domingo, 8 de novembro de 2020

ÁLVARO SALEMA – Stendhal (III)



ÁLVARO SALEMA
(Viana do Castelo, Portugal, 1914 - 1991)
Ensaísta, crítico literário

***

STENDHAL (III)

(continuação)


Em 1815, Stendhal publicou Lettres sur Haydn, em 1817, Histoire de la Peinture en Italie e Rome, Naples et Florence

Estes primeiros livros são ainda bastante convencionais no seu exagerado subjectivismo. Neles se afirma, segundo Jean Giraud, «contra a concepção do belo ideal de Winckelmann; encara o belo, múltiplo e variável, em função dos climas e dos temperamentos, como «espírito superior» que antecipa Taine; apaixonado pela Itália das crónicas, pelas Memórias de Benevenuto Cellini, evoca a «virtú» da Renascença e a energia desenfreada dessas épocas voluptuosas e brutais em que teria gostado de viver». Todos estes caracteres têm significado especial na sua grande obra futura de romancista; são, por assim dizer, o prelúdio de uma estética a uma grande obra de escritor. 

Em 1822, publicando De l´amour, Stendhal anuncia plenamente as grandes criações próximas em que é, ao mesmo tempo, o «observador do coração humano» que já então se considerava, o assombroso transpositor de acção para a obra literária e o fremente apóstolo da vontade que levou André Thérive a chamar-lhe «um hipomaníaco». 

O público não correspondia à sua originalidade com o interesse que sempre ambicionou, fingindo desprezá-lo. Parece que De l´amour só encontrou 17 compradores durante dez anos.

(continua)
 


in “Mundo Literário” - 1946






Sem comentários:

Enviar um comentário

MALMEQUER

MALMEQUER Português, ó malmequer Em que terra foste semeado? Português, ó malmequer Cada vez andas mais desfolhado Ma...