sábado, 28 de setembro de 2013

EPITÁFIO PARA UM CÃO



                                   Epitáfio para um cão
Perto daqui
estão depositados os despojos daquele
que possuía beleza sem vaidade,
força sem insolência,
coragem sem ferocidade,
e todas as virtudes do Homem sem seus vícios.
Este elogio, que seria uma adulação sem sentido
se escrito fosse sobre cinzas humanas,
é somente um justo tributo à memória de
Boatswain, um cão
que nasceu em Newfoundland em maio de 1803,
e morreu em Newstead, em 18 de novembro de 1808.
Quando um orgulhoso filho do Homem retorna à terra
desconhecido pela glória mas sustentado pelo berço,
a arte do escultor exaure a pompa do infortúnio,
e urnas ornadas registam aquele que descansa abaixo:
Quando tudo está terminado, sobre a tumba é visto
não o que ele foi, mas o que deveria ter sido.
Mas o pobre cão, na vida o mais fiel amigo,
o primeiro a dar boas vindas, na dianteira para defender,
cujo coração honesto é do próprio dono,
que trabalha, luta, vive, respira somente por ele
sem honra se vai, despercebido seu valor,
negada no Paraíso a alma que tinha na terra;
Enquanto o homem, fútil insecto! Tem a esperança de ser perdoado,
e reivindica para si só exclusividade no Paraíso!
Oh, homem! Frágil, breve inquilino
rebaixado pela escravidão, ou corrompido pelo poder,
quem te conhece bem, deve rejeitar-te com desgosto,
massa degradada de poeira viva!
Teu amor é luxúria, tua amizade inteira ilusão
tua língua hipocrisia, teu coração decepção.
Por natureza mau, dignificado apenas pelo nome,
cada irmão selvagem pode fazer-te corar de vergonha.
Vós! Que, por ventura, contemplais esta urna simples
ficais sabendo, não homenageia ninguém que desejais prantear,
para marcar os despojos de um amigo estas pedras se levantam;
Nunca conheci nenhum, excepto um único — e aqui ele descansa.
             Lord Byron - poeta britânico
 

2 comentários:

  1. Obrigada pela partilha deste texto de Byron. Um inconformista desiludido da vida.
    Actualíssimo: o número de pessoas que se voltam para a companhia dos animais vai aumentando a olhos vistos. Quando nos devíamos unir e estreitar relações, estragamos tudo... Já alguém disse que "os animais esperam de nós, o nós esperamos dos anjos". Ana Dias.

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    1. Ana Dias, boa tarde.
      De facto, infelizmente, o seu comentário revela a real situação, sobretudo das pessoas com problemas de solidão. Cada vez mais os humanos são "máquinas", desprezando, até os próprios pais. Os animais são, por isso, a companhia leal, sempre presente e amiga. Compreendo a tristeza de Byron pela morte prematura do seu cão.
      Muito obrigado por ter lido e comentado o meu post.
      Cumprimentos
      José Eduardo Taveira

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