quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ANTÓNIO LUÍS MOITA - Despedida

 

 
ANTÓNIO LUÍS MOITA
(Lisboa, Portugal, 1925 - 2013)

Poeta

 
DESPEDIDA

 

Feridas por mistério, emudeceram
todas as vozes, quando se quebrou
a amarra de navio que te prendia.
À beira cais alaram-se gaivotas
e o nevoeiro, após, tudo envolveu.

 
«Que é de ti, meu amor?» - e os olhos dela
repetiam, brilhando : «Que é de ti?».
No sorriso sem fim da tua boca
a memória do amor existiria ?

 
Quase a teus pés choravam duas velas,
exaustas, já desfeitas, desoladas ...
E as tuas mãos, longínquas e cruzadas,
extinguiam-se com elas.

 

 

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

CASTELO DOS CAVALEIROS – Síria

 


CASTELO DOS CAVALEIROS

Bem no alto do Vale de Orontes, defendendo o desfiladeiro de Homs, na Síria, o Castelo dos Cavaleiros era um estratégico ponto avançado para as incursões militares dos cruzados.
A sua formidável situação, juntamente com fortificações feitas no início do século XIII, tornavam-no virtualmente inexpugnável aos ataques. Construído no local dum antigo forte, tinha três linhas de defesa – dois andares concêntricos de fortificações e uma torre de menagem (uma forte torre central).
Embora praticamente inexpugnável, a sua fortificação e entrada controlada faziam-no confiar em métodos defensivos, já que era muito difícil montar um contra-ataque.
O Castelo dos Cavaleiros foi ocupado a partir de 1142 pelos hospitalários, os cavaleiros da Ordem do Hospital ou de Malta, atacado doze vezes durante essa ocupação e finalmente tomado por forças berberes em 1271.
As reconstruções e posteriores modificações mantiveram o castelo como um impressionante exemplo da arquitectura militar medieval, herdeiro das técnicas de construção tradicionais dos pedreiros normandos e das fortificações históricas das cidades árabes. O castelo continuou ocupado até à relocalização da aldeia instalada no seu interior, em 1932.

 
in “Arquitectura” – Neil Stevenson

terça-feira, 29 de agosto de 2017

CANCIONEIRO DE ÉVORA

 
 
 
 
CANCIONEIRO DE ÉVORA

 
Os Cancioneiros são, mais ou menos aquilo a que nós hoje chamamos colectâneas poéticas.
Cancioneiro de Évora – Actual pertença da colecção de manuscritos da Biblioteca de Évora, dele fazem parte produções do Conde de Vimioso, André Soares, Jorge da Silva, Bernardim Ribeiro e D. Diogo de Mendonça. Foi coligido no século XVI, embora registe composições mais antigas.

 

in “Literatura Portuguesa”

 

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

LEONARDO COIMBRA – Mestre de Mestres

 
 
 
 
LEONARDO COIMBRA
(Lixa, Portugal, 1883 — Porto, 1936)

Filósofo, matemático, tribuno, político e pedagogo

Uma das mais lúcidas inteligências que fez do acto de pensar um momento de raro fulgor da história do pensamento português; o mais profundamente inquieto e genuíno dos espíritos agonais de toda a filosofia em Portugal, e um dos seus mais originais filósofos.

Em 1908 desenvolve com Jaime Cortesão e o grupo de jovens libertários, uma acção pedagógica congregada numa agremiação – Amigos do ABC – com o intuito de difundir a instrução básica entre o povo, contribuindo assim para minorar o analfabetismo.

Foi um dos fundadores da revista Àguia (1910-1032).

Em 1914, Leonardo Coimbra filia-se no Partido Republicano. Em 1918, durante o consulado de Sidónio Pais, chega a ser preso com outros intelectuais, nomeadamente Raul Proença e o poeta Afonso Duarte.

