domingo, 29 de setembro de 2019

JOÃO GASPAR SIMÕES - Da Cultura e da Erudição (IV)




JOÃO GASPAR SIMÕES
(Figueira da Foz, Portugal, 1903 — Lisboa, 1987)
Dramaturgo, crítico literário, tradutor

***

DA CULTURA E DA ERUDIÇÃO (IV)

(continuação)


Espírito culto, diz-se; não espírito erudito. Espírito erudito é uma contradição. Só o espírito é acessível a um progresso – a uma cultura, no sentido etimológico do termo. 

Com a libertação e o aproveitamento da energia da cultura faz-se uma espécie de digestão. Entre o que se recebeu de fora e o que existia latente no homem realiza-se uma reacção química que tem por fim vivificar e multiplicar as suas as possibilidades criadoras e compreensivas. 

A erudição, pelo contrário, não age quimicamente. Como um bloco pesado e indecomponível por qualquer reagente – a erudição existe na consciência do homem, com se não lhe pertencesse. Nunca, quem a possui, se libertará desse peso que se precipita sobre todas as suas manifestações intelectuais de tal forma que o erudito acaba por nos dar a impressão de uma vida soterrada ou mumificada.
  
(continua)



in – “PRINCÍPIO” – Publicação de Cultura e Política (1930) – Renascença Portuguesa






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