ÁLVARO SALEMA
(Viana do Castelo, Portugal,
1914 - 1991)
Ensaísta, crítico
literário
***
STENDHAL (III)
(continuação)
Em 1815, Stendhal publicou Lettres sur Haydn, em 1817, Histoire de la Peinture en Italie e Rome, Naples et Florence.
Estes
primeiros livros são ainda bastante convencionais no seu exagerado
subjectivismo. Neles se afirma, segundo Jean Giraud, «contra a concepção do
belo ideal de Winckelmann; encara o belo, múltiplo e variável, em função dos
climas e dos temperamentos, como «espírito superior» que antecipa Taine;
apaixonado pela Itália das crónicas, pelas Memórias
de Benevenuto Cellini, evoca a «virtú» da Renascença e a energia desenfreada
dessas épocas voluptuosas e brutais em que teria gostado de viver». Todos estes
caracteres têm significado especial na sua grande obra futura de romancista;
são, por assim dizer, o prelúdio de uma estética a uma grande obra de escritor.
Em 1822, publicando De l´amour,
Stendhal anuncia plenamente as grandes criações próximas em que é, ao mesmo
tempo, o «observador do coração humano» que já então se considerava, o
assombroso transpositor de acção para a obra literária e o fremente apóstolo da
vontade que levou André Thérive a chamar-lhe «um hipomaníaco».
O público não
correspondia à sua originalidade com o interesse que sempre ambicionou, fingindo
desprezá-lo. Parece que De l´amour só
encontrou 17 compradores durante dez anos.
(continua)
in “Mundo Literário” - 1946
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