Reformou a Biblioteca Nacional e o Conservatório de Música de Lisboa, criou as Escolas Primárias Superiores, elaborou uma proposta de reforma do programa do ensino da filosofia nos liceus e nas Faculdades de Letras, ao mesmo tempo que promovia a transferência da Faculdade de Letras de Coimbra para o Porto. Apresentou uma proposta de lei visando a liberdade do ensino religioso nas escolas particulares, o que despoletou polémicas e adversões no interior do seu próprio partido.

Os seus brilhantes dotes de orador mereceram de Teixeira de Pascoaes esta entusiástica quanto lírica apreciação:
«A sua palavra é como a vara de Moisés: faz brotar água dos rebos e fraguedos».


in “Didacta – Filosofia”
Imagem: Leonardo Coimbra - desenho do pintor Eduardo Malta (Covilhã, Portugal, 1900 – Óbidos, 1967).

domingo, 27 de agosto de 2017

RENÉ CHAR - A Vidraça

 
 
 
RENÉ CHAR
(Vaucluse, França, 1907 - Paris, 1988)
 
Poeta

 
Companheiro de André Breton e Paul Éluard nas hostes do Sobrerrealismo, com eles redigiu alguns textos do grupo, sem contudo aceitar completamente a ruptura entre a poesia e a realidade, a que ele conduzia.
 
Afastando-se pouco a pouco dos sobrerrealistas, tomou parte na guerra de Espanha e, em 1944, comandou uma guerrilha contra a ocupação alemã, experiências de que resultaram alguns dos mais belos poemas da resistência: Seuls demeurent (1945), Feuillets d´Hypnos (1946). Esta obra marca o ponto de partida para uma poesia densa, por vezes difícil e quase hermética, mas sempre impregnada de um humanismo e de um optimismo forte, a que não é estranha a sua origem meridional.

 
 
in “Enciclopédia de Cultura”

 
***

Palavras de René Char
"Não é digno do poeta ludibriar o cordeiro, investindo em sua lã."

 
A VIDRAÇA

Chuvas puras, esperadas mulheres,
O rosto que lavais,
De vidro condenado aos sofrimentos,
É o rosto do revoltado;
O outro, fremindo ao fogo da lareira,
É a vidraça do afortunado.

Vos quero bem, ó dúplice mistério,
A um e outro estou ligado;
Dói-me tanto e me sinto bem.

 
 
Imagem: René Char - fotografia de Man Ray


sábado, 26 de agosto de 2017

MORALISTAS

 

 
MORALISTAS

São considerados escritores Moralistas aqueles que partindo da realidade psicológica do homem, isto é, aqueles que perscrutando a natureza humana nos seus hábitos e tendências, põem em relevo através dos seus escritos a parte moral do mesmo homem; aqueles que no seu contacto com os leitores sejam capazes de lhe transmitirem uma mensagem moral que predomine sobre os demais.

Os primeiros autores gregos considerados Moralistas, foram Homero, Hesíodo, Sólon, Platão, Aristóteles, Plutarco e Teofrasto.

Em Roma contam-se entre os principais, Cícero, Epicteto E Marco Aurélio.

Em França, Montaigne, La Fontaine, Pascal, La Rochefoucaud e La Bruyère.

Enquanto que em Portugal, os primeiros terão sido o nosso rei D. Duarte, autor do Leal Conselheiro, e seu irmão, o infante D. Pedro, com a Virtuosa Benfeitoria.

Outros: D. Francisco de Portugal, com as Sentenças; D. Francisco Manuel de Melo, com a Carta de Guia de Casados e Apólogos Dialogais; o Padre Manuel Bernardes, com a Nova Floresta, e o Arte de Furtar.Padre Manuel da Costa, com a Arte de Furtar.

 

in “Dicionário da Literatura Portuguesa”
Imagem: pintura de Salvador Dalí

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

ALFREDO MARCENEIRO - Fadista

 
 
 
ALFREDO MARCENEIRO
(Lisboa, Portugal, 1891 – 1982)

Fadista

Tomou contacto com o Fado ao assistir às cegadas de rua. Conheceu então Júlio Janota que, para além de participar nas cegadas, tinha o ofício de marceneiro e lhe arranjou lugar como seu aprendiz numa oficina em Campo de Ourique.

