PAUL CELAN
(Ucrânia, 1920 – França, 1970)
Poeta, ensaísta, tradutor
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Um dos maiores poetas do pós-guerra, Paul Celan teve
toda a sua vida e obra marcadas pelo tição do horror nazista. Romeno de língua alemã e ascendência judia, durante a guerra, com a aliança entre Roménia e Alemanha, seus pais foram enviados a um campo de concentração, onde morreram.
Também enviado a um campo, Celan conseguiu fugir em 1944, com o avanço das tropas russas. Data deste ano a circulação de primeira versão do poema Todesfuge (Fuga da Morte). O poeta suicidou-se em 1970.
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FUGA
DA MORTE
Leite
negro da madrugada nós o bebemos de noite
nós
o bebemos ao meio-dia e de manhã nós o bebemos de
noite
nós o bebemos
bebemos
cavamos
um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Um
homem mora na casa bole com cobras escreve
escreve
para a Alemanha quando escurece teu cabelo de ouro Margarete
escreve
e se planta diante da casa e as estrelas faíscam ele assobia para os seus Mastins
assobia
para os seus judeus manda cavar um túmulo na terra
ordena-nos
agora toquem para dançar
Leite
negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós
te bebemos de manhã e ao meio-dia nós te bebemos de noite nós bebemos
bebemos
Um
homem mora na casa e bole com cobras escreve escreve para a Alemanha quando
escurece teu cabelo de ouro Margarete
teu
cabelo de cinzas Sulamita cavamos um túmulo nos ares lá não se jaz apertado
Ele
brada cravem mais fundo na terra vocês aí cantem e toquem
agarra
a arma na cinta brande-a seus olhos são azuis cravem mais fundo as pás vocês aí
continuem tocando para dançar
Leite
negro da madrugada nós te bebemos de noite
nós
te bebemos ao meio-dia e de manhã nós te bebemos de noite nós bebemos
bebemos
um
homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
teu
cabelo de cinzas Sulamita ele bole com cobras
Ele
brada toquem a morte mais doce a morte é um dos mestres da Alemanha
ele
brada toquem mais fundo os violinos vocês aí sobem como fumaça no ar
aí
vocês têm um túmulo nas nuvens lá não se jaz apertado Leite negro da madrugada
nós te bebemos de noite
nós
te bebemos ao meio-dia a morte é um dos mestres da Alemanha
nós
te bebemos de noite e de manhã nós bebemos bebemos a morte é um dos mestres da
Alemanha seu olho é azul
acerta-te
com uma bala de chumbo acerta-te em cheio
um
homem mora na casa teu cabelo de ouro Margarete
ele
atiça seus mastins sobre nós e sonha a morte é um dos mestres da Alemanha
eu cabelo de ouro Margarete
teu cabelo de cinzas Sulamita
Tradução: Modesto Carone
in “Segunda Guerra Mundial - Uma Antologia
Poética" – Sammis Reachers