ANTÓNIO ALEIXO
(Vila Real de Santo António, Portugal, 1899 - Loulé, 1949)
Poeta
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Quase analfabeto, foi tecelão, servente de pedreiro em França, pastor de cabras e cauteleiro. O exercício desta profissão levou-o de terra em terra, favorecendo-lhe o cultivo da sua veia poética. Os seus versos de tom dolorido reflectem bem a vida amarga que lhe coube em sorte.
in “Livro dos Portugueses”
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NÃO CREIO NESSE DEUS
I
Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.
II
Não vês que o teu bem-estar faz d'outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p'ra ti o céu e a terra…
— Não te achas egoísta ou exigente?
III
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P'ra o homem conseguir o que deseja.
IV
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?...
P'ra esses é o céu; porque o inferno
É p'ra quem vive a vida à custa alheia!
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