Alfredo Duarte começou por cantar Fados nos bailes populares que frequentava, entre os 14 e os 17 anos. É nesta altura, em 1908, que faz a sua estreia na cegada do poeta Henrique Lageosa, inspirada no argumento do filme mudo O Duque de Guise, onde interpreta o papel da amante do Duque.

Para além de participar nas cegadas, onde desenvolve o seu método de dizer bem e dividir as orações, Alfredo Duarte começa a cantar em diversas festas de solidariedade e nos retiros do Caliça, Bacalhau, José dos Pacatos, Cachamorra, Baralisa e Romualdo, mas é no 14 do Largo do Rato que se torna mais conhecido.

É alcunhado de "Alfredo Lulu" por se vestir de forma elegante e aprumada, mas será o apelido de "Marceneiro", que se eternizará, cantado pelo próprio fadista no poema de Armando Neves, de que reproduzimos um excerto:

"Orgulho-me de ser em toda a parte
Português e fadista verdadeiro,
Eu que me chamo Alfredo, mas Duarte
Sou para toda a gente o Marceneiro"

 
No ano de 1924 participa num concurso de Fados do Sul-América, um espaço situado na Rua da Palma, e onde ganhou a "Medalha de Ouro". Nesse mesmo ano canta durante dois meses no Chiado Terrasse para animar as noites de cinema e é presença na "Festa do Fado" organizada pelo jornal "Guitarra de Portugal" no Teatro São Luiz.

A partir desta data a sua carreira prossegue com grande sucesso actuando em casas como o Retiro da Severa, o Solar da Alegria ou o Café Mondego. Chega mesmo a ter a sua própria casa, o Solar do Marceneiro, no final da década de 1940, mas sendo um espírito irrequieto não consegue cingir-se a cantar diariamente nesse espaço.

Apesar do sucesso da sua carreira nunca saiu de Portugal para actuações e raramente deixou Lisboa, embora na década de 1930 tivesse integrado alguns espectáculos de grupos criados para efectuar tournées por Portugal.

Alfredo Marceneiro considerava-se um estilista e nesta criação de estilos acabou por ser autor de composições que são hoje consideradas Fados tradicionais.

"Ti’ Alfredo" para os fadistas e amigos continua a ser considerado um dos fadistas maiores, seguido como um modelo na forma de dividir os versos cantados, não permitindo que as pausas musicais interrompam o sentido das orações. A sua figura característica, sempre de boina e lenço de seda ao pescoço, será recordada juntamente com o seu modo particular de interpretar, com o balancear de ombros e tronco e as mãos nos bolsos.

Em 23 de Junho de 1980, numa cerimónia realizada no Teatro São Luiz, é-lhe entregue a "Medalha de Ouro de Mérito da Cidade de Lisboa".

in “Museu do Fado” (excertos)
 
 
 
 


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

JOÃO GONÇALVES ZARCO - Navegador

 
 
JOÃO GONÇALVES ZARCO
(Portugal, 1390 - 1471)

 Navegador

Fidalgo cavaleiro da casa do infante D. Henrique.
Seguiu desde muito novo a carreira marítima, e por mais de uma vez exerceu o comando das caravelas, que guardavam as costas do Algarve.

