domingo, 13 de setembro de 2020

LIMA DE FREITAS – VIEIRA DA SILVA e os seres dos espelhos (V)



LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor

***

VIEIRA DA SILVA E OS SERES DOS ESPELHOS (V)

(continuação)


Destruir o Louvre?
Vieira da Silva, quando ainda era uma menina, sentiu com feminino instinto e aguda sensibilidade, a dialéctica destruição-construção que se cruza no cerne da arte viva do nosso tempo. Às perguntas que, entre outras coisas, a leitura de Boccioni levantara no seu espírito, seria dada lenta, gradual resposta, pelo trabalho silencioso, obstinado, pela meditação de pincel em punho.

«Contrariamente a tantos outros artistas, - escreve Jean Grenier – começou por tomar a sério as tradições e as convenções, e avançou a pouco e pouco para a liberdade e a fantasia. É duro, na adolescência, não querer-se a todo o custo ser original e revolucionário.  

Mas é então que se corre o risco de cair num outro conformalismo: o da arte dita «avançada». Com uma argúcia que lembra a dos animais, que se recusam a comer e a beber aquilo de que não têm uma experiência suficiente, quando os seus amigos querem arrastá-la para o café, à noite, ela responde por vezes: «Eu sou como uma galinha-choca. Se sair, os meus quadros vão arrefecer…» 
                                                       
(continua)


in ”Voz Visível” – Ensaios – 1971




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