CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(Itabira,
Brasil, 1902 - Rio de Janeiro, 1987)
Poeta
Receita
de Ano Novo
Para você ganhar belíssimo Ano
Novo
cor do arco-íris, ou da cor da
sua paz,
Ano Novo sem comparação com
todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem
sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do
vir-a-ser;
novo até no coração das coisas
menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão
perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se
trabalha,
você não precisa beber
champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem
receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas
mudem
e seja tudo claridade,
recompensa,
justiça entre os homens e as
nações,
liberdade com cheiro e gosto
de pão matinal,
direitos respeitados,
começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de
merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei
que não é fácil,
mas tente, experimente,
consciente.
É dentro de você que o Ano
Novo
cochila e espera desde sempre.
O poeta tem razão! o novo depende do meu interior.
ResponderEliminarExactamente, Lígia. Bom Ano.
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