FRANCISCO MANUEL DE MELO
(Lisboa, Portugal, 1608 – 1666)
Escritor
***
Cultivou diversos géneros literários, abrangendo a sua obra a poesia, o teatro,
a crítica, a história, a epistolografia e o didactismo social. É um dos grandes
prosadores da língua portuguesa da época barroca.
in “Portugueses Célebres”
***
MAS
ADONDE IREI EU, QUE ESTE NÃO SEJA
Mas adonde irei eu, que este não seja,
Se a causa deste ser levo comigo?
E se eu próprio me perco, e me persigo,
Quem será que me poupe ou que me reja?
Porque me hei-de queixar do Tempo e Inveja,
Se eu a quis mais fiel ou mais amigo?
Fui deixado em si mesmo por castigo:
Triste serei em quanto em mim me veja.
Esta empresa que em mim tanto em vão tomo,
Esta sorte que em mim seu dano ensaia,
Esta dor que minha Alma em mim cativa.
Se a causa deste ser levo comigo?
E se eu próprio me perco, e me persigo,
Quem será que me poupe ou que me reja?
Porque me hei-de queixar do Tempo e Inveja,
Se eu a quis mais fiel ou mais amigo?
Fui deixado em si mesmo por castigo:
Triste serei em quanto em mim me veja.
Esta empresa que em mim tanto em vão tomo,
Esta sorte que em mim seu dano ensaia,
Esta dor que minha Alma em mim cativa.
Vós só podeis mudar. Mas isto como?
Como? - Fazendo que a minha alma saia
De mim, senhora, e dentro de vós viva.
De mim, senhora, e dentro de vós viva.
in "Antologia Poética"
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