sexta-feira, 8 de agosto de 2014

PRÉMIO CAMÕES - 2002

 
 
 
 

Maria Velho da Costa nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 26 de Junho de 1938.
Em 2002, foi galardoada com o Prémio Camões”. Recebeu-o em Lisboa, em Maio do mesmo ano.

O júri do Prémio Camões, que incluiu pela primeira vez representantes dos países africanos de expressão portuguesa, escolheu, por unanimidade, a romancista Maria Velho da Costa, em cuja obra destaca a "inovação no domínio da construção romanesca, no experimentalismo sobre a linguagem e na interrogação do poder fundador da fala".

 
 
Palavras de Maria Velho da Costa:
 
“Camões tem o vitalismo da personagem, coisa de que carece o Pessoa. Podemos chamar, para simplificar, um gosto pela vida, quase reflecte no som, na musicalidade da palavra ou da frase. Tenho sempre Camões ao pé de mim, numa cadeira no quarto."
 
 
Excerto do livro: "Cravo":
 
 
Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o lume.
Elas cortam o pão e aquecem o café.
Elas picam cebolas e descascam batatas.
Elas migam sêmeas e restos de comida azeda.
Elas chamam ainda escuro os homens e os animais e as crianças.
Elas enchem lancheiras e tarros e pastas de escola com latas e buchas e fruta embrulhada num pano limpo.
Elas lavam os lençóis e as camisas que hão-de suar-se outra vez.
Elas esfregam o chão de joelhos com escova de piaçaba e sabão amarelo e correm com os insectos a que não venham adoecer os seus enquanto dormem.
Elas brigam nos mercados e praças por mais barato.
Elas contam centavos.
Elas costuram e enfiam malhas em agulhas de pau com as lãs que hão-de manter no corpo o calor da comida que elas fazem.
Elas vêm com um cântaro de água à cinta e um molho de gravetos na cabeça.
Elas limpam as pias e as tinas e as coelheiras e os currais. Elas acendem o lume.
Elas migam hortaliça.
Elas desencardem o fundo dos tachos.
Elas passajam meias e calças e camisas e outra vez meias.
Elas areiam o fogão com palha-de-aço. (…)            
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 



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