domingo, 11 de fevereiro de 2018

À MESA DE MADAME RATTAZZI



                             MADAME RATTAZZI 
           (Waterford, Irlanda, 1831 – Paris, França, 1902)
                               Escritora e poetisa 

É conhecida como "La Muse des Alpes". Esteve em Portugal em 1876 e em 1879, onde conviveu com muitas figuras da política e da cultura. Publicou  o livro Le Portugal à vol d'oiseau (1879), que causou muita polémica, na qual estiveram envolvidos, entre outros, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental e Ramalho Ortigão.

***

À mesa de Madame Rattazzi

A postos, que na cozinha
Da princesa literata,
Fervem canjas de galinha,
Folga o purée de batata.

As costeletas felizes
Sobre as grelhas, palpitantes,
Dançam juntas com as perdizes
Uma dança de bacantes.

Os espargos perfilados,
Quais fidalgos do mais finos,
Enquanto a mayonnaise
Canta alegre a «Marselhesa».


O roast-beef mui contente,
Por ter na festa um lugar,
Um hornpipe estridente
Começa a sapatear.

Na cabeceira da mesa
Vê-se, com graça, voltado
Para os lábios da princesa…
Um famoso linguado.

Segue-se a carne cozida
Com arroz sensaborão,
Ensaiando divertida
O hino da Restauração.

Umas iscas, entretanto,
Num prato um pouco rachado,
Tocam guitarra a um canto,
E batem todas o fado.

As empadas com refolhos
Namoram certos guisados,
Aparecem alguns molhos
Sobre belos estufados.

Pulam dentro dos cristais
Cintilantes os bons vinhos,
E dá suspiros e ais
A multidão dos pãezinhos.

O champanhe já nos copos
Faz discursos e maçadas!
Que fadiga!...fervet opus
Té as sodas são chamadas.

Belos cachos de bananas,
Do mais fino e bom sabor,
Fazem brindes – que maganas!
Em honra do imperador.

E, perdida, embriagada,
O seu czarismo olvidando,
Eu vejo, pobre emigrada,
Charlote russe dançando.

Neste jantar festival,
Onde é tudo assim à farta,
Arroz doce, o nacional,
Dá vivas ao rei e à Carta!


Rigoleto

in “O António Maria” – 1870
Imagem: Princeza Rattazi: litografia de Rafael Bordalo Pinheiro.



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