quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A CASA ONDE ÀS VEZES REGRESSO É TÃO DISTANTE

 
 
 



 
              A casa onde às vezes regresso é tão distante

 

 

A casa onde às vezes regresso é tão distante
da que deixei pela manhã
no mundo
a água tomou o lugar de tudo
reúno baldes, estes vasos guardados
mas chove sem parar há muitos anos

 
Durmo no mar, durmo ao lado do meu pai
uma viagem se deu
entre as mãos e o furor
uma viagem se deu: a noite abate-se fechada
sobre o corpo

 
Tivesse ainda tempo e entregava-te
o coração

 

José Tolentino Mendonça, in “A Que Distância Deixaste o Coração”.
Imagem: quadro do pintor francês Eugène Boudin (1824-1898)

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