: «Eu sou a vida. Ofereço-vos a possibilidade de vos transformardes em mim»; pelo contrário, o que ela nos diz é: «Eis a imagem da vida. A vida é ainda mais real, ainda mais inevitável do que podeis supor. Mas dou-vos um exemplo de aceitação e de compreensão. E agora, vivei».



in “Diário de Setembro”.
Imagem: autor da fotografia: Ulf Andersen



terça-feira, 19 de junho de 2018

ARMANDO DA SILVA CARVALHO - Varanda de Pilatos



ARMANDO DA SILVA CARVALHO
(Óbidos, Portugal, 1938 – Caldas da Rainha, 2017)
Poeta, escritor, tradutor

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Varanda de Pilatos

Não há tempo. Há o espaço. O sol e as nossas voltas.
Os bocejos da lua, o clã dos astros.
Os buracos negros.
Ó mãe! Para onde foram os seres vivos de ainda
Há pouco em todo o seu esplendor?
Mortos como tu, a natureza recebe-os.
A Terra, essa criança atroz, destrói os seus brinquedos
Numa rotina mecânica.
Quantas noites me faltam? Quantos beijos no escuro?
Quanta luz me cabe ainda nas pupilas?
Os anos não me matam, não me ferem os meses,
As horas não me guilhotinam.
As células vão ardendo nos seus mapas
De nervos, o sangue demora sempre mais um pouco
A chegar ao seu destino orgânico.
Devagar, devagar, a cabeça amolece.
Devagar no colo do sono.
Ó mãe. Um ninho. Uma cama macia no teu ventre.
Uma exposição de sinais. Uma geometria
Que me liga ao saber acumulado. 




segunda-feira, 18 de junho de 2018

ARTHUR SCHOPENHAUER – A essência da música



ARTHUR SCHOPENHAUER
(Polónia, 1788 - Alemanha, 1860)
Filósofo

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A essência da música

Depois de meditar muito tempo sobre a essência da música, recomendo o prazer dessa arte como a mais requintada de todas.
Nenhuma outra age de modo mais directo, mais profundo, porque não há outra que revele de forma mais objectiva e profunda a verdadeira natureza do mundo.

Ouvir grandes e belas melodias é como um banho para o espírito: purifica-o, do que é mau e mesquinho; eleva o homem e coloca-o em sintonia com os mais nobres pensamentos de que é capaz, e só assim ele sente claramente tudo o que vale, ou melhor, tudo o que poderia valer.    



domingo, 17 de junho de 2018

MÁRIO VARGAS LLOSA - Palavras



MÁRIO VARGAS LLOSA
(Arequipa, Peru, 1936)
Escritor, professor universitário, político

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É um dos mais importantes escritores da América Latina e do mundo. Foi agraciado com o Prémio Nobel de Literatura em 2010.

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Palavras de Mário Vargas Llosa

“Sem ficções, seríamos menos conscientes da importância da liberdade para que a vida seja vivida e do inferno em que ela se transforma quando é pisada por um tirano, uma ideologia ou uma religião.”

*

"Nenhum escritor digno desse nome escreve romances só para fazer propaganda de suas convicções políticas. A literatura fica muito deformada se for julgada somente pela ideologia de seu autor.”

*
"Se tivesse que salvar do fogo apenas um de meus romances, salvaria Conversa no Catedral."

*
“O desaparecimento do intelectual significa também o desaparecimento das ideias e da razão como um factor central da vida social e política. Hoje em dia, as ideias foram trocadas pelas imagens, que são mais facilmente manipuláveis. Isso é uma grande ameaça para a democracia, pois uma sociedade com escassez de ideias tem suas instituições sob forte risco.”

*
“Algo anda mal na cultura de um país se os seus artistas, em lugar de se proporem mudar o mundo e revolucionar a vida, se empenham em alcançar protecção e subsídios do governo.”




sábado, 16 de junho de 2018

EUGÉNIO DE CASTRO - Em que emprego o meu tempo?


EUGÉNIO DE CASTRO
(Coimbra, Portugal, 1869 - 1944)
Poeta

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Com a publicação de Oaristos, 1890, e Horas, 1891, introduziu o simbolismo em Portugal.
O seu temperamento sensorial levou-o depois a um neoclassicismo dotado e um excepcional sentido de beleza plástica.


in “Livro dos Portugueses” (excerto)

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EM QUE EMPREGO O MEU TEMPO?


Em que emprego o meu tempo? Vou e venho,

Sem dar conta de mim nem dos pastores,  

Que deixam de cantar os seus amores,  

Quando passo e lhes mostro a dor que tenho.  



É de tristezas o torrão que amanho,  

Amasso o negro pão com dissabores,  

Em ribeiros de pranto pesco dores,  

E guardo de saudades um rebanho.  



Meu coração à doce paz resiste,  

E, embora fiqueis crendo que motejo,  

Alegre vivo por viver tão triste!  



Amor se mostra nesta dor que abrigo:  

Quero triste viver, pois vos não vejo,  

Nem sequer muito ao longe vos lobrigo.



MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...