CAMILO PESSANHA
(Coimbra, Portugal, 1867 - Macau, China, 1926)
Poeta
***
Quem Rasgou os Meus
Lençóis de Linho
Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de
linho,
Onde esperei morrer, meus tão castos lençóis?
Do meu jardim exíguo os altos girassóis
Quem foi que os arrancou
e lançou no caminho?
Quem quebrou (que furor cruel e simiesco!)
A mesa de eu cear, d tábua tosca de pinho?
E me espalhou a lenha? E me entornou o vinho?
- Da minha vinha o vinho
acidulado e fresco...
Ó minha pobre mãe!... Não te ergas mais da
cova.
Olha a noite, olha o vento. Em ruína a casa
nova...
Dos meus ossos o lume a
extinguir-se breve.
Não venhas mais ao lar. Não vagabundes mais,
Alma da minha mãe... Não andes mais à neve,
De noite a mendigar às
portas dos casais.
in “Clepsidra”
Imagem: Mural de Camilo
Pessanha, situado no jardim do Consulado de Portugal em Macau, cidade onde o
poeta viveu e morreu. Autor: Alexandre Farto, conhecido como Vhils.
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