ABEL NEVES
(Montalegre,
Portugal, 1956)
Poeta, dramaturgo, romancista
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Possuidor de uma vasta obra
literária, escreve desde romances e poesia a textos para cinema e
televisão.
Em 1990, foi coordenador de
Dramaturgia no Estágio de Criação Dramática para jovens Actores e Autores
Europeus no âmbito da Convenção Teatral Europeia.
Nos anos seguintes, foi
professor convidado na Escola Superior de Teatro e Cinema, na Universidade
de Évora e na Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo para
leccionar na área de dramaturgia.
Em 2009, recebeu o prémio
Luso-Brasileiro de Dramaturgia António José da Silva com o texto Jardim
suspenso e em 2014 foi distinguido com o prémio Autores 2014
pelo Melhor Texto Português Representado em 2013, Sabe Deus pintar o Diabo.
Fonte: “Universidade de Coimbra” (excerto)
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QUATRO VEZES SETE VERSOS PARA AQUELA RAPARIGA
Enquanto não
vens nem tu sabes é assim
uma casa que só cheirasse a uvas de Setembro
Este quarto esta sala onde o som contínuo é Out of
Nowhere soprado pelo Charlie Parker
Há calma com vento que vem quente enquanto não vens
e podes ter a certeza que o soalho vai ter aroma de estações
A que menos entenderes para melhor a desejares
Entretenho-me
com uma breve meditação
sobre o perfil de um velho índio apsaroke
e tenho-te rapariga na visão do vale dos bisontes
onde esperas o bafo morno do fim da tarde
ajeitando o lenço na cabeça e sorrindo
entre o voo de alguns insectos
e a recordação destes dedos que te escrevem
Não me leves
a mal se te falo de coisas tão domésticas
mas neste falar assim é que as plantas destes vasos
crescem para o tecto e é lá que está o éden delas
ainda que o vá sendo sempre o ar e
a luz que tomam
cada dia perto muito perto das menores palavras
com que te aviso do paraíso tão à mão
Hoje sinto-me lesma será isto solidez?
e não tenho
sexo nem para as horas
nem lei para
esta coisa suave
que é dançar
na metafísica como astronauta para lá da gravidade
Cá vou indo
menina cá vou indo
e não me
peças versos que os não dou
por os não
saber fazer ou ler ou nada