Quando o infante D. Henrique se lançou no caminho das explorações marítimas, João Gonçalves Zarco foi o primeiro que se lhe ofereceu para o coadjuvar nesses empreendimentos. Aproveitando o oferecimento, o infante D. Henrique, em 1418, mandou preparar um barco, e entregando-o a João Gonçalves Zarco e a Tristão Vaz Teixeira, mandou-os ou demandar terras desconhecidas, ou procurar umas ilhas que já apareciam nos mapas, e a que teriam aportado cinquenta ou sessenta anos antes outros navegadores portugueses.
João Gonçalves Zarco chegou depois dalguns dias de viagem, à ilha que chamou de Porto Santo, voltando logo a Portugal a dar conta do resultado da sua expedição. O infante ficou satisfeitíssimo, e tratou logo de colonizar a ilha. Ordenou pois a João Gonçalves Zarco e a Trintão Vaz Teixeira que voltassem a Porto Santo, dando-lhes por companheiro outro criado da sua casa, chamado Bartolomeu Perestrelo.
Foi nessa segunda viagem que descobriram ou demandaram a ilha da Madeira, saindo Tristão Vaz e Gonçalves Zarco do Porto Santo no dia 1 de julho de 1419, e indo aportar à Madeira no ponto a que chamaram de S. Lourenço, por ser de S. Lourenço, também o nome do navio que os conduzia.
Fizeram depois em torno da ilha uma viagem de circum-navegação, e foram pondo nomes aos diferentes acidentes da costa. Nessa viagem recebeu a principal baía da ilha o nome de Baía do Funchal, e uma grande lapa onde se escondiam muitos lobos que os viajantes caçaram, o nome de Câmara de Lobos, tomando desse sitio o próprio João Gonçalves Zarco e os seus descendentes o apelido de Câmara.

 

in “Dicionário Histórico” (excertos)
Imagem:Estátua de João Gonçalves Zarco (Funchal - Ilha da Madeira) de autoria de Francisco Franco.

 

 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA

 
 

MUSEU NACIONAL DE ETNOLOGIA

O acervo do Museu Nacional de Etnologia reúne um total aproximado de 40.000 objectos oriundos de diversas partes do Mundo, embora as colecções mais representativas sejam as de Portugal, continental e insular, e as do antigo Ultramar Português.
 
O museu disponibiliza a exposição permanente “O museu, muitas coisas”, constituída por sete núcleos de vigência rotativa: o teatro de sombras de Bali; as bonecas do sudoeste de Angola; as tampas de panelas com provérbios de Cabinda; máscaras e marionetas do Mali; instrumentos musicais populares Portugueses; as talas de Rio de Onor (núcleo dedicado a um objeto) e a escultura de Franklim (núcleo dedicado a um autor), que resultam, na sua maioria, de colecções estudadas através de um programa intensivo de estágios que o museu tem vindo a promover.
 
São ainda visitáveis dois espaços de reserva: as Galerias da Vida Rural contemplam os núcleos constituídos pelas colecções ilustrativas dos temas da agricultura, pastoreio, tecnologias tradicionais e equipamento doméstico na sociedade rural em Portugal. As Galerias da Amazónia reúnem artefactos provenientes de cerca de 40 povos da Amazónia, sobretudo brasileira.

 

in “Património Cultural”(adaptação)

 

 

terça-feira, 22 de agosto de 2017

PEDRO CALDERÓN DE LA BARCA - A las flores

 
 

PEDRO CALDERÓN DE LA BARCA
(Viveda, Espanha, 1600 –Madrid, 1681)

Dramaturgo e poeta

Numa altura em que a ópera italiana se impunha em toda a Europa, fez surgir uma nova forma musical em Espanha: a zarzuela.
As suas obras O jardim de Falerina e o Louro de Apolo são consideradas as primeiras manifestações do género. No entanto, a principal colaboração com Juan Hidalgo foram as óperas A púrpura da rosa, cuja música original se extraviou, e Zelos mesmo do ar matam, reestreada em 2000 no Teatro Real de Madrid.

 

in “Auditorium”
***
Palavras de Pedro Calderón de la Barca
“O poder é como o raio, fere antes de avisar”

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A LAS FLORES
 
Éstas que fueron pompa y alegría
despertando al albor de la mañana,
a la tarde serán lástima vana
durmiendo en brazos de la noche fría.
 
Este matiz que al cielo desafía,
Iris listado de oro, nieve y grana,
será escarmiento de la vida humana:
¡tanto se emprende en término de un día!
 
