sexta-feira, 10 de julho de 2015

Floriram por Engano as Rosas Bravas

 
 
 
 
 

Camilo Pessanha (Coimbra, Portugal, 1867 – Macau, República Popular da China, 1926).

É o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa.

          

 
      Floriram por Engano as Rosas Bravas


Floriram por engano as rosas bravas
No Inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?

Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...

Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! - do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

 

 Camilo Pessanha, in “Clepsidra e outros poemas

          


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