domingo, 12 de maio de 2019

BEATRIZ COSTA - 'A Brasileira do Chiado dos Anos 30' - (IX)



  BEATRIZ COSTA
(Charneca do Milharado, Portugal, 1907 - Lisboa, 1996)
Actriz de teatro e cinema

 ***
Perto do Teatro da Trindade, em Lisboa, fica o célebre café ‘A Brasileira’ do Chiado.
Nessa altura, uma senhora não frequentava lugares em que os homens permanecessem…

***  
(continuação)

 A BRASILEIRA DO CHIADO DOS ANOS 30!

Carlos Botelho, pintor, de Lisboa! Talento de arrasar… A sua obra vasta e harmoniosa espalha-se por vários continentes.

Carlos Leal frequentava A Brasileira. Sempre impecavelmente vestido. Foi o meu Vasco da Gama! Viu-me no grupo das «humildes» e esticou o dedo indicador: «Esta vai ser artista»… Foi um grande actor popular. Ocupa um dos melhores lugares neste coração!

Raul de Carvalho, actor de voz de veludo. Meu amigo por impulso. É um dos que fazem parte da família que descobri. A sua saúde delicada fez que se afastasse ainda jovem.

José de Lemos. Com um rabisco no Diário Popular faz rir meio mundo. Agora aparece pouco, porque trabalha muito.

Carlos Amaro. Foi autor daquela peça em que apareciam dois jovens que já não têm idade: João Villaret e Maria Lalande – São João Subiu ao Trono! Era um homem inteligente e muito espirituoso. O tempo não deu tempo a que eu o conhecesse melhor. Tive pena…

Afonso Lopes Vieira. Uma das criaturas mais bem educadas deste país em que o «Ó pá» se ouve de duas e duas palavras. Não era frequentador d´A Brasileira, mas aparecia uma vez por outra. Gostava muito de mim, que sempre retribuí esse gostar. Se não fosse o pouco caso que sempre me mereceram as colecções, teria dezenas de cartas e cartões deste homem inesquecível.

Norberto Lopes. Um dos mais brilhantes jornalistas de todos os tempos. A sua prosa inteligente e actualíssima tem absorvido algumas horas da minha vida. Quando fazia críticas de teatro, dava aulas de cultura. Com aquela simplicidade dos «autênticos», podia dar lições de bondade e bom português a muito fanfarrão que escreve Beatriz com «i».

António Lopes Ribeiro. Não foi meu cunhado por um fio! Deve ser dos homens que em Portugal mais sabem de cinema. Poliglota, creio que até fala búlgaro!.. A prova de que tem talento é que, de vez em quando, ouço dizer mal dele…

(continua)


in “Sem Papas na Língua” – Memórias - 1974







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