sexta-feira, 3 de julho de 2015

ODYSSÉAS ELÝTIS - Louvado Seja (Áxion Estí)

 
 
 
 
 
 
 

Odysséas Elýtis (Creta, Grécia, 1911 – Atenas, Grécia, 1996).

Em 1979, foi distinguido com o “Prémio Nobel de Literatura”.

Quando a Alemanha nazista ocupou a Grécia em 1941, o poeta lutou contra os italianos na Albânia.

 

 
Palavras de Odysséas Elýtis:

"No fundo, o mundo material é um puro amontoado de matéria. A construção final depende da nossa qualidade de arquitectos. O paraíso ou o inferno. Se a poesia contém uma garantia e isto nestes tempos sombrios, é precisamente esta: que o nosso destino, apesar de tudo, está nas nossas mãos."


VIERAM

com os galões dourados
os galos do Norte e as feras do Levante.
E tendo repartido em duas a minha carne
acabaram por se disputar pelo meu fígado
e foram-se.

"Para eles", disseram, "o fumo do sacrifício,
para nós os fumos da glória,
amén."

E o som enviado do passado
todos o ouvimos e conhecemos.
Conhecemos o som e de novo
de voz apertada cantámos:
para nós, para nós o ferro ensanguentado
e a traição triplamente urdida.

Para nós a madrugada na caldeira
e os dentes cerrados até à hora derradeira,
e o dolo e a rede invisível.
Para nós o rastejar na terra,
a jura escondida na escuridão
dos olhos, a crueldade,
sem nenhuma, nunca nenhuma Contrapartida.
Irmãos enganaram-nos!

"Para eles", disseram, "o fumo do sacrifício,
para nós os fumos da glória,
amén."

Mas tu na nossa mão a candeia das estrelas
com a tua fala acendeste, boca do inocente,
porta do Paraíso!

A vigência do fumo no futuro vemos
o jogo da tua respiração
e seu poder e reinado!


Odysséas Elýtis, in “Louvado Seja (Áxion Estí)”
Tradução: Manuel Resende

 

 

1 comentário:

  1. A história parece-me mera ilusão. Os fatos se repetem, apenas se alteram as roupagens culturais...

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