FRANCISCA JÚLIA DA SILVA
(São Paulo, Brasil, 1871 - 1920)
Poetisa
***
***
A sua
obra é uma das mais significativas do Parnasianismo brasileiro. No seu livro Esfinges, publicado em 1903, a poetisa produz sonetos místicos que a aproximam do Simbolismo, estética que se afinava
com suas inquietações religiosas.
in “Enciclopédia Itaú Cultural”
***
Almas, por que chorais, se ninguém vos responde?
Almas, por quê? Deixai as
lágrimas! empós
Do Ideal correi, correi
para outras plagas, onde
Não exista ninguém que
escarneça de vós.
Lançai o vosso olhar a
longínquas paragens,
Bem distantes daqui, cheias
de ideais risonhos,
Onde as aves do amor,
sacudindo as plumagens,
Passem cantando ao longe a
música dos sonhos...
Ide a outras plagas onde
estas misérias todas
Não consigam deixar o
mínimo sinal,
Paragens onde, em meio às
delirantes bodas
Dos sonhos e do amor,
exulte e cante o Ideal...
Mas, não, almas! soltai a
vossa queixa triste;
Contai ao mundo inteiro a
vossa mágoa justa;
Essa terra do Ideal, ó
almas, não existe;
Inventei-a somente, e
inventá-la não custa.
Pobres almas, lançai em
torno a vossa vista:
Sempre haveis de encontrar
essa miséria atroz.
Almas, chorai, que embora
esse país exista,
Nele há de haver alguém que
escarneça de vós.
Sem comentários:
Enviar um comentário