sexta-feira, 21 de junho de 2019

TOMAZ DE FIGUEIREDO - Para quê me deste a Vida?




TOMAZ DE FIGUEIREDO
(Braga, Portugal, 1902 - Lisboa, 1970)
Escritor, poeta

***

Contribuiu para o ressurgimento da tradição romanesca camiliana, sendo as suas obras caracterizadas por um estilo onde o casticismo se funde com o lirismo e por uma técnica narrativa singularmente moderna. 

in “Portugueses Século XX”

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PARA QUÊ ME DESTE A VIDA ?

Para que foi, ó Mãe, que me criaste?
Mas — antes! — para quê me deste à vida?
Emendando: porquê, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?

Melhor andaras, Mãe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberás que, ao seres mãe, me assassinaste?

Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.

Aqui estou, Mãe, agora, nestas ânsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distâncias,
só e sem mim, — que é um só demais.







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