Jean-Claude Carrière (Hérault, França, 1931).
Escritor, actor, roteirista é, como ele próprio se considera, um contador de histórias.
Foi um dos argumentistas dos filmes: Cyrano de Bergerac, A Insustentável Leveza do Ser e O Charme Discreto da Burguesia.
Palavras de Jean-Claude Carrière:
“Cada época tem sua verdade de um lado e suas notórias imbecilidades do outro.”
O Juiz e as Batatas
A história que se segue contava-se na Alemanha nos anos sessenta, nos meios frequentados por magistrados. Supõe-se ter uma origem mais antiga:
“Um juiz foi passar férias a casa de um primo, que era lavrador. Ao terceiro dia o juiz, invadido por um princípio de tédio e vendo o seu primo muito ocupado, propôs-se ajudá-lo:
- Que sabes fazer? – Perguntou-lhe o lavrador.
O juiz reflectiu por momentos e não soube dar qualquer resposta satisfatória. O lavrador reflectiu por sua vez e encontrou um trabalho fácil. Levou o juiz a uma arrecadação cujo soalho estava inteiramente coberto de batatas que acabavam de arrancar.
- Aqui tens o que vais fazer – disse ele. – Vais separar estas batatas em três categorias. Grandes, pequenas e médias. Até logo.
O lavrador partiu e trabalhou todo o dia nos campos. Quando voltou, era quase noite, abriu a porta da arrecadação e viu que as batatas estavam exactamente como as tinha deixado de manhã.
O juiz estava no meio da arrecadação com um ar abatido, o rosto coberto de suor, o cabelo em desalinho. Tinha na mão uma batata.
- Que se passou? – Pergunta o lavrador.
O juiz estendeu-lhe a batata e perguntou-lhe com voz alquebrada:
- Esta é grande, pequena ou média?"
Jean-Claude Carrière, in “Tertúlia de Mentirosos”.
Sem comentários:
Enviar um comentário