ALVES REDOL
(Vila
Franca de Xira, Portugal, 1911 – Lisboa, 1969)
Escritor
***
Editado pelo autor, Glória, uma Aldeia do Ribatejo, é um estudo
etnográfico onde se patenteiam as aptidões ficcionistas de Alves Redol. Neste
estudo se revela o método que marcará toda a sua obra literária: a vivência e o
reconhecimento profundo dos problemas, só atingido com o contacto estreito com
os locais e grupos sociais sobre que se debruça.
Gaibéus surge em 1939. Esta obra, o primeiro romance neo-realista
escrito em Portugal, é dedicada “à memória de Venâncio Alves e João Redol, ao
ferreiro e ao campino”, seus avós. Com este romance inicia Alves Redol o ciclo
de ficção temática ribatejana de camponeses e pescadores da borda-d’água.
Escritor empenhado na luta pela melhoria independente das classes trabalhadoras,
é preso em 12 de Maio de 1944, debaixo de uma última ameaça, que chega a concretizar-se:
nem um lápis nem um papel para escrever, como se quisessem tratá-lo como um
novo Robinson Crusoé no centro de uma sociedade fascizante: exprimir-se, ele,
Alves Redol, traçando os seus pensamentos com as unhas nas paredes das celas.
Maria Emília é a sua primeira obra de teatro. Segue-se Forja em 1948.
É continuamente vigiado pela PIDE, nomeadamente na volta das suas
deslocações ao estrangeiro, por ser um escritor de grande impacto popular e
muito admirado pelos trabalhadores das fábricas e dos campos.
Escritor de importância internacional, traduzido, convive com artistas e
escritores em França, na Polónia, em Espanha. É impedido de participar num
Congresso de Escritores
na América Latina.
Em 1961 publica o que é considerado pela crítica o seu melhor romance: Barranco de Cegos.
Alves Redol pode servir de exemplo na procurada e singular condição
humana de autodidatismo conseguido pela experiência, pela observação, pelo
estudo, pela cultura, pela actividade sócio-política – que sempre procura
transmitir aos outros e depois vaza nos seus livros, dos mais admiráveis na
nossa literatura.
in "Hemeroteca de Lisboa" (excertos)
***
Viajar
Viajar é correr mundo,
voar mais alto que os pássaros
ou pisar o chão da Terra
ou as ondas do Mar Alto...
É ver bichos
de muitas cores e feitios,
montanhas,
rios,
e ribeiros
e pessoas
e lugares...
Conhecer e descobrir,
inventar e duvidar,
sabendo cada vez mais,
sem nunca pensar que basta
o mundo que se conhece.
E alargá-lo com amor
dentro
de nós e dos outros.
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