Santo
Agostinho (Argélia, 354 d.C.
– 430 d.C.)
Foi escritor, filósofo, teólogo
e bispo de Hipona. Exerceu uma influência fundamental sobre a teologia ocidental,
tornando-se o mais célebre dos Padres da Igreja latina.
Palavras
de Santo Agostinho:
“A necessidade não conhece leis.”
A
Necessidade da Compaixão
Arrebatavam-me os espectáculos
teatrais, cheios de imagens das minhas misérias e de alimento próprio para o
fogo das minhas paixões. Mas porque quer o homem condoer-se, quando presenceia
cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las?
Todavia, o
espectador anseia por sentir esse sofrimento que, afinal, para ele constitui um
prazer. Que é isto senão rematada loucura?
Com efeito, tanto mais cada um se
comove com tais cenas quanto menos curado se acha de tais afectos (deletérios).
Mas ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação
das dores alheias, compaixão. Que compaixão é essa em assuntos fictícios e
cénicos, se não induz o espectador a prestar auxílio, mas somente o convida à
angústia e a comprazer o dramaturgo na proporção da dor que experimenta?
E se
aquelas tragédias humanas, antigas ou fingidas, se representam de modo a não
excitarem a compaixão, e espectador retira-se enfastiado e criticando. Pelo
contrário, se se comove, permanece atento e chora de satisfação.
Amamos, portanto, as lágrimas e as dores. Mas
todo o homem deseja o gozo. Ora, ainda que a ninguém apraz ser desgraçado,
apraz-nos contudo a ser compadecidos.
Não gostaremos nós dessas emoções
dolorosas pelo único motivo de que a compaixão é companheira inseparável da
dor? A amizade é a fonte destas simpatias.
Santo Agostinho, in “Confissões”
Sem comentários:
Enviar um comentário