Luís de Montalvor, nasceu na Ilha de S.
Vicente, Cabo Verde, no dia 31 de Janeiro de 1891 e viveu até 2 de Março de
1947, dia em que juntamente com a família, o seu carro, por acidente, caiu no
rio Tejo.
Durante três anos viveu no Brasil, onde
exerceu as funções de secretário da embaixada de Portugal.
Quando regressou a Portugal trouxe o
projecto de lançar a revista “Orpheu”.
(figura mítica que vai ao mundo dos mortos socorrer a sua mulher, sem nunca
poder olhar para trás).
A “Orpheu” representou uma oportunidade, embora efémera, para os jovens
poetas, na qual podiam publicar tudo o que lhes apetecesse.
Fernando Pessoa, disse em Novembro de 1935:
“Orpheu” acabou. “Orpheu” continua.
E assim foi. Prosseguiu a ruptura com o
passado, romântico e simbolista, emergindo uma nova geração que queria a
mudança.
No ano seguinte, Luis de Montalvor publicou
e dirigiu o primeiro e único número da revista “Centauro”. Nela, escreveu:
- “Somos
os descendentes do século da Decadência. Onde somos hoje decadentes foram os de
outros tempos nossos percursores".
Foi o fundador da “Editorial Ática”, que
deu inicio à publicação sistemática das obras de Fernando Pessoa (1942) e de
Mário de Sá-Carneiro (1946).
Luís
de Montalvor, poeta e ensaísta, produziu curta obra. Mas foi um dos nomes mais importantes
do modernismo português e um prossecutor da poesia da Decadência.
Os seus versos foram coligidos num único
volume “Livro de Poemas”. Postumamente.
“Tarde”
Ardente, morna, a tarde
que calcina,
como em quadrante a sombra que descora,
como em quadrante a sombra que descora,
morre − baixo relevo que
domina −
como um sol que sobre
saibros se demora.
Inunda a terra a vaga de
ouro: fina
chuva de sonho. Paira, ao
longe, e chora
o olhar errado ao sol que
já declina
sobre as palmeiras que o
deserto implora.
A um zodíaco de fogo a
tarde abrasa,
em terra de varão que o
olhar esmalta.
− Estagnante plaino de
ouro e rosas − vaza
nele a sombra, sem dor,
que em nós começa
e galga, sobe, monta e
vive e exalta.
E a noite, a grande noite,
recomeça!
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