Al Berto (Coimbra, Portugal, 1948 – Lisboa, Portugal, 1997).
Poeta, pintor e editor.
Este Não-Futuro que a Gente Vive
Será que nos resta muito
depois disto tudo, destes dias assim, deste não-futuro que a gente vive? (...)
Bom, tudo seria mais fácil se eu tivesse um curso, um motorista a conduzir o
meu carro, e usasse gravatas sempre. Às vezes uso, mas é diferente usar uma gravata
no pescoço e usá-la na cabeça.
Tudo aconteceu a partir do momento em que eu
perdi a noção dos valores. Todos os valores se me gastaram, mesmo à minha
frente. O dinheiro gasta-se, o corpo gasta-se. A memória. (...)
Não me atrai
ser banqueiro, ter dinheiro. Há pessoas diferentes. Atrai-me o outro lado da
vida, o outro lado do mar, alguma coisa perfeita, um dia que tenha uma manhã
com muito orvalho, restos de geada…
De resto, não tenho grandes projectos. Acho
que o planeta está perdido e que, provavelmente, a hipótese de António José
Saraiva está certa: é melhor que isto se estrague mais um bocadinho, para ver
se as pessoas têm mais tempo para olhar para os outros.
Al Berto, in "Entrevista à
revista Ler "
Imagem: pintura de John Randall Bratby (Inglaterra, 1928 –
1992).
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