Barbas proféticas
Quem o viu! e quem o vê ! Dantes metia medo
O seu génio terrível, furibundo.
Matou o D. João … Não foi para o degredo,
Porque se receou, - isto aqui em segredo, -
Que
ele arrasasse o mundo!
Era medonho! A um pobre velho inofensivo,
Que morava no céu, quietinho e mudo,
Não o matou, fez-lhe pior! Deixou-o vivo,
Mas tratou-o depois de algemado e cativo,
Como a um velho deentrudo!
Agora é vê-lo! - Olhos no céu, fronte inspirada,
Com barbas de profeta ou ermitão,
Canta o luar, a flor, a luz da madrugada,
E as aves do céu, ao ouvi-lo, em revoada,
Veem-lhe
comer á mão.
S. Francisco de Assis pregava, antigamente,
Ao irmão lobo e às andorinhas.
Este também. Prega sermões a toda a gente,
E só tem gasto o seu latim inutilmente
Com a maromba das vinhas.
Diz a lenda que, outrora, o diabo se fez frade,
Mas não
logrou esconder o rabo...
…………………
Desta comparação pôde, à sua vontade,
O leitor concluir…Tire a moralidade,
Que eu, cá por mim, acabo.
Cláudio Justo, in “A Farça ”- quinzenário humorístico ilustrado - 1909.
Imagem: pintura de Wolfgang Lettl.
Imagem: pintura de Wolfgang Lettl.
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