sexta-feira, 24 de julho de 2015

PRÉMIO CAMÕES – 2011 – Manuel António Pina

 
 
 
 
 
 

Manuel António Pina (Sabugal, Portugal, 1943 – Porto, Portugal, 2012).

Poeta, jornalista, dramaturgo, cronista e autor de livros para crianças foi galardoado com o “Prémio Camões 2011”.

Instituído pelos governos português e brasileiro em 1988, o Prémio Camões distingue, anualmente, um autor que, pelo conjunto da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa.

O júri justificou a distinção pela “inventividade e originalidade  da obra” e “pelos trabalhos do autor noutras áreas da literatura, incluindo os seus textos como cronista, dramaturgo e romancista”.

Algumas das suas obras: Nenhum Sítio, Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança, O País das Pessoas de Pernas para o Ar, O Anacronista, O Livro de Desmatemática e A Noite, Poesia Reunida.

 
Palavras de Manuel António Pina:

“A pobreza mete-nos medo. E, no entanto, alimentamo-nos da pobreza, é o seu sangue que move os nossos carros topo de gama e as nossas fábricas e é à sua sombra que florescem os nossos paraísos de consumo.”

 

 A um Homem do Passado

 

Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sob pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

 

Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"

 


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