LIMA DE FREITAS
(Setúbal, Portugal, 1927 — Lisboa, 1998)
Pintor, desenhador, escritor
***
VIEIRA
DA SILVA E OS SERES DOS ESPELHOS (V)
(continuação)
Destruir o Louvre?
Vieira da Silva, quando ainda era uma menina, sentiu com feminino instinto
e aguda sensibilidade, a dialéctica destruição-construção que se cruza no cerne
da arte viva do nosso tempo. Às perguntas que, entre outras coisas, a leitura
de Boccioni levantara no seu espírito, seria dada lenta, gradual resposta, pelo
trabalho silencioso, obstinado, pela meditação de pincel em punho.
«Contrariamente a tantos outros artistas, - escreve Jean Grenier – começou
por tomar a sério as tradições e as convenções, e avançou a pouco e pouco para
a liberdade e a fantasia. É duro, na adolescência, não querer-se a todo o custo
ser original e revolucionário.
Mas é
então que se corre o risco de cair num outro conformalismo: o da arte dita
«avançada». Com uma argúcia que lembra a dos animais, que se recusam a comer e
a beber aquilo de que não têm uma experiência suficiente, quando os seus amigos
querem arrastá-la para o café, à noite, ela responde por vezes: «Eu sou como
uma galinha-choca. Se sair, os meus quadros vão arrefecer…»
(continua)
in ”Voz Visível” – Ensaios
– 1971
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