OLIVERIO GIRONDO
(Buenos Aires, Argentina,
1891 – 1967)
Poeta
***
Foi um dos principais renovadores
da poesía latino-americana do século XX. Integrou as principais correntes
vanguardistas.
Publicou,
em França, o seu primeiro livro, 20 Poemas para ler en el tranvia.
***
CANSAÇO
Cansado.
Sim!
Cansado
de um usar um só braço,
dois lábios,
vinte dedos,
não sei quantas palavras,
não sei quantas recordações,
grisalhas,
fragmentadas.
Cansado,
muito cansado
deste frio esqueleto,
tão púdico,
tão casto,
que quando se desnuda
não saberei se é ele mesmo
que usei enquanto vivia.
Cansado.
Sim!
Cansado
por precisar de antenas,
de um olho em cada omoplata
e de uma cauda autêntica,
alegre,
desatada,
Sim!
Cansado
de um usar um só braço,
dois lábios,
vinte dedos,
não sei quantas palavras,
não sei quantas recordações,
grisalhas,
fragmentadas.
Cansado,
muito cansado
deste frio esqueleto,
tão púdico,
tão casto,
que quando se desnuda
não saberei se é ele mesmo
que usei enquanto vivia.
Cansado.
Sim!
Cansado
por precisar de antenas,
de um olho em cada omoplata
e de uma cauda autêntica,
alegre,
desatada,
e não
desta cauda hipócrita,
degenerada,
pequena.
Cansado,
sobretudo,
de estar sempre comigo,
de me encontrar a cada dia,
quando termina o sono,
ali, onde me encontro,
com o mesmo nariz
e com as mesmas pernas;
como se não desejasse
esperar a baixa maré com uma cútis de praia
oferecer, sob o orvalho, os seios de magnólia,
acariciar a terra como um ventre de lagarta
e viver, uns meses, dentro de uma pedra.
degenerada,
pequena.
Cansado,
sobretudo,
de estar sempre comigo,
de me encontrar a cada dia,
quando termina o sono,
ali, onde me encontro,
com o mesmo nariz
e com as mesmas pernas;
como se não desejasse
esperar a baixa maré com uma cútis de praia
oferecer, sob o orvalho, os seios de magnólia,
acariciar a terra como um ventre de lagarta
e viver, uns meses, dentro de uma pedra.
Tradução: Jefferson Bessa
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