A florecer las rosas madrugaron,
y para envejecerse florecieron:
cuna y sepulcro en un botón hallaron.
 
Tales los hombres sus fortunas vieron:
en un día nacieron y espiraron;
que pasados los siglos, horas fueron.
 
 
 

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

MAX ERNST - Pintor

 
 
 
 
MAX ERNST
(Brühl, Alemanha, 1891 — Paris, França,1976)

 Pintor, escultor e poeta

Depois de ser soldado alemão na Primeira Guerra Mundial, Max Ernst, o garoto que aprendera a pintar copiando paisagens de Van Gogh, passou por uma breve fase cubista após a guerra. No ano seguinte, 1919, fundou o grupo Dada em sua terra natal (Colónia) e propôs-se destruir todos os valores estéticos de então.

Em 1922, emigrou para França, onde conheceu André Breton e ingressou no movimento surrealista. Publicou livros de poesia ilustrados e, em 1929, fez a colagem "A Mulher de 100 Cabeças", um dos ícones do surrealismo.

Em seus quadros de cores brilhantes, Max Ernst associava imagens de elementos demoníacos e absurdos com outros eróticos e fabulosos. Unia de forma irracional esses símbolos para expressar seu subjectivismo. Da mesma forma que em suas colagens, as esculturas mesclavam objectos quotidianos, como peças de automóvel e garrafas de leite, a blocos de cimento, que depois fundia em bronze.

Em 1948, obteve a cidadania americana. Voltou à Europa em 1958, naturalizando-se francês.

 

in “ComjeitoeArte”


domingo, 20 de agosto de 2017

TEATRO NACIONAL DA ÓPERA DE PARIS

 
 
 
 
TEATRO NACIONAL DA ÓPERA DE PARIS

 
A 5 de Janeiro de 1875 foi inaugurado, com uma representação que incluiu o primeiro acto de A Judia, de Halévy, uma cena de Os huguenotes, de Meyerbeer, e o ballet La source, de Minkus e Delibes. O edifício foi projectado pelo arquitecto Charles Garnier, e daí o nome de Palais Garnier que se deu ao teatro. O edifício capturou a imaginação dos seus contemporâneos com design arrojado, eclético e opulento do arquiteto.

A sala, com capacidade para mais de 2000 espectadores, tem um enorme palco, um dos maiores do mundo.

Em 1963, o pintor Marc Chagall foi contratado para pintar o tecto da Ópera de Paris.

A tela final tem cerca de 220 metros quadrados. Tem cinco secções que foram coladas a painéis de poliéster e içadas até ao tecto de 21 m. As imagens que Chagall pintou na tela prestam homenagem aos compositores Mozart, Wagner, Mussorgsky, Berlioz e Ravel, entre outros, bem como a actores famosos e dançarinos.

Muitas das telas e o tecto da Ópera representam imagens sublimes que se classificam entre as melhores poesias visuais do nosso tempo.

 
in “Auditorium” e “Arte Histórica e Contemporânea”.

 

sábado, 19 de agosto de 2017

RICARDO ALBERTY - Escritor

 
 
 
 
RICARDO ALBERTY
(Lisboa, Portugal, 1919 – 1992)

Escritor e tradutor

Frequentou o Curso Superior de Letras e o Conservatório Nacional. Concluiu o curso de Desenho e Pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes.
Traduziu obras de grandes autores, como as de Shakespeare. A sua melhor produção literária situa-se no domínio da literatura infantil, no qual se revelou um autor original e fecundo, galardoado com prémios de prestígio.
Escreveu contos, fábulas e teatro infantil e de fantoches.

Obras principais: A Galinha Verde, Os Quatro Corações do Coração, Relógio de Sol, Brincos de Cerejas, O Príncipe de Ouro, Fábulas que Ninguém me Contou e O Guarda-Chuva e a Pomba.

