Joaquim Nabuco (Pernambuco, Brasil,
1849 – Washington, EUA, 1910).
Foi historiador, jurista, político e jornalista.
Palavras de
Joaquim Nabuco:
“Uma das
maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa. Atrás do
jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo. Vemos as massas
que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o
seu próprio oráculo.”
Felicidade,
Glória, Imaginação, Inteligência e Inspiração
Numa vida profundamente atormentada seria possível
muitas vezes encontrar-se felicidade para várias outras existências. Da
felicidade que um homem malbarata, sem lhe suspeitar o valor, outros homens
tirariam alegria para toda a vida, assim como as sobras da mesa do rico dariam
para sustento de mais de um pobre.
A glória é um processo de apuramento que nunca pára. À
medida que a humanidade envelhece e que as suas recordações se vão amontoando,
tornam-se necessárias novas selecções. Séculos inteiros são depurados nesses
escrutínios, sem que sobreviva um nome sequer. Um dia os imortais irão unir-se
aos anónimos no esquecimento final.
É a imaginação, tocha divina apensa ao espírito do
homem, que lhe permite mover-se nas trevas da criação. Assim os peixes das
profundezas oceânicas trazem um facho que os ilumina na noite eterna. Sem isto
para que lhes serviriam os olhos? Sem imaginação, que utilidade teria para o
homem a inteligência?
O homem de letras tem falhas pronunciadas de
inteligência, a ponto de parecer estúpido ao homem de negócios. Não deixa porém
por isso de se considerar, onde quer que se encontre, o mais inteligente da
roda. Nada é mais absurdo do que essa superioridade, afectada pelo artista ou
poeta de qualquer categoria diante de, por exemplo, um matemático cujos
cálculos ele seria incapaz de acompanhar.
A arte dramática é, realmente, pura estereotipia. O
actor fixou o seu papel de uma vez, e limita-se, em cada representação, a tirar
nova prova. Em arte alguma pode o artista anunciar uma demonstração de génio e
de inspiração, diariamente, à hora do cartaz. O que ele faz é reproduzir a sua
criação, como o impressor reproduz uma gravura.
Joaquim Nabuco, in “Pensées Détachées et Souvenirs”
Imagem: pintura de Gwen John (Reino Unido, 1876 – França, 1839).
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