GONÇALVES CRESPO
(Rio de Janeiro, Brasil,
1846 — Lisboa, Portugal, 1883)
Poeta
***
Morreu bastante novo e, exactamente, no apogeu da sua carreira
gloriosa. Pelo que a sua obra como poeta, já então notabilísima, quase ficou
reduzida aos dois volumes de Obras
Completas, dos quais se destaca o Juramento
do Árabe, cujos versos são considerados dos mais belos e dos mais
representativos da poesia clássica portuguesa.
***
in “Dicionário da Literatura Portuguesa”
***
O JURAMENTO DO ÁRABE
Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas,
viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Vail, chefe minaz de bárbara pujança,
matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança;
corre, célere voa, entra na tenda e conta
a um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.
- "Baçus!" - disse, tranquilo, o hóspede gentil -
"Vingar-te-ei com meu braço: eu matarei Vail".
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
da guerra pertinaz, horrível, carniceira,
que as tribos dividiu. Na luta fratricida,
Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida.
Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva
e que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,
incansável procura, e é sempre embalde, o vil
matador de seu filho, o tredo Mualhil.
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
falou severo assim:
- "Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta
em que vive o traidor Mualhil; dize a verdade;
dá-me que o alcance vivo, e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
- "É por Alá que o juras?"
- "Juro!" - o chefe tornou.
- "Sou o homem que procuras!
Mualhil é o meu nome: eu fui que despedacei
a lança de teu filho e aos pés o subjuguei!"
E, intrépido, fitava o atónito inimigo.
Anru volveu:
- "És livre! Alá seja contigo!"
viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Vail, chefe minaz de bárbara pujança,
matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança;
corre, célere voa, entra na tenda e conta
a um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.
- "Baçus!" - disse, tranquilo, o hóspede gentil -
"Vingar-te-ei com meu braço: eu matarei Vail".
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
da guerra pertinaz, horrível, carniceira,
que as tribos dividiu. Na luta fratricida,
Omar, filho de Anru, perdera o alento e a vida.
Anru, que lanças mil aos rudes prélios leva
e que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,
incansável procura, e é sempre embalde, o vil
matador de seu filho, o tredo Mualhil.
Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
falou severo assim:
- "Escravo, atende e escuta:
Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta
em que vive o traidor Mualhil; dize a verdade;
dá-me que o alcance vivo, e é tua a liberdade!"
E o moço perguntou:
- "É por Alá que o juras?"
- "Juro!" - o chefe tornou.
- "Sou o homem que procuras!
Mualhil é o meu nome: eu fui que despedacei
a lança de teu filho e aos pés o subjuguei!"
E, intrépido, fitava o atónito inimigo.
Anru volveu:
- "És livre! Alá seja contigo!"
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