 

in “Livro dos Portugueses”

 

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ALFREDO GUISADO - Quando eu nasci…

 

 
ALFREDO GUISADO
(Lisboa, Portugal, 1891 - 1975)

Poeta, político e jornalista

QUANDO EU NASCI…

Que mistério se ergueu quando eu nasci!
Alguém com branco giz num quadro preto
Desenhou meu perfil triste e completo.
E só desde esse dia eu existi.


Depois, não sei porquê, Alguém esquecido
Apagou co´uma esponja o risco a giz
Do meu velho perfil, e esse Alguém quis
Que eu voltasse ao meu nunca ter vivido.

Só ter-me desenhado aquela vez
Bastou p´ra que eu ficasse e não partisse
E teimasse existir-me em altivez.

A porta do meu Ser ficou aberta…
O risco a giz dentro em minha alma o disse.
O quadro preto a minha sombra incerta…

 

 
 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

ENTRE DOIS ESCRITORES DE TEATRO

 
 
 
ENTRE DOIS ESCRITORES DE TEATRO
 

 
No dia da primeira representação do Íntimo chegava a Lisboa um número do Figaro com esta nouvelle à la main:
«Entre dois escritores de teatro:
   - Porque não vais nunca às primeiras representações?
  - Porque as peças, quando são más, aborrecem-me, e, se são boas, irritam-me.»
Cá vão; irritam-se e denunciam-no nos jornais, elogiando calorosamente, excessivamente, em artigos cheios de mas … e de porém ... As más não os aborrecem, como ao outro de Paris, - alegram-nos e tanto que voltam a vê-las ... a ver como está a casa. Vazia a plateia; nos camarotes algumas familias borlistas; a voz dos actores mal humorados reboa pelo casarão, duma frieza congeladora. Sentem-se mesmo ao pé da orquestra arrepios de frio. E, com a gola dó casaco levantada, sempre se goza uma tal satisfação !
 
 
in  BALAS ... DE PAPEL” – Publicação bimensal – 20 de Janeiro de 1891, dirigida por Gualdino Gomes e Carlos Sertório.
Imagem: pintura de Wassily Kandinsky (Rússia, 1866 – França, 1944).
 
 

 
 


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

HENRI MICHAUX – Que repouse em revolta

 
 
 
HENRI MICHAUX
(Bélgica,1899 – França,1984)

Poeta, escritor e pintor

Autor de poemas que são a narrativa de suas viagens imaginárias, de seus sonhos ou alucinações: Viagem à grande Garabândia; Pena; Aqui, Poddema.
Seus desenhos e suas pinturas ligam-se às mesmas pesquisas.

 
in, “Dicionário Larrousse”

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Palavras de Henri Michaux
“A aprendizagem da aranha não é para a mosca.”

 
***
QUE REPOUSE EM REVOLTA
 
No escuro, no escuro será sua memória
no que sofre, no que cheira mal
no que procura e não encontra
no barco que se racha no areal
na partida sibilante da bala perfurante
na ilha de enxofre será sua memória.
No que tem em si a sua febre e a quem não importam as paredes
no que se lança e só tem cabeça para bater nas paredes
no ladrão não arrependido
no fraco para sempre recalcitrante
no pórtico desventrado será sua memória.
 
Na estrada que obceca
no coração que procura a sua praia
no amante a quem o corpo foge
no viajante que o espaço rói.
No túnel
no tormento girando sobre si próprio
no que ousa roçar por cemitérios.
Na órbita inflamada dos astros que se chocam
no barco fantasma, na noiva desonrada
na canção crepuscular será sua memória.
Na presença do mar
na distância do juiz
na cegueira
na taça de veneno.
No capitão dos sete mares
na alma do que lava a adaga
no órgão do canavial que chora por todo um povo
no dia do escarro sobre a oferenda.
No fruto de inverno
no pulmão das batalhas incessantes
no louco na chalupa.
Nos braços torcidos dos desejos para sempre insaciados
será sua memória.
 
(Da colecção Poètes d'aujourd' hui)
Tradução de António Ramos Rosa